Ao ser questionado sobre sua relação pessoal e seu sentimento quanto à situação do bairro Centro, de Maceió, João de Lima, convicto de sua trajetória exitosa – sem rancores mesquinhos ou posicionamentos políticos -, preferiu não prosseguir a entrevista e nos enviou um áudio, no qual expôs o quão extensa foi sua carreira artística, percorrendo os quatro cantos do Brasil, sempre firme com sua alagoanidade. De personalidade forte, munido de indagações com muita propriedade vocabular, esse poeta, cantador, foi longe com sua viola, nos representando em versos e cantorias.
“Para falar sobre o Centro de Maceió, eu não sou um historiador e nem também sou natural de Maceió; eu sou natural de Porto Real do Colégio, interior de Alagoas, aquela região de São Sebastião e Feira Grande. Eu não sei falar sobre Maceió, eu conheço Maceió, gosto muito de Maceió, mas sei falar muito é da minha pessoa.
Em Maceió, eu cheguei com aproximadamente 19 anos de idade, foi quando comecei a cantar, não sabia nem afinar a viola direito, vinha no trem de Porto Real do Colégio, eu e um cantador chamado de Guriatã, de Alagoas.
Aqui em Maceió já tinha a Rádio Difusora de Alagoas, (o padre Humberto Cavalcante, diretor-geral, me fez o primeiro convite para cantar), na rua Pedro Monteiro; a Rádio Gazeta de Alagoas na rua do comércio; a Rádio Progresso, no edifício Ari Pitombo, na praça dos Palmares; a Rádio Educadora Palmares de Alagoas, (o diretor-geral era o padre Fernando Iório), na Catedral, naquele prédio ao lado. E ali me tornei conhecido no estado de Alagoas.
O primeiro jornal que eu apareci foi o Correio de Maceió, que ficava na rua Augusta.
Estou em Maceió, gosto muito de Maceió, graças a Deus, tive muito valor logo quando cheguei aqui em Maceió; ainda hoje tenho, porque o importante não é criar a fama, é segurar a fama. A minha fama é pequena, meu cartaz é pouco, porém nunca caiu, nem cairá, porque Deus não deixa.
Em Maceió, quando eu cheguei, havia muita festa junina na praça da Faculdade. Quando chegava São João com tradições culturais, bandas de forró, Jackson do Pandeiro, Três do Nordeste, era tanto cantor de forró, Mário Reis, Romildo Freitas, Ferreira Júnior, locutores excelentes, como o Álvaro Tojal e Luis Tojal.
Maceió é uma terra boa. Bar do Chopp, em frente à Igreja do Livramento. Ali era encontro de muitos amigos radialistas: Jorge Vilar, Jota Ângelo, o grande cantor, Roberto Beckér.
Eu amo Alagoas, porém não quero viver somente de Alagoas, não. Sou um Patrimônio Vivo de Alagoas, desde o governo do Téo Vilela, 2001, eu fui aprovado Mestre do Patrimônio Vivo. Mestre, porque sou realmente mestre, eu funciono, eu represento Alagoas no Brasil inteiro e até fora do Brasil, não envergonho Alagoas de jeito nenhum.
Meu sonho não era só chegar ao rádio e à TV, mas ficar famoso no Brasil.
Conheço o Rio de Janeiro como conheço Maceió”.
João de Lima fez gravações para o Projeto Minerva, com Sérgio Chapelin. Participou dos programas O Povo na TV, no SBT e Sem Censura, na TV Educativa. Chegou às ondas das rádios Nacional, MEC, Globo, Tupi, Mauá. Foi também ao palco do Sílvio Santos e à poltrona do Jô Soares. Ainda nos anos 1970, começou a construir seus sonhos de cantar em programas de repercussão nacional: “Fui para o trono do Show de Calouros, do Cassino do Chacrinha!”, na TV Globo.
Em 1977, gravou Repentes e Poesia, seu primeiro Long Play. Seguido por Os Vagalumes da Serra.
Ainda criança, obstinado pela vida, foi para São Paulo. “Fugi de casa, da minha casa paterna, tinha 15 anos de idade, e na época se falava muito em colheita de algodão em São Paulo. Fui em um pau de arara. Depois da capital fui de trem para Sorocabana, Presidente Prudente. Fiz muitos amigos, fazendeiros, povo em geral”.
“Mas eu queria me expandir pelas emissoras de fora também. Eu tinha vontade de cantar na televisão. A primeira emissora de televisão que me apresentei foi o programa Porque Hoje é Sábado, apresentado no Teatro do Parque, em Recife, e o apresentador era Fernando Castelão. Jalon Cabral e Haroldo Miranda faziam parte do jurado, e eu fui convidado. Depois fiquei indo para a TV Jornal do Comércio, programa do Jorge Chau, Recife. Aí eu queria gravar um LP, fui para Recife uma vez e todas as gravadoras queriam me contratar, RCA Victor, Chantecler, Continental, terminei gravando pela Eletrônica Musical Internacional, a EMI Odeon.
O mundo todo me aplaudiu, porque viu o presidente João Figueiredo batendo palmas para mim, Roberto Marinho, mais de 200 prefeitos, senadores, ministros, empresários, foi um dia de muita importância em minha vida, em minha carreira.
No Rio de Janeiro mesmo, participei de 15 livros de poesias, pela Shogun Editora e Arte, da doutora Cristina Oiticica, na avenida Barata Ribeiro em Copacabana. Inclusive no livro Anuário de Poetas do Brasil, com 500 páginas, do escritor doutor Aparício Fernandes, era também membro da Academia Internacional de Letras, de Londres, Inglaterra, depois de publicado, recebi uma carta de Londres, dizendo ‘parabenizamos vossa senhoria pelo seu destaque, no livro do escritor brasileiro Aparício Fernandes, pela Editora Carioca, vossa senhoria foi eleito por unanimidade membro correspondente da Internacional Academia de Letras de Londres’.
O importante é a gente fazer um trabalho com perfeição, e eu faço poesia, porque sei fazer poesia, eu conheço o que é uma poesia bem feita, na hora que eu olho para uma poesia. É mesmo que você olhar para uma igreja e saber que é uma igreja, o mesmo que você olhar para um palácio e saber que é um palácio, é o mesmo que olhar para o mar e saber que é o mar ou se é um rio, assim sou eu.
Minhas poesias são dignas de serem cantadas em qualquer ambiente, para crianças, adolescentes, moças e rapazes, velhos e velhas, entendeu? Eu não canto pornografia. Eu não canto nem escrevo pornografia. Querer fazer o povo rir com imoralidade.
Meu pai era fazendeiro, não tinha essa agonia de registrar menino assim que nascia, ia registrar o menino já grande, 3 anos, 4 anos, 5 anos, 10 anos, por sinal esse nome ‘de Lima’, que eu tenho, é um apelido, o nome dele era para ser Damásio Crisóstomo Machado, eu sou da família Crisóstomo Machado, com uma grande mistura com Calixto de São Paulo, aqui mesmo de Maceió, do Paraná, do Juazeiro do Norte, é cheio de Calixto, Calixto Machado, Crisóstomo Machado, tudo parente meu. E perguntam então por que você é ‘de Lima’? Foi uma apelido do papai. Eu fui registrado na cidade de Porto Real do Colégio, batizado no município de Traipu, eu sou documentalmente João Pereira Lima, que mamãe era Pereira”.
Nascido em 10 de maio de 1943, filho de Damásio Correia de Lima e Ernestina Pereira de Lima.
“Gravei até um filme com participação de Tony Ramos. Cheguei a fazer um doublé do Nei Latorraca na série chamada de Rabo de Saia gravada em Angra dos Reis.
Eu tenho bagagem, tenho que contar a minha história. Felizes os olhos que me enxergam, porque nunca deixarão de brilhar.
Pertenço a dezenas de instituições culturais, em Goiás, Rio de Janeiro, Recife, Brasília, Rio Grande do Sul, Paraná.
Sou conhecido pelo Brasil afora”.
Repentista
“Escrevo com tinta branca
Tinta azul, vermelha e preta
Com máquina de escrever,
E também com a caneta
É grande meu conteúdo
Se eu for colocar tudo
Só cabe numa carreta”
João de Lima, de Alagoas