Cícero Romão Batista, nasceu em Crato, Ceará, no dia 24 de março de 1844. Foi um sacerdote católico brasileiro, até hoje o mais popular no Nordeste brasileiro. Conhecido como Padre Cícero ou Padim Ciço, obteve grande prestígio e influência sobre a vida social, política e religiosa na região. Faleceu no dia 20 de julho de 1934, há exatos 90 anos, em Juazeiro do Norte, cidade que adotou, onde tornou-se o capelão da Capela de Nossa Senhora das Dores, principal destino dos fiés romeiros nordestinos até os dias de hoje.
Em março de 2001, em votação promovida pela TV Verdes Mares (TV Globo), foi escolhido “O Cearense do Século”. Em julho de 2012, um dos “100 maiores brasileiros de todos os tempos” em concurso realizado pelo SBT, com parceria da BBC. Declarado “servo de Deus”, em junho de 2022, pela Santa Sé, quando foi autorizada a abertura do seu processo de beatificação. Em 10 de outubro de 2023, seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
Proprietário de terras, de gado e de diversos imóveis, Cícero fazia parte da sociedade e da política conservadora do sertão do Cariri. Aos 12 anos, fez voto de castidade, influenciado pela leitura da vida de São Francisco de Sales e foi ordenado padre no dia 30 de novembro de 1870. No Natal de 1871, foi convidado, pela primeira vez, para o povoado de Juazeiro onde celebrou a tradicional missa do galo.
O padre visitante, aos 28 anos, estatura baixa, pele branca, cabelos louros, olhos azuis e voz modulada, impressionou os habitantes do lugar. Em abril de 1872, voltou ao povoado, com bagagem e família, para fixar residência definitiva. Muitos afirmam que devido a uma visão que teve, após um dia exaustivo, na sala de aulas da escolinha, onde improvisaram seu alojamento, que mudaria seu destino.
Viu, conforme relato de amigos, Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, e repente, adentra ao local uma multidão carregando seus parcos pertences, em pequenas trouxas. Cristo, dirigiu-se aos famintos, falou de sua decepção com a humanidade, que estaria disposto a fazer um último sacrifício para salvar a humanidade, mas se os homens não se arrependessem depressa, acabaria com tudo de uma só vez. Naquele momento, Jesus indicou os pobres e voltou-se inesperadamente, e ordenou: – E você, Padre Cícero, tome conta deles!
Incansável em suas atividades pastorais, pregava o evangelho, aconselhava, dava confissões e visitava a comunidade. Logo conquistou a simpatia do povo, liderando a comunidade e moralizando os costumes “de pecado”, como os excessos de bebedeira e a prostituição. Recrutou mulheres solteiras e viúvas, organizando e exercendo sua autoridade sobre uma irmandade leiga, formada por beatas, que o ajudava nas atividades pastorais.
Naquele pequeno aglomerado de casas de taipa, com uma capelinha em honra a Nossa Senhora das Dores, padroeira do lugar, logo melhorou o aspecto da capelinha, com as esmolas dadas pelos fiéis, o povoado, então, aos passos de crescimento, atraiu gente da vizinhança curiosa por conhecer o novo capelão.
Alegado milagre
Em 1.º de março de 1889, a hóstia ministrada pelo sacerdote à religiosa Maria de Araújo se transformou em sangue na boca da religiosa, e tal fenômeno se repetiu diversas vezes durante cerca de dois anos. Logo espalhou-se a notícia de que um milagre havia acontecido em Juazeiro. A pedido de padre Cícero a diocese formou uma comissão de padres e profissionais da área da saúde para investigar o milagre. Em outubro de 1891, a comissão encerrou as pesquisas, concluindo que não havia explicação natural para os fatos ocorridos, e que teria sido portanto um milagre. Uma segunda comissão concluiu que não houve milagre, mas sim um embuste.
No dia 31 de maio de 2006, Dom Fernando conduziu uma comitiva de religiosos, políticos e fiéis, e também enviou ao Vaticano a documentação técnica para a abertura do processo de reabilitação do padre Cícero. Em 13 de dezembro de 2015, Padre Cícero recebeu perdão da Igreja Católica.
Foi filiado ao extinto Partido Republicano Conservador (PRC) e consequentemente o primeiro prefeito de Juazeiro do Norte, em 1911, quando o povoado foi elevado a cidade. Em 1926 foi eleito deputado federal, mas não assumiu o cargo. Voltando ao poder em 1914, quando Franco Rabelo foi deposto no evento que ficou conhecido como Sedição de Juazeiro. Ainda foi eleito vice-governador do Ceará. No final dos anos 1920, começou a perder a sua força política, que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestígio como santo milagreiro, porém, aumentaria cada vez mais.
Apesar de relacionarem ao comunismo e, com a Teologia da Libertação, Cícero Romão era profundamente anticomunista e, apegado à doutrina católica, justificou sua posição. Em entrevista concedida em 1931, Padim Ciço afirmou: “O comunismo foi fundado pelo Demônio. Lucífer é o seu nome e a disseminação de sua doutrina é a guerra do diabo contra Deus. Conheço o comunismo e sei que é diabólico. É a continuação da guerra dos anjos maus contra o Criador e seus filhos”.
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, devoto de padre Cícero, respeitava as suas crenças e conselhos. Encontraram-se apenas uma vez, em Juazeiro do Norte, em 1926. Época em que a Coluna Prestes percorria o interior do Brasil desafiando o Governo Federal. Ao chegarem em Juazeiro, Lampião e os 49 cangaceiros que o acompanhavam, ouviram do padre o aconselho para abandonar o cangaço. Mas Lampião exigia receber a patente que lhe fora prometida, assim, o único funcionário público federal no município, escreveu em uma folha de papel.
Morreu em Juazeiro do Norte em 20 de julho de 1934, aos 90 anos, encontra-se sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na mesma cidade. No dia 20 de agosto de 2022, durante uma missa realizada no largo da Capela do Socorro, o bispo de Crato afirmou ter recebido da Congregação para a Causa dos Santos o nihil obstat, datado de 24 de junho de 2022, para dar início ao processo de beatificação de Padre Cícero.
E em 6 de julho de 1973, Padre Cícero Romão Batista foi canonizado pela Igreja Católica Apostólica Brasileira. Sua canonização foi idealizada pelo então bispo de Maceió, Dom Wanillo Galvão Barros, que observava a devoção dos nordestinos ao religioso. Ela foi sustentada com pesquisas sobre sua santidade e milagres atribuídos a sua intercessão. Sua festa é celebrada no dia 20 de julho, contando com festejos religiosos e populares.