quinta-feira, 24 de abril de 2025 – 20h41

Um coqueiro amigo é símbolo da cidade

No olhar do repórter fotográfico Roberto Stuckert, Gogó da Ema e Farol da Ponta Verde num belo alvorecer maceioense

No sítio do Chico Zu, na praia da Ponta Verde, tornando-a mais bela, vivia um coqueiro sem igual. “Meu lindo Gogó da Ema,  encerras um lindo poema, que a natureza escreveu. Tu namoras estas praias, vestidas com as brancas saias, que a Ponta Verde coseu. Alguém te chama aleijão, só por não ter perfeição, a tua espinha dorsal, mas se tu fosses perfeito, não terias tal conceito, no concerto universal”. Os versos de Eugênio Calheiros mostram bem a paixão da população por esse coqueiro que se transformou em ícone da cidade, símbolo da bela Maceió.

Não se sabe quantos anos viveu o Gogó da Ema. Sabe-se que tombou, pela primeira vez, em 27 de julho de 1955, às 14h20, arrastado por uma ressaca do mar, diante do suspiro de tristeza dos muitos curiosos, mesmo com todo esforço de uma força-tarefa, sob comando do coronel Mário Lima, cooperação do capitão Benedito Sampaio e do comandante do Corpo de Bombeiros, tenente Alcides Barros, auxílio dos engenheiros da Comissão de Estrada de Rodagem, da Prefeitura de Maceió e do Departamento de Obras Públicas.

Tudo se tentou, mas, aos poucos, lentamente, como um idoso cansado que busca o repouso, tombou sobre a areia da praia. Foram dias de agonia. O coqueiro chegou a ser erguido pela força-tarefa e só caiu definitivamente em 22 de janeiro de 1956, quando foi declarado morto.

Segundo o historiador maceioense José Bilú, o coqueiro foi plantado por Dona Constância Araújo e ganhou seus contornos famosos devido a uma praga de insetos, que se instalou em seu tronco. A partir de 1948, já uma notoriedade da cidade, foi construída uma praça com quatro banquinhos em seu entorno, momento em que se tornou, definitivamente, atração turística e ponto de encontro do povo das Alagoas.

Fábio Lins Lessa, professor universitário e advogado, escreveu, em janeiro de 2015, que “a queda do Gogó da Ema está para Alagoas assim como a das Sete Quedas está para o Brasil”. Hoje, certamente, não usaria a morte das cachoeiras das Sete Quedas na comparação, mas, sim, aqui mesmo, em solo maceioense, o caso da Braskem e de toda tristeza que mineradoras promoveram neste território.

Registro histórico da torre de extração de petróleo, instalada na década de 1930, na praia de Ponta Verde, ao lado do Gogó da Ema  Foto: Arquivo MISA

Em 1930, foram perfurados vários poços de petróleo bem perto ao local onde o coqueiro havia sido plantado. O jornal Gazeta de Alagoas, na reportagem intitulada “Os assassinos do Gogó da Ema”, já alertava para o risco. A matéria deduzia que a interferência no manejo da terra, para a retirada de petróleo, afetaria suas raízes, enfraquecendo-as. Anos depois, numa forte ressaca, o mar avançou e, com a força das ondas, em um momento de profunda tristeza, derrubou a já enfraquecida palmácea.

Sua relevância vai além do contexto histórico, da composição poética da paisagem, ou até mesmo do exotismo de seu formato, que o tornou símbolo da cidade. Sua importância está na memória afetiva dos cidadãos maceioenses, nas histórias contadas por aqueles que ali viveram momentos inesquecíveis. E por ser, sobretudo, um coqueiro amigo.

Fontes:

https://culturaeviagem.wordpress.com/2015/01/31/gogo-da-ema-a-historia-de-um-dos-maiores-simbolos-da-alagoaneidade/. Acesso em: 05 de junho de 2023.

https://www.gazetaweb.com/noticias/maceio/tradicao-queda-do-gogo-da-ema-completa-65-anos/. Acesso em: 05 de junho de 2023.

https://082noticias.com/2021/07/30/o-gogo-da-ema/. Acesso em: 05 de junho de 2023.

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