Engraxate há 54 anos, o sr. José Orino de Gonzaga, 68 anos de idade, deixa “no grau” os sapatos de juízes, promotores, advogados, desembargadores, do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJAL), que foram e são ainda seus principais clientes, além de moradores e transeuntes do Centro de Maceió.
Ele veio com a família de Murici ainda menino. Ainda com alguns familiares por lá, não voltou mais ao município. Desde os 14 anos de idade, trabalha na mesma profissão e mantém a mesma rotina até hoje.
Popularmente conhecido como “Bananola”, “Boca de Prata”, “Boca Rica” e “Negão”, sr. Orino assistiu à evolução do bairro do Centro, desde meados do século XX até os dias atuais, sobretudo no entorno da praça Deodoro, seu local de trabalho. “Sabe o que matou o comércio? os shoppings”, disse ele, na sua observação cotidiana.
Lembra que o Centro era um bairro residencial, onde “moravam promotores, juízes, advogados” e que, logo depois, foram aparecendo as lojas. “Naqueles tempos, tinha mais movimento por aqui. Ali, naquela esquina, era o Chinelão, do seu Valdecir. Ele morava na rua Formosa, fazia shows para o pessoal, dava presentes”, contou.
Viúvo no ano passado, após 50 anos de casamento, teve três filhos. Hoje, já aposentado, se nega deixar de trabalhar, “para não ficar parado”. Vai à praça Deodoro todos os dias, fazer o que sempre fez, trabalhar e conversar com os amigos. Os filhos ganharam o mundo.
Uma filha mora na Espanha. Ela insiste que ele vá para a Europa. “Minha filha, viaje em paz. Você, seu marido e seus meninos. Deixe o negão aqui”. Orgulhoso, complementa: “Meu neto, que mora na Espanha, é gesseiro, ganha seu dinheiro. Se tivesse aqui, já era”.
Lamenta a perda de um dos filhos. “Era engraxate também, arrumei tudo para ele, mas não quis nada com a vida. Deixou a mulher e arrumou uma pior do que ele. Um colega dele foi quem tirou a vida dele. Fazer o quê? Essa meninada de hoje não quer nada com a vida, não”, relata, com tristeza.
Conheceu o Rás Gonguila, carnavalesco, também engraxate. Lembra dos carnavais de outrora, sobretudo, o da praça Moleque Namorador. Mas se diz um homem pacato que, por toda vida, teve o cotidiano de casa para o trabalho e do trabalho para casa.
“Nessa profissão, ganhei muito dinheiro, hoje tiro de trinta a cinquenta reais por dia. Tem dia que ganho um pouco mais, um pouco menos. Quando comecei, tinha mais sapatos de couro. Aí, depois veio o tênis, sapato de camurça. Aí, vai matando o engraxate. Além de novos produtos nos supermercados”, explicou sr. Orino.
É botafoguense de coração, desde criança. Uma estrela solitária a expandir felicidade a partir do exemplo de ser humano com decência e dignidade, cumprindo seu dever de engraxate na praça pública.
Uma resposta
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