Nascido em Lagoa da Canoa, agreste alagoano, em 22 de junho de 1936, Hermeto Pascoal, o albino brasileiro mais conhecido no mundo, com sua barba e cabelão galego crespos, olhos estrábicos bem abertos e seus óculos fundo de garrafa, faz música desde menino. Aos sete anos de idade, começou a tocar sanfona de sete baixos e flautas rudimentares feitas por ele mesmo.
Ao longo de toda a carreira, a criatividade de Hermeto tem se mostrado inesgotável. Desde o grunhido do porco ao alvoroço das galinhas, vale tudo: chaleira, panela, ferro, madeira. Mas ele virou estrela internacional como multi-instrumentista: saxofone, bateria, piano, escaleta, flauta, violão, contrabaixo, bombardino, sanfona, que toca magistralmente.
Em maio passado, aos 87 anos, Hermeto Pascoal recebeu o título doutor honoris causa, a mais alta condecoração da escola de ensino superior, Juilliard School. Esse maestro alagoano já ganhou inúmeros prêmios e reconhecimento internacional. A cerimônia foi no Lincoln Center, em Nova York. Quem entregou o título a Hermeto foi o também músico Winton Marsalie, o trompetista norte-americano de Miles Davis – lendário nome da história do jazz, que definiu Hermeto como o “crazy albino” (louco albino).
No início dos anos 1970, Hermeto passou três anos nos Estados Unidos, a convite de Airto Moreira, que incluiu em um de seus discos a Galho de Roseira, música com arranjo de Hermeto. Segundo a crítica inglesa, a melhor música do ano, fato que impulsionou o seu reconhecimento artístico no exterior. Em Nova Iorque, ao se apresentar em um show, Miles estava na plateia. Ele gostou tanto do que viu e ouviu que convidou Hermeto para participar de um concerto em Washington. O resultado deste concerto foi o disco “Live Evil”, que traz duas composições de Hermeto, “Capelinha” (Little Church) e “Nem Um Talvez”.
Hermeto – com som agudo no segundo e: “Herméto” – sempre foi fascinado pelos sons da natureza desde pequeno. A partir de um cano de mamona de jerimum (abóbora), fazia um pífano e ficava tocando para os passarinhos. Ao ir para a lagoa, passava horas tocando com a água. O que sobrava de material do seu avô ferreiro, ele pendurava num varal e tirava sons.
Em 1950, aos 14 anos, estreou com o irmão José Neto na Rádio Tamandaré do Recife, em Pernambuco. Pouco depois de uma frustrada tentativa de se criar o trio “O mundo pegando fogo”, que contaria com a participação de Hermeto, de seu irmão e de Sivuca, os irmãos se transferiram para a Rádio Jornal do Commércio. Em 1961, mudou-se para São Paulo, indo trabalhar como pianista da Boate Chicote. Em 1966, passou a integrar o Quarteto Novo, juntamente com Theo de Barros, Airto Moreira e Heraldo do Monte.
Nesse período, ficou fora de uma excursão pelo Nordeste com Geraldo Vandré, Trio Marayá e Trio Novo. Em 1967, teve sua primeira composição gravada, “O ovo”, no LP Quarteto Novo, lançado pela Odeon, primeiro e único disco do grupo. No mesmo ano, o Quarteto Novo acompanhou Marília Medalha e Edu Lobo na interpretação de “Ponteio”, composição de Edu Lobo e Capinam, vencedora do III Festival de MPB da TV Record, em São Paulo.
Em 2017, ele recebeu o título de doutor honoris causa pela New England Conservatory, em Boston, nos Estados Unidos. Em 2019, o músico alagoano foi o vencedor do Grammy Latino na categoria “Melhor Álbum de Música de Raízes em Língua Portuguesa”.
“Hermeto Pascoal é albino, baixinho, gordinho e quase cego. Em compensação é gênio. E gênio com G maiúsculo por duas razões. Primeiro porque ele – só ele – é capaz de inventar os sons mais originais do mundo para recriar a música. E depois porque ele administra esses sons com extrema sutileza, elegância e precisão. Ou seja, Hermeto é o maestro de si mesmo, um homem-orquestra. O bruxo das Alagoas faz tudo. Ou seja, compõe músicas e toca todos os instrumentos.”
Definiu Ricardo Cravo Albin, no “Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira”no endereço eletrônico https://dicionariompb.com.br/artista/hermeto-pascoal/
Em seu disco Calendário do Som (2000), chegou ao requinte de criar uma composição diferente para cada feriado e dia de santo. Ele já tinha criado uma canção para o Dia de São Antônio, no disco “Zambumbê-bum-á”, de 1979, lançado pelo selo americano Warner Bros.
“Vem uma pessoa e diz
Amanhã tem acompanhamento
Que santo? É Santo Antônio!
E sai todo mundo
De chapéu na cabeça
Com o Santo Antônio na caixa
E aquela meninada atrás
E sai de casa em casa…
Esmola pra Santo Antônio
Esmola pra Santo Antônio
Ajudar você
Pode dar ovos, pinto, abóbora, o que tiver
Quando é a festa?
É dia 13, dia de Santo Antônio
Ô de casa
Ô de casa
Esmolinha pra Santo Antônio
Santo Antônio casamenteiro”