Presidente da Aliança Comercial de Maceió e empresária do Centro da cidade, Andreia Geraldo conversou com o Notícias do Centro sobre as principais demandas do bairro, a relação com o poder público estadual e municipal e a importância comercial, histórica e cultural da região: “Maceió não vive só de praia”
Notícias do Centro – A Aliança Comercial identificou alguma benfeitoria na revitalização do Centro a partir da ordem de serviço assinada pelo prefeito de Maceió em 29 de setembro de 2021?
Andreia Geraldo – Não. A Aliança Comercial vem lutando. Um pleito nosso junto à prefeitura de Maceió é que ela cuide deste Centro. Esta ordem de serviço foi advinda de um recurso federal através do deputado Ronaldo Lessa. A prefeitura perdeu este recurso. Era uma obra que traria um grande benefício. Um recurso de aproximadamente cinco milhões de reais. Um momento em que a gente precisava muito fazer a requalificação do Centro. Há cerca de 20 anos tivemos uma grande reforma. A prefeitura, de fato, perdeu este recurso. Isto prejudicou muito as empresas. Passaram praticamente um ano e meio com o problema naquela rua onde as obras foram iniciadas, e o recurso voltou. As empresas amargaram, muitas delas, a falência. Depois de muitas entrevistas e da presença da imprensa, a prefeitura conseguiu concluir o trecho com recurso próprio, porém as empresas já haviam cancelado os seus CNPJs.
NC – Houve uma perda substancial pelo fato de as obras não terem sido concluídas em tempo hábil?
Andreia Geraldo – Exatamente. Foi construída uma perspectiva positiva. Essa ordem de serviço foi assinada aqui no Centro. Era um sonho. A gente vinha trabalhando nesse projeto arquitetônico há aproximadamente dois anos. O recurso inclusive estava na prefeitura, na secretaria de finanças e, por algum motivo, por falta de gestão, de uma atenção especial, ele voltou totalmente. Perdemos o recurso. Além de não termos a realização da obra, tivemos muitos transtornos com isso. A Aliança Comercial não é oposição a nenhum gestor público, pelo contrário, é o trabalho da Aliança Comercial acompanhar e cobrar que as políticas públicas sejam exercidas. A gente continua pedindo que a prefeitura tenha esse olhar para o Centro da cidade e entenda que o Centro de Maceió também faz parte da cidade, da gestão municipal, e que ela cuide com a atenção porque o Centro de fato precisa.
NC – Alguma obra foi executada?
Andreia Geraldo – A atual gestão municipal não executou nenhuma obra que venha beneficiar o Centro da cidade de Maceió. Absolutamente nenhuma obra. Esse é o nosso pleito, que ela tenha esse olhar. Passamos por um momento muito difícil com a pandemia.Tivemos que nos adequar. As empresas estão precisando muito desse olhar da prefeitura, que cuide da infraestrutura, da iluminação. Muitas empresas estão ‘doentes’. Salvamos vidas, mas tivemos de fechar as empresas, de nos adequar aos protocolos sanitários da época. E alguns problemas do ponto de vista financeiro das empresas vêm se arrastando.
NC – Como os comerciantes e prestadores de serviço têm buscado se restabelecer economicamente após o período de pandemia da Covid-19?
Andreia Geraldo – O Centro da cidade de Maceió é caracterizado pela venda presencial. Existe esta grande tradição ainda muito forte. As empresas se estruturaram, investiram em reformas, em refrigeração, para atender presencialmente as pessoas.Fomos todos pegos de surpresa e tivemos de nos reinventar, de buscar as vendas on-line. Algumas empresas tiveram mais facilidade de se adaptar a esse momento, outras não conseguiram, a gente entende. Realmente, a questão digital foi muito importante. Foi imprescindível buscar se capacitar, construir as plataformas digitais para que pudessem realmente realizar os negócios.
NC – Quais os impactos para o comércio de Maceió da lei estadual n° 8.779, de 20 de dezembro de 2022, que aumenta a alíquota de ICMS de 17% para 19% em produtos gerais e de 25% para 27% nas bebidas alcoólicas?
Andreia Geraldo -Os impactos foram muito negativos. Inclusive, a Aliança Comercial foi bastante objetiva no momento. A gente não concordou com esse aumento, porque não seria apenas para o comércio, seria o aumento do custo de vida para a sociedade. Porque as empresas são repassadoras de impostos, quem paga os impostos é a sociedade. Os produtos teriam de ficar mais caros. Inclusive, fomos pessoalmente, levamos uma comissão até a Assembleia Legislativa para pedir que não fosse votado, porque a gente sabia que isso teria um impacto muito negativo. O problema não seria só das empresas, seria também da sociedade, que pagaria a mais pelos produtos. Então, de fato, o aumento prejudica muito o comércio.
NC – O aumento dos impostos já começou a ser sentido pelos comerciantes do Centro de Maceió?
Andreia Geraldo – Já sim. Na realidade, quem percebe mais ainda o aumento são os nossos consumidores. Num momento como esse, que a gente não tem como aumentar o valor dos produtos, a gente necessita aumentar devido aos encargos. Nós somos esses repassadores de impostos. E realmente os produtos ficaram mais caros.
NC – A Aliança Comercial representa mais de quatro mil empresas atuantes no Centro de Maceió. Qual o papel da entidade frente aos seus associados?
Andreia Geraldo – A Aliança Comercial é esta entidade representativa, é uma entidade secular. A gente existe há mais de cem anos. A gente vem buscar alternativas para os associados, e não associados também, porque a Aliança Comercial trabalha para o comércio. Estamos juntos nesse pleito, principalmente junto ao Poder Público, para que as políticas públicas aconteçam, tanto de infraestrutura, como de cultura, acessibilidade, a gente precisa muito de acessibilidade, a questão do trânsito as pessoas realmente reclamam. Então, a gente vem trabalhando, sempre oferecendo aos associados as melhores sugestões, dicas. A gente está realmente junto, discutindo, buscando as melhores saídas, para que a gente possa se manter aqui, se manter bem e poder garantir os empregos.
NC – De que modo o Trade de Turismo do município de Maceió tem estabelecido relações com a entidade?
Andreia Geraldo – Esse também é um pleito que a Aliança Comercial tem junto ao gestor público municipal. O Centro da cidade é um centro histórico, ele é tombado, a maior concentração de prédios históricos do nosso estado se encontra aqui, no Centro da cidade de Maceió. Historicamente, o Centro da cidade já foi um local onde realmente a gente via e sentia a presença de muitos turistas, mas a gente vê que o poder público não tem fomentado esse negócio, um negócio muito importante. A gente tem o mercado de artesanato, temos a Catedral, o Teatro Deodoro, as igrejas mais antigas do nosso estado, a cidade começou aqui. É também um pleito da Aliança Comercial que a gente possa ter parada de ônibus de turismo, para que os turistas possam visitar o Centro e fotografar esse centro histórico que a gente tanto se orgulha.
NC – Na sua avaliação, qual impacto que a presença de turista nacional e internacional poderia trazer para a geração de emprego e renda para o comércio?
Andreia Geraldo – O Centro da cidade depende de fluxo. Tudo acontece se a gente tiver pessoas aqui. Por isso, a gente quer que sempre o Centro esteja pronto para receber, tanto com infraestrutura, como lazer, entretenimento. O turismo no Centro é uma coisa muito importante, porque é também a visão, a imagem da cidade sendo levada para outros estados. Então, assim, tudo o que a gente puder agregar para que as pessoas possam vir aqui. É isso que a gente luta, que o Centro seja também um cartão-postal da nossa cidade, porque Maceió não pode viver só de praia. A gente tem um Centro bonito, histórico. O turista, aqui, no Centro, com certeza, incrementaria muito mais, deixaria recurso para as empresas, para que a gente possa se manter aqui, possa continuar empregando, inclusive contratar mais pessoas.
NC – Quais áreas necessitam de maior investimento do poder público no Centro de Maceió?
Andreia Geraldo – O poder público, principalmente, o poder público municipal, ele precisa investir urgentemente na parte de infraestrutura e acessibilidade. A gente não quer que o Centro da cidade apareça em sites como sendo um local onde as pessoas caem, um lugar onde a Samu vem pegar pessoas que caem; pelo contrário, a gente quer que o Centro seja uma referência do comércio, que é um Centro ainda pujante. A gente percebe que as grandes lojas de departamento nacionais, as maiores em dimensão, se encontram aqui no Centro da cidade. E muitas dessas lojas, inclusive, o faturamento delas aqui no Centro da cidade consegue ser maior do que as mesmas lojas na soma total dos três shoppings juntos. Então, o Centro é um centro pujante. Ele precisa realmente desse cuidado. A infraestrutura é imprescindível e também, uma coisa que a gente sente, é a questão do trânsito, a mobilidade urbana. A mobilidade urbana precisa urgente dessa atenção especial. O que a gente busca com isso é trazer para o Centro a infraestrutura, a acessibilidade, a mobilidade, também lazer e entretenimento para as pessoas, porque a gente quer que o Centro não seja apenas uma referência de compras, mas também de lazer, entretenimento e cultura.
NC – E a segurança como está aqui no Centro de Maceió?
Andreia Geraldo – Existe um relacionamento histórico da Aliança Comercial junto à Polícia Militar do Estado de Alagoas. Independente dos comandos, porque a gente sabe que a polícia militar é também uma questão política, sempre estão mudando os comandantes, mas, assim, sempre em datas comemorativas, a gente vai pessoalmente e pede. Agora, com a proximidade do Dia dos Namorados, fomos ao CPC [Comando de Policiamento da Capital], falamos diretamente com o subcomandante e também com o comandante do 1º Batalhão. Eles se colocaram à disposição e entenderam a necessidade de aumento do efetivo. A gente tem aumento do efetivo em datas comemorativas, porque a gente entende que a segurança é um dos mais importantes sentimentos que as pessoas têm de ter, mas, para isso, ela precisa ser construída. Então, vai ter um número maior de efetivo sempre em datas comemorativas, Dia das Mães, Dia dos Namorados, no Natal também. Na semana que vem, que é a semana dos namorados, a gente vai ter um policiamento de motos através da Rocam [Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas]. É isso que a gente quer oferecer para que as pessoas possam vir ao Centro da cidade, realizar os seus negócios com segurança.
NC – O Dia dos Namorados é a terceira maior data comemorativa em termos de venda no comércio de Maceió. Quais as previsões de negócios em 2023?
Andreia Geraldo – A perspectiva é positiva sim. O comerciante tem isso, esse sentimento inato de acreditar, esse entusiasmo, que vem a partir das pessoas. A data do Dia dos Namorados é a data do amor. Então, a gente se preparou com produtos, vitrines. A gente está aguardando. Desde o dia primeiro, a gente já vem recebendo aqueles clientes apaixonados, que vem aqui à procura de comprar um presente para, no dia 12, deixar o seu amor, seu companheiro, sua companheira, feliz. A gente tem uma perspectiva positiva. A gente acredita que passe mais de 10% em relação ao mesmo período do ano passado.
NC – Como presidente da Aliança Comercial e empresária atuante no bairro do Centro, a senhora avalia a importância deste local para a cadeia produtiva do estado de Alagoas?
Andreia Geraldo – É no setor do comércio que está 77% da empregabilidade do nosso estado. Se a gente sabe que 77% está no setor do comércio e que o emprego, os postos de trabalho, é uma coisa muito importante para o estado, o Centro é muito importante por isso, e porque aqui é onde está o maior número de empregos. A gente acredita que tem ainda mais capacidade de contribuir para que o índice de desemprego saia desse patamar. O Centro da cidade é importante pela geração de emprego e pela geração de tributos. É aqui onde estão as maiores empresas, onde existe a maior arrecadação. Ele é importante porque é arrecadador de taxas de localização. A gente gera receita para tanto para o poder público estadual como para o poder público municipal. A gente gostaria desse entendimento, desse olhar especial, por a gente ter esses números tão grandiosos de empresas aqui. São mais de quatro mil empresas, entre serviços e comércio, são mais de 25 mil postos de trabalho, esse é um local importante para o nosso município e o nosso estado.
NC – A senhora gostaria de fazer mais alguma colocação?
Andreia Geraldo – O que a gente pede é que haja realmente a sensibilização do poder público, de entender que as empresas vêm passando por um momento de reestruturação pós-pandemia. Tivemos de passar três meses com o comércio fechado, porque nós entendíamos, sim, que era um momento de preservar as vidas, de cuidar das vidas, que é o nosso bem maior. O comércio vem passando por algumas dificuldades. A gente agora está cuidando da ‘saúde’ das nossas empresas, porque não está sendo fácil do batente para dentro das portas. Então, a luta é muito grande para manter os nossos funcionários, muitos deles são praticamente da família, muitos anos que já trabalham nas empresas. A gente queria o entendimento que o poder público cuidasse do que é público da melhor forma possível, que exercesse o seu papel da melhor forma possível. Para que a gente pudesse manter os postos de trabalho, as nossas empresas abertas, e o Centro de Maceió ser um centro de referência no nosso estado e no nosso país. É isso que a gente busca, que a gente quer, que os alagoanos se orgulhem do Centro, que as pessoas de outros estados, de outros países, se encantem com este Centro que é tão amado por todos nós.
Uma resposta
O centro de Maceió faz parte da história de muitos alagoanos. Precisamos resgatar o gosto e o prazer de passear pelo centro. Acredito que no centro podemos encontrar preço mais acessível a todas classes. Ainda temos muitas familias residentes no centro. Fica o apelo.