Que o livro emprestado entre amigos “vai e não volta” já é máxima sabida por muitos. Que a leitura é fundamental não há o que se discutir. O acesso ao livro se torna premente e exige iniciativas que levem a ele. Foi o que aconteceu, na década de 1930, em Maceió. Os jovens escritores do semanário Novidade fundaram a “Liga contra o Empréstimo de Livros” a partir da preocupação com questões socioculturais da cidade.
Sem sede, estatuto ou diretoria, a Liga promoveu a Grande Feira de Livros, “para vendagem popular e absolutamente acessível a todos”, na praça Dom Pedro II, no Centro de Maceió. Com abertura em 1º de maio de 1932, o evento teve a proeza de vender cerca de 1.500 volumes, que tinham sido doados, nos dois dias de realização. Em abril, o grupo havia publicado uma nota oficial no Jornal de Alagoas na qual expressava a vontade de construir um abrigo para menores abandonados a partir da venda de livros.
Sabidos da importância de “despertar o interesse da comunidade alagoana pelas coisas do espírito”, a Liga foi fundada, em fevereiro de 1932, por Alberto Passos Guimarães, Carlos Paurílio, Luiz Ramalho de Azevedo, Manoel Diegues Júnior, Raul Lima e Valdemar Cavalcanti, poucos meses depois da publicação do último número de Novidade, que ocorreu em setembro 1931. No mês de fevereiro ainda, já contava com a participação de Hebel Quintela, José Lins do Rego, Mendonça Braga e Théo Brandão.
Em março, algumas mulheres se associaram à Liga. Fizeram parte dela Elsa Ferraz, Enaura Melo, Flora Ferraz, Ligia Menezes e Lourdes Caldas. Aderiram ao grupo Abelardo Duarte, Aurélio Buarque de Holanda, Durval Cortês, Joaquim Ramalho, Mário Marroquim, Moacir Pereira, Rui Palmeira e Santa Rosa Júnior. Com artigo publicado no Jornal de Alagoas, em março de 1932, que tratava, em tom jocoso, de “Os dez mandamentos contra o empréstimo de livros e suas explicações”, Valdemar Cavalcanti explicava os princípios do grupo. Alberto Passos Guimarães complementou com “Um Programa de Ação”, no mesmo diário.
Em agosto, as preocupações culturais permaneciam. O grupo promoveu a “Festa da Arte Moderna”, no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL). Na programação, Lourdes Caldas, pianista, aluna de Arminda Villa-Lobos, segunda esposa de Heitor Villa-Lobos, tocou peças de compositores modernos. Manuel Diegues Júnior proferiu palestras sobre música moderna e Santa Rosa Júnior expôs pinturas e desenhos de sua lavra. Nas fontes pesquisadas, não é dito quando a Liga acabou, ou se ela atingiu os seus propósitos.
Os livros continuam de todos, de cada um e de ninguém e se vão quando emprestados a amigos e conhecidos. “Meus livros são teus livros, nessa rubra capa com que os vestiste, e que entrelaça um desespero aberto ao sol de outubro à aérea flor das letras, ritmo e graça”, dedicava Carlos Drummond de Andrade, em A um morto na Índia, ao pintor Santa Rosa Júnior, anos depois da “Liga contra o Empréstimo de Livros”, em agradecimento à ilustração na capa de seu livro.
Ou na ocasião em que o poeta Aloísio Branco, também da Novidade – porque já havia partido para o Rio de Janeiro não participou da Liga, o que certamente o faria -, publicou o artigo “Ladrão de Livros” para José Lins do Rêgo, pois este havia cortado relações com ele devido às suas visitas inoportunas, a qualquer hora do dia ou da noite, à biblioteca do escritor paraibano. Após o artigo, recebeu de Lins do Rêgo os mais sinceros elogios e o pedido de reconciliação. Ou quando o mesmo Aloísio, amante inveterado da literatura, doou a José Américo os livros de autoria de Amado Nervo, que Carlos Paurílio o havia emprestado.
Fontes:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-24112009-160650/publico/IEDA_LEBENSZTAYN.pdf





























