sexta-feira, 25 de abril de 2025 – 09h34

‘O Navegar de Nise’: obra homenageia psiquiatra alagoana em mural gigante

Comemorando os 120 anos de Nise da Silveira, arte destaca o impacto da arte na saúde mental
Foto: Divulgação/PrefeituraDeSãoPaulo

Em meio às comemorações aos 120 anos da psiquiatra alagoana Nise da Silveira, a artista mato-grossense, radicada em Alagoas, Ursa Nath, apresenta a obra “O Navegar de Nise”. Um mural grandioso, pintado na fachada lateral de um prédio de 20 andares, com 66 metros de altura, na Avenida Duque de Caxias, no centro da cidade de São Paulo.

O trabalho teve a parceria da produtora de iniciativa sociocultural Parede Viva e de uma equipe de quatro artistas: Iskor, Losstianny, Ana Carla Pereira (Negana) e beacorradi. O projeto foi realizado com recursos financeiros do Projeto MAR – Museu de Arte de Rua, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. 

A obra retrata Nise da Silveira cercada por elementos inspirados na expressão artística dos pacientes, do Museu do Inconsciente, criado por ela. “Tive a ideia depois de ter visitado a exposição no Sesc Belenzinho de São Paulo. Já havia conhecido sua trajetória antes, mas depois de ter visto a exposição, tive mais vontade de homenageá-la, porque consegui me conectar mais a sua trajetória”, ressaltou Ursa Nath, 

Foto: Divulgação/@tu_nasaltura

Gente curada demais é chata. Todo mundo tem um pouco de loucura

Essa frase marcante, da psiquiatra alagoana, que é pioneira na revolução antimanicomial, sobressalta-se na imensa parede em uma reflexão sobre a forma como a sociedade marginaliza pessoas com transtornos mentais e dependências químicas. “É esperado que as pessoas entendam que não existe pessoa perfeita, que todos temos algum grau de distúrbio mental/emocional que se manifesta em determinado tempo em nossas vidas”, afirmou a artista.

“A sua visão sobre utilizar outros meios para além de lobotomia e terapias de choque, para trabalhar na saúde mental dos pacientes é o que mais me inspira. Na arte, podemos ver uma escultura, uma mandala e navios, que são elementos presentes na criação visual ou imaginativa de seus pacientes. O fato de ela ter resistido e se formado numa turma de 157 alunos de medicina, na qual ela era a única mulher, também é inspirador”, exaltou Ursa.

Um mural de 66 metros

O desafio de grafitar um mural de 66 metros, em 12 dias, não foi uma tarefa fácil. Ursa enfrentou o medo de altura, o calor intenso, ventos fortes e chuvas torrenciais da tempestade que assolou São Paulo em janeiro, mês em que foi efetivado o trabalho. Em um dos momentos mais críticos, a equipe foi surpreendida pela forte chuva no andaime suspenso, levou 15 minutos até o resgate, enquanto raios caíam nas proximidades. “Foi apavorante, mas felizmente tudo correu bem”, recordou a artista.

“Os assistentes já haviam tido muita experiência com pintura em altura, foram muito solícitos em me ensinar algumas técnicas. O que mais me marcou foi criarmos o grid com quadrados de 2m x 2m, numerando as fileiras de cima a baixo, para depois, com uma foto aérea deste grid, sobrepor as linhas da arte numa montagem e a partir daí, começar a marcação dela no prédio”, reavivou Ursa: “Foi uma experiência emocionante”.

Sobre a artista

Formada em Design, Ursa Nath é ilustradora e artista visual, seu trabalho é influenciado pelo graffiti, pelas artes visuais e pelo design, com  temas que abordam questões sociais, ambientais e culturais da América Latina. Desde 2011, quando começou no graffiti em Alagoas, participou de diversas exposições. A premiada artista recebeu menção honrosa da ONU Brasil e o “Prêmio Mulheres Resistência nas Artes” da Câmara Municipal de Recife. Recentemente foi homenageada com o Prêmio Selma Bandeira na categoria Artes Visuais.

Ursa acredita no graffiti como uma ferramenta de transformação social. “A arte transforma a cidade, integrando-se com suas cores, formas, mensagens, gerando reflexões e modificando positivamente o emocional de quem passa por ela”, ressalta a artista.

Nise, uma mulher à frente de seu tempo

Nise da Silveira foi uma psiquiatra revolucionária que lutou contra tratamentos desumanos para doenças mentais, como a lobotomia e a terapia de choque. Defensora das políticas antimanicomiais, incentivou a criação de ateliês terapêuticos, onde pacientes podiam se expressar por meio da arte. Seu trabalho influenciou profundamente a psiquiatria no Brasil e no mundo, reforçando a importância do tratamento humanizado na saúde mental. Se estivesse viva, Nise da Silveira estaria completando 120 anos neste ano.

FICHA TÉCNICA

Coordenação Parede Viva
Comunicação – Equipe Parede Viva
Produção Parede Viva: @mara.mbhali
Audio-visual: @tu_nasaltura
Produção Executiva: @beamansano
Produção de Campo: @mansano.f

MURAL
Artista: @ursamaiorrr
Artistas Assistentes: @negana.pereira @monstronaloss_ @beacorradi @fe.iskor
Execução e reparos: @trabalhosnorapel_ @monstronaloss @_teor @antony.capuzo @calorcarol @namarrasoul

O projeto foi realizado com recursos financeiros do Projeto MAR – Museu de Arte de Rua – Edital no 08/2024/SMC/CPROG – Secretaria Municipal de Cultura – SP

Com informações da Ascom/Secult-AL

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