Conhecido como o “coração aquático do Brasil”, por abrigar nascentes de oito das doze grandes regiões hidrográficas do país, o Cerrado enfrenta uma crise hídrica alarmante. De acordo com uma análise inédita do projeto “Cerrado – O Elo Sagrado das Águas do Brasil”, da Ambiental Media, o bioma tem perdido o equivalente a 30 piscinas olímpicas de água por minuto.
Baseada em dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do MapBiomas, a pesquisa evidencia que a perda de vegetação nativa diminui a capacidade de infiltração da água no solo, comprometendo a recarga de aquíferos e, consequentemente, a vazão dos rios em períodos de estiagem. O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil.
Outro estudo, realizado em 2022, previu uma perda de 34% do volume de água do Cerrado até 2050. Destes, 56% poderiam ser atribuídos ao desmatamento e à mudança de uso do solo, e 44%, às mudanças climáticas. O bioma ainda concentra 53% de toda a perda de vegetação nativa do Brasil no ano.
A grande fronteira agrícola nacional, o Matopiba – acrônimo formado pelas iniciais dos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia -, concentra 82% de todo o desmatamento da região, em 2024. A área responde por cerca de 10% da produção brasileira de grãos e fibras, principalmente soja, milho e algodão.
Bacia do São Francisco
A perda hídrica impacta particularmente a Bacia do Rio São Francisco entre as seis bacias analisadas: Araguaia, Paraná, Parnaíba, São Francisco, Taquari e Tocantins. O São Francisco apresenta 50% de redução drástica da vazão mínima de segurança (Q90), isto é, menor vazão de água permitida em um curso d’água para garantir a saúde do ecossistema e evitar danos ambientais.
O Velho Chico registrou, ainda,uma queda de 28% na pluviosidade, ou seja, na quantidade de chuva que cai em um determinado local durante um período de tempo específico. A evapotranspiração potencial – o processo pelo qual a água é transferida da superfície da Terra para a atmosfera em forma de vapor – aumentou em 11%.
Além disso, o Rio das Velhas, em Minas Gerais, um dos afluentes mais importantes do São Francisco, apresentou 50,8% de amostras com excesso de poluentes, entre 2019 e 2024. O próprio Rio São Francisco teve 38,1% de amostras fora dos limites, considerados aceitáveis.
*Com informações da Assessoria de Comunicação do CBHSF
