O Governo de Alagoas decretou luto oficial de três dias pela morte do cineasta alagoano, Cacá Diegues, ocorrida na madrugada desta sexta-feira (14), aos 84 anos. O falecimento adveio de complicações cirúrgicas no Rio de Janeiro. O velório será no sábado (15), a partir das 11h, na Academia Brasileira de Letras (ABL). O corpo será cremado à tarde no Cemitério do Caju, na Zona Portuária da capital fluminense.
Um dos fundadores do Cinema Novo e nome emblemático da cinematografia nacional, Carlos José Fontes Diegues nasceu em Maceió, no dia 19 de maio de 1940. Ainda criança se mudou para o Rio de Janeiro onde cresceu e se consolidou como um dos cineastas mais influentes do país. Ao lado de Glauber Rocha, Leon Hirszman, Paulo César Saraceni e outros nomes, foi um dos responsáveis por dar outra abordagem ao cinema brasileiro.
Ao longo de sua carreira, Diegues dirigiu mais de 20 longa-metragens, entre eles, “Xica da Silva” (1976), “Bye Bye Brasil” (1980), “Tieta do Agreste” (1995) e “Deus é Brasileiro” (2003). Sua obra sempre refletiu a cultura, as contradições e a riqueza do Brasil, sendo reconhecida dentro e fora do país. Seu último filme, “Deus Ainda é Brasileiro”, foi gravado inteiramente em Alagoas, com apoio do Governo do Estado. A película tem estreia prevista para outubro de 2025.
Influência
O cineasta alagoano Cacá Diegues se encantou pelo cinema na época em que morava em Maceió. Ele lembra que devia ter por volta de cinco anos quando entrou, pela primeira vez, em uma sala de exibição.
“Toda aquela luz a iluminar um estranho ritual de sombras me paralisou diante da tela do cinema, não consegui mais me mexer. E devo ter me aproximado mais um pouco da tela, porque minha companhia adulta me segurou pelo braço e, para impedir que eu fizesse qualquer gesto inesperado e indesejável, me disse baixinho que eu não pusesse a mão ali, pois, se isso acontecesse, ela ficaria ali presa para sempre. Foi o que realmente aconteceu comigo, pelo resto da vida”, relembrou.
Cinema e Literatura
Membro da ABL, eleito em 30 de agosto de 2018, o cineasta levou para as telas duas grandes obras de literatura brasileira. A primeira delas foi “Tieta do Agreste”, baseada no romance homônimo de Jorge Amado. Mais de duas décadas depois, Diegues voltaria a se valer da literatura para lançar “O Grande Circo Místico” (2018), baseado no poema homônimo do também alagoano, Jorge de Lima.
“A única adaptação literária que eu fiz [até então] foi ‘Tieta’, justamente porque Jorge Amado me convidou para fazer o filme. E quem sou eu para recusar um convite de Jorge Amado? Mas é muito difícil você pegar 700 páginas de um romance – como tem o ‘Tieta’ – e transformar num roteiro de 100, 120 páginas. Eu acho que ‘Tieta’ se manteve fiel, não necessariamente à narração do romance, mas ao espírito de Jorge Amado. Acho que ‘Tieta’ é um filme amadiano, e isso já me satisfaz”, explicou.
Ele diria que adaptar um poema – no caso de “O Grande Circo Místico” – muito mais fácil. “Embora o poema seja longo – deve ter o quê? 30 versos. Trinta versos você transforma num roteiro de cem páginas. Aí você tem que esticar, é muito mais fácil”, contou.
Apesar dos longas, Diegues acreditava que havia livros tão bons que ficariam difíceis de serem adaptados. “Nunca ninguém conseguiu adaptar [Marcel] Proust direito. Não existe um filme proustiano, porque ele é muito literário. Existe um filme baseado em [James] Joyce [“Bloom”, produção irlandesa de 2003, dirigida por Sean Walsh e baseada em “Ulisses”] que é péssimo, por exemplo. É muito difícil”, justificou.
*Com informações da Agência Alagoas
Uma resposta
Que triste! O Brasil perdeu o seu maior cineasta! Vai com Deus Cacá…