O presidente da Academia Alagoana de Letras, Alberto Rostand Lanverly, nos recebeu na Casa Jorge de Lima, atual sede da AAL, para uma conversa amigável e frutífera. Numa entrevista de mais de uma hora, ele nos falou da história da Academia, de seus projetos, de como chegou à presidência, da importância dos membros-sócios na sua gestão e da pujança pela qual passou a Academia nos últimos anos.
Bem-humorado, solícito e perspicaz, esse professor universitário e escritor de 16 obras publicadas, que “para tudo tem de contar uma história”, é um imortal das Letras, há seis anos presidente da instituição – dois deles na continuação do mandato do presidente anterior e quatro em mandato próprio -, e nos contou, com sua leveza peculiar, a pergunta que fez, quando criança, a um membro da AAL, residente próximo à sua casa: “O que é imortal?”, e recebeu, como resposta, que ser imortal é “não ter onde cair morto”. Rostand Lanverly tem os braços de familiares, amigos, colegas e alunos queridos para se apoiar e “cair” sempre que precisar.
Notícias do Centro – A despeito das mudanças pelas quais passou o século XX, o que do espírito literário de seus fundadores a Academia Alagoana de Letras mantém e que revela a sua perenidade?
Rostand Lanverly – A Academia foi fundada em 1919. O objetivo dela, à época, era levar a cultura e a literatura ao alagoano. Ao longo de 104 anos, o nosso objetivo tem sido levar a literatura através de projetos os mais variados, de palestras. Agora mesmo, nós estamos firmando um convênio com a secretaria de ressocialização do estado para levarmos livros, sabedores que há uma lei a qual preconiza que o preso que ler um livro terá três dias de diminuição de sua pena. Nós vamos levar livros e fazer palestras para eles. Ver se incentiva, se não todos, pelo menos 1% ou 2%. Já é uma forma de levar a cultura, a literatura. Já é uma ação célere, de forma direta da Academia Alagoana de Letras, forjada na chama acesa de 1919.
NC – Quais critérios intelectuais e literários vigoram hoje nas eleições de novos candidatos às cadeiras da Academia?
Rostand Lanverly – A Academia Alagoana de Letras possui estatutos rígidos. Então, para você ser candidato, você tem de ser alagoano, ou naturalizado brasileiro e residente em Alagoas há mais de dez anos. Eu, por exemplo, nasci no Rio Grande do Norte, mas só nasci lá, porque toda a minha vida foi aqui. Meu pai era juiz e veio pra cá. Sou alagoano de fato e de direito, não de nascença, mas tenho título de cidadania maceioense e alagoana. Então, tem de ser alagoano, ter certidão de bons antecedentes, ter livros publicados, não somente romances, poesias. Pode ter livros científicos. Por exemplo, a Eliana Cavalcanti, quando ela entrou, toda a área dela escrita era a do balé, hoje ela tem outros livros, como de poesia. O critério é este, tem de ter livros publicados, não artigos em jornal, mas livros.
NC – Que projetos a Academia desenvolve neste ano de 2023?
Rostand Lanverly – O maior projeto que a academia desenvolveu este ano foi fomentado no final do ano passado, que é o Ano Jorge de Lima. Jorge de Lima é o príncipe dos poetas, talvez o maior poeta, hoje, brasileiro, aplaudido, respeitado. Ele é alagoano, foi embora daqui em 1930 e fez o nome dele maioral no sudeste do país, no Rio de Janeiro. Como nós moramos na casa dele, resolvemos celebrar o Ano Jorge de Lima. Para a nossa alegria, quando, em janeiro, nós lançamos essa ideia, imediatamente um dos nossos sócios, o Carlito Lima, que tem um bloco de carnaval, botou o estandarte “Bloco Nêga Fulô”, que se refere a uma das poesias mais interessantes de Jorge de Lima. Essa ideia começou a chegar à folia do povo, com Jorge de Lima no carnaval. Era nossa pretensão ter eventos até setembro, eventos mensais.
NC – Continuaram os eventos?
Rostand Lanverly – Em março, nós trouxemos, hoje, talvez, o maior estudioso de Jorge de Lima, que é Claufe Rodrigues, carioca, que vai filmar, pela primeira vez, o romance de Jorge de Lima “Calunga”. A palestra dele foi “Quem tem medo de Jorge de Lima?”, enfocando não ter medo da pessoa de Jorge de Lima, porque Jorge de Lima poeta é Jorge de Lima poeta, mas o Jorge de Lima romancista não é somente criterioso, mas fabuloso. No mês seguinte, nós tivemos o Leandro Rodrigues, talvez o maior pesquisador das cartas que Jorge de Lima trocou. Em 1924, ainda, aqui, em Maceió, ele começou a escrever para pessoas, como Alceu Amoroso Lima, e mandava trechos de seus escritos. Esse trabalho de compilação é muito interessante. Com o Leandro, nós conseguimos trazer uma neta de Jorge de Lima. Quando eu digo que conseguimos, porque a Academia tem boa vontade, mas tem de ter apoio. No primeiro momento, com Claufe Rodrigues, nós firmamos uma parceria com a Assembleia Legislativa; no segundo momento, com a Uneal. E, no terceiro evento, nós tivemos os alagoanos Niraldo, professor da Ufal , muito estudioso, a professora Gilda Brandão Vilela, e o Milton Rosendo, com doutorado em Jorge de Lima. Mas em todo o canto, começou a ter palestra sobre Jorge de Lima. Então, nós demos um tempo.
NC – Haverá eventos em agosto?
Rostand Lanverly – Agora, em agosto, na Bienal, conseguimos trazer três membros da Academia Brasileira de Letras: Marco Lucchesi, Antônio Torres e Cacá Diegues. Teremos uma grande e fabulosa mesa-redonda da Academia Alagoana de Letras, sobre Jorge de Lima, na Bienal. E, vamos encerrar, em outubro, com a participação da maior estudiosa de Jorge de Lima, talvez, hoje, de “Poemas Negros”, que é a Vera Romariz.
NC – Algum projeto virtual?
Rostand Lanverly – Outro grande projeto nosso é o “Cadeira 41’” A Academia Alagoana de Letras tem 40 cadeiras, como todas as que seguem a diretriz da brasileira e da francesa, que é “academia mãe”, mas existem vários alagoanos que deveriam ter participado da Academia Alagoana, como também da brasileira, mas que, por motivos mais variados, que a gente não sabe quais são, talvez por falta de interesse, por ter concorrido e perdido, por não ter tido coragem, enfim, não integram a instituição. Então, nós criamos uma cadeira simbólica, a 41, e escolhemos 24 nomes, que vão representar, talvez mil, dois mil, três mil outros que poderiam estar aqui conosco, que a Academia poderia estar muito bem satisfeita com essas personalidades. Nós temos também três projetos, já em andamento, mas que não dependem só da gente, dependem de emendas parlamentares municipais. Um projeto é um documentário sobre Jorge de Lima; o outro, um documentário sobre as crianças do futuro; e o terceiro, sobre Eça de Queiroz, em convênio com a Academia Portuguesa de Letras. Eles já vieram aqui, nós já fomos lá, eles escrevem no nosso livro, nós escrevemos no livro deles. São projetos que serão divulgados, mas vai depender de uma verba que deve estar saindo. Mas o objetivo da Academia é pensar a literatura e levar para à comunidade, esse é o objetivo primeiro.
NC – Além da portuguesa, a Academia Alagoana de Letras estabelece trocas literárias e culturais com outras academias, brasileiras e estrangeiras?
Rostand Lanverly – Sim, nós estamos abertos. Hoje, nós temos um canal no YouTube, um blog diário na Gazeta de Alagoas, com mais de três mil acessos, que não é exclusivo dos sócios, é para grandes literatos, como Roberto Sarmento, Maurício de Macedo, Luciane Figueiredo, colaboradores que têm responsabilidade pelo que escrevem. Além do canal do YouTube, a nossa página da Academia, para levar todas as nossas notícias, alimentada cotidianamente. Temos vínculos com a academia pernambucana, a paraibana, a potiguar, a cearense, a mato-grossense, a Academia Brasileira de Letras, a academia de Portugal, ou seja, mantemos um diálogo permanente com todas essas academias, que tem sido solidificado nos últimos cinco anos. Conheci, dias antes do início da pandemia, três portugueses, sócios da academia de Portugal, com quem, até hoje, mantenho contato permanente. Ajustamos os contratos, combinamos uma reunião. Assim, firmamos a parceria e, em maio de 2022, teve uma grande assembleia, com a presença de alguns alagoanos, lá em Portugal. Depois, vieram a Maceió, fizeram palestras; enfim, ficaram apaixonados por Alagoas. Em novembro último, fomos para a celebração do aniversário de Eça de Queiroz, que é o patrono da academia.
NC – Qual tipo de relação a Academia procura manter com a sociedade alagoana de modo geral e com a população que frequenta o bairro do Centro de Maceió especificamente?
Rostand Lanverly – O grande problema do Centro da cidade, e que hoje nós vivemos esse problema seríssimo, é que nós temos uma sede no coração do Centro, que é na praça Deodoro, e não temos estrutura para manter uma segurança. Quando, por exemplo, no ano passado, fizemos uma reforma, com dinheiro muito apertado, apareceu um pessoal e disse: “Olha, nós somos a milícia daqui. Ou você paga três mil reais por mês ou não vai ter como manter esse material da reforma”. Lá tinha manta, tinha telha, tinha luz. Então, foi um gasto a mais, e eu fiquei sabendo que tudo aquilo é mantido por esse pessoal. Vamos voltar para a praça Sinimbu. No ano passado, eram seis horas da manhã, recebi uma ligação, falando que os seguranças estavam roubando a estátua do Jorge de Lima. A polícia chegou, pegou duas pessoas, mas não prenderam, pois disseram que estavam só olhando. Eu liguei para a secretária da prefeitura e disse que iriam roubar a estátua, e que não iria “pegar bem”. Ela veio, às 9h, estava aqui com o doutor Alfredo Gazzaneo, puseram a estátua num caminhão. Às 10h, o prefeito se fez presente, exigindo que a estátua estivesse de volta no mesmo dia. Se fez então uma grande operação, de modo que, às 21h, eles reforçaram a base, cavaram e chumbaram. Mas, o que quero dizer, é o seguinte: nesse mesmo momento mostrei para ele, como tinha mostrado ao prefeito anterior, que era o Rui Palmeira, que nós temos uma guarita, e ali tem um primeiro andar, onde há uma cozinha, um banheiro e um quarto. Então, eu disse que iria oficializar que a Academia estava cedendo, para ser um posto avançado da guarda municipal, para ajudar na segurança de toda a praça. Nunca tivemos resposta. Nem do Rui Palmeira, nem do JHC [João Henrique Caldas]. Então, para termos uma política urbanística, é preciso a presença dos governos. Em nível de Centro, teria que ter uma política. O Instituto Histórico, se lá não tiver segurança, eles levam tudo.
NC – Com todas essas dificuldades, como é estabelecer uma relação com a sociedade e com as pessoas que frequentam o Centro?
Rostand Lanverly – Qualquer evento que haja no Centro da cidade, à noite, você tem que ter precauções próprias, privadas, porque você não tem o apoio do poder público. Já estamos para finalizar as obras na casa da praça Deodoro, mas isso sempre preocupa, como fazer com a comunidade de Academia, com idade avançada, 80 anos, 85 anos, mesmo com a rampa, não temos onde estacionar os carros. Temos que cercar o prédio de segurança, ir ao edifício Breda, ao Teatro Deodoro, fica difícil, vamos parar aonde? Na Santa Casa, tudo escuro por ali, termina tendo de pagar 30 reais, 40 reais. Mas não é uma característica apenas de Maceió. Fui recentemente a São Paulo, em visita ao Museu da Língua Portuguesa, que fica em frente à Cracolândia, aqui não tem Cracolândia. Se nós tivéssemos um terço da política pública que tem ali na orla, um quinto dela, já teríamos melhor qualidade de convívio. Nós estamos vivendo um momento, que estamos chegando à sociedade pela internet. Hoje não tem, eu lhe asseguro, refletindo uma pesquisa que vi, em que, entre os entrevistados, em um shopping da cidade, quando perguntado qual seria a primeira pessoa do plural, numa média de 15 pessoas, três delas disseram “nós”, doze, disseram “eu”. A pessoa pode não saber qual é a primeira pessoa do plural, mas, se ela é uma pessoa esclarecida, sabe o que é Academia Alagoana de Letras, que a gente vive divulgando. Eu sou um instrumento, daqui a um ou dois anos, eu paro, mas a academia tem de continuar. Para divulgar, hoje estamos até no Tic-Toc.
NC – Qual a receptividade da Academia em relação à linguagem popular manifesta na literatura de tradição oral, como a Literatura de Cordel?
Rostand Lanverly – A Literatura de Cordel está até em nosso planejamento, mas, este ano, temos os 120 anos de Arthur Ramos. Em agosto, Mês do Folclore, teremos a Carmem Lúcia Dantas, que é uma estudiosíssima do folclore, e teremos mesa-redonda com três acadêmicos da Academia Brasileira de Letras sobre Jorge de Lima. Mas o Cordel é uma linguagem viva, assim como o gibi. Em fevereiro, tivemos um debate sobre linguagem neutra, um debate muito interessante. A linguagem neutra na visão jurídica, ministrada pelo Marcos Melo, e a linguagem neutra na visão gramatical, talvez pelo maior estudioso de gramática, hoje, em Alagoas, que é o professor Roberto Sarmento, da UFAL. Foi um excelente debate.
NC – De que maneira o senhor classifica, como escritor, esse conceito ideológico frente às expressões do pensamento e às tradições consagradas da gramática normativa?
Rostand Lanverly – Eu acho muito complexo, porque não tem como você mudar. Aqui, nós temos ligação com todos os partidos políticos. Então, não é porque o “todes” é defendido por um segmento, uma minoria ou uma maioria da sociedade brasileira, que a gente vai tomar partido favorável ou contra. O que ficou explícito aqui é que a Língua Portuguesa do jeito que é hoje, ela já é neutra. Você tem língua para esses “todos” e “todes”, mas não se pode mudar o que se tem. Na linguagem jurídica, também foi defendido, apesar de já haver segmentos jurídicos de que não se mude. A ABL nem se pronunciou ainda. Nem levou em consideração. Não tem como mudar. Agora, com o decorrer do tempo, muita gente pode se adaptar, mas existe um vocabulário pronto de linguagem neutra, por exemplo, você vai falar o Latim, é outra língua que não é a nossa, não é? Tudo que você coloca de baixo para cima é meio complexo.
NC – O senhor avaliaria de forma positiva a retomada da publicação, em capítulos, de obras literárias na mídia impressa – física e/ou digital – a exemplo do que acontecia até parte do século XX e do qual as telenovelas de rádio e televisão são herdeiras?
Rostand Lanverly – Especificamente, sobre o folhetim, eu não queria nem polarizar porque seria uma coisa voltada para o folhetim. Mas tudo que eu lhe ofereço, inclusive o meu artigo desta semana, que vai ser veiculado na Gazeta de Alagoas, é sobre isso justamente. De repente, as frases que mais marcaram meu coração, eu li em lápides de cemitério. Tem uma, quando você entra no cemitério da Piedade, que diz assim: “eu sou você amanhã”. Eu escrevi sobre isso. Aí, você chega em Cervantes, em Dom Quixote de la Mancha, que era um sonhador, foi um grande homem que não tinha objetivo de vida, ele não arrefecia em seus objetivos, até andava atrás de uma amada virtual, lutava contra moinhos. Quer dizer, tudo que você leva para a comunidade, dá a opção de ler, de traquinar o juízo, é fundamental. Você pega o Pequeno Príncipe, é um gibi, hoje em dia. Essa conversa que estou tendo com você é porque eu li. Independente do formato, o importante é fazer com que a literatura chegue. Com os meus netos, por exemplo, nunca contei Histórias da Carochinha. Eu sempre contei aos meus netos histórias que inventava para eles e que eles eram os atores principais. Em determinado momento, transformei essas histórias em livros.
NC – Com o advento das novas tecnologias, a língua portuguesa passou por transformações e adaptações principalmente na sua modalidade escrita. Como o senhor examina o processo de letramento com a interferência dos recursos digitais?
Rostand Lanverly – Complexo. Por exemplo, a não ser com muita pressa, no Whatsapp, eu boto “tb”, “vc”, “qq”, se não escrevo “também”, “você”, “qualquer”. Mas o negócio banalizou. É um texto que aglomera tudo, resume tudo, você não sabe mais o que é. Se o avô da gente voltasse, ele teria muita dificuldade. Não acho correto, acho que você deve escrever, até porque você tem que se acostumar a escrever corretamente. Escrever errado é problemático. Sempre quando escrevo textos mais oficiosos, procuro alguém para revisar. Na internet, o que mais encontramos são erros.
NC – Como autor de várias obras, de que forma o senhor vê a interferência do que se convencionou chamar “politicamente correto” quanto à liberdade de expressão na criação literária?
Rostand Lanverly – Para escrever, tem de ter inspiração. Então, a coisa mais equivocada, na minha concepção, é se inspirar em outros escritores, está errado. Você tem que ter conteúdo suficiente para olhar a frase “eu sou você amanhã” e desenvolver um texto. Cada um tem o seu modo. Eu procuro ter o meu modo, de uma linguagem simples. Sou um leitor de tudo. Eu não tenho fanatismo. Aqui, na Academia, por exemplo, nós temos o Carlos Méro; se você ler o Carlos Méro, você sabe que o texto é do Carlos Méro. Uma pessoa que lê o meu texto sabe como é o meu texto. Mas, quando se parte para o extremismo, é um absurdo. A exemplo de Monteiro Lobato e a pessoa da dona Benta, que é literatura brasileira. Aí vão querer tirar também Walt Disney dos Estados Unidos? Cada um com sua grandeza, talvez o nosso seja até maior.
NC – Como foi para o senhor estar à frente da Academia Alagoana de Letras especialmente no ano do seu centenário?
Rostand Lanverly – Eu sempre fui professor de colégio. Quando eu me formei, bem novo, com 22 anos de idade, eu me formei e fui estudar no Canadá. Quando eu estava fazendo mestrado no Canadá, eu tinha um grande amigo aqui, que era o Carlos Gama, pai da Verinha Gama, que foi meu professor e eu fui monitor dele, eu me correspondia com ele. Ele me disse que ia ter concurso na nossa área. Eu estava fazendo Planejamento Urbano lá. Tinha acabado o mestrado, começado as matérias do ooutorado. “Por que você não se inscreve”, ele disse. O Carlos Gama foi uma chave para mim. Eu falei com a minha família e me inscrevi. Houve o concurso, muita gente concorrendo, mas eu passei. E fui ser professor da Universidade Federal de Alagoas. Com 24 anos, eu fui ser igual aos meus professores. Eles eram primeiros entre iguais, como eu sou primeiro entre iguais aqui. Nós somos iguais aqui, hoje eu sou o presidente. Para mim, já era o apogeu. Mas eu nunca deixei na minha vida de escrever, nunca! Eu escrevo semanalmente na imprensa há 30 anos. Se eu adoecer, eu tenho seis meses de texto pronto, porque eu tenho textos atemporais. Eu comecei a ter incentivo de sair do casulo, porque, na universidade, você fica preso, você está ali dentro, ninguém sabe quem é você. Eu comecei a me mexer. Entrei no Instituto Histórico e Geográfico. Depois, havia uma vaga aqui, eu vim e me inscrevi. Eu me inscrevi por me inscrever, eram 10 concorrentes. Eu fui eleito. Para mim, era o apogeu estar, aqui, na Academia Alagoana de Letras. O presidente era o Carlos Méro. E a Solange Lages teve uns problemas e não quis mais ser vice-presidente. O Carlos Méro me perguntou se eu queria ser. O Carlinhos teve um AVC. Quando eu me vi, eu era o presidente da Academia Alagoana de Letras. Mas sempre consciente de que tudo o que eu faria aqui só faria com eles. Não era mais ser apenas sócio. Eu tinha de levar, com eles, a Academia aos cantos, e a gente está conseguindo. Você não pode dizer, de hipótese alguma, que o Rostand é o responsável. Eu sou o que eles me dão força. O centenário dela foi uma festa fabulosa. Temos um vídeo, que está no YouTube. Trouxemos o presidente da Academia Brasileira de Letras, o Marcos Lucchesi, que fez um super discurso. Fizemos no auditório do Instituto Histórico e Geográfico.
NC – E a gestão da Academia Alagoana de Letras?
Rostand Lanverly – Essa Casa estava penhorada para pagar dívidas. Como eu iria conseguir, à época, R$ 100 mil, se eu não tenho ainda hoje? Parcelamos a dívida. Com a anuência de todos, instituímos mensalidade, que hoje é de R$ 200. A gente vive disso, é o dinheiro que a gente recebe. A última parcela da dívida a gente paga agora em agosto. Com isso, a gente já teve certidão negativa, cinco emendas parlamentares. Com o recurso das emendas, a gente reformou quase totalmente a casa da Deodoro. Estamos procurando outra emenda para fazer a biblioteca aqui atrás. Eu costumo dizer que hoje as coisas estão ficando muito difíceis, porque o grande concorrente da minha pessoa se chama Rostand. Até o ano passado, a gente conseguiu pintar a Academia; então, hoje, eu não posso deixar ela mofar novamente.
NC – Em entrevistas, o senhor revela que desenvolveu o gosto pela escrita mediante, também, a elaboração de cartas. Recentemente foi lançado o livro “Jorge de Lima e Alceu Amoroso Lima: Correspondência”. Existe a possibilidade de o senhor escrever um romance epistolar ou mesmo publicar essas missivas pessoais?
Rostand Lanverly – Eu fui interno no Colégio Marista. Meu pai era juiz de direito e tinha de morar no interior. Então, eu era interno, eu sempre escrevia as minhas cartinhas. Nas férias, eu ia para casa dos meus avós maternos, no Rio Grande do Norte, e escrevia as minhas cartinhas. Eu sempre escrevia cartas e diários. Quando morei no Canadá, eu escrevia diariamente. Escrevia para minha namorada, depois me casei com ela. Eu escrevia diariamente para a Ana. Mas tudo começou quando eu tinha oito anos de idade. Eu tirei uma nota baixa no Marista, em Português. Meus pais foram lá. O meu castigo foi escrever diariamente uma redação de 40 linhas até conseguir recuperar a nota. Para eu ter o tema da redação, eu tinha de ler. Eu comecei a desenvolver e fui para as cartas. Tenho muitas cartas guardadas. Para publicar um livro tem de estar parado, focado nisso. Eu escrevi agora, vai ser publicado no próximo livro da Academia, o texto “De onde vim?” Não é quem sou eu. Quem sou eu, você diz, ele diz, a internet diz. De onde veio “Lanverly”? Por onde passou? Eu consegui chegar até a décima sétima geração. Eu escrevo diariamente. Não tem um dia que eu não escreva, duas horas, três horas por dia.
Uma resposta
Caro Rostand! Li seu maravilhoso texto e fiquei pasma ao ver o quanto você luta para manter a AAL. Fiquei triste ao saber que você quer deixar a presidência daqui uns dois anos! Por favor, fique com a gente! Você é muito novo! A AAL irá precisar de você por, pelo menos, ainda uns 15 anos. Abraços