A intensificação da crise na gestão de Márcio Pochmann, à frente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), levou o Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO) a anunciar, na quarta-feira (29), a suspensão da Fundação IBGE+, chamada “IBGE paralelo”, por servidores do órgão. O estatuto da fundação previa a possibilidade de parcerias e contratos com entidades privadas.
Já em setembro de 2024, uma carta aberta dos servidores denunciava que a iniciativa havia sido “formalizada em sigilo por 11 meses e anunciada dois meses após sua oficialização em cartório”, dizia trecho do documento. O que geraria “dúvidas quanto à sua real finalidade e ao impacto que terá sobre a independência técnica e administrativa do Instituto”, complementava.
Em nota conjunta, divulgada à imprensa, o MPO e o IBGE disseram que a decisão da suspensão foi tomada em comum acordo. “Resolvem, em comum acordo, suspender temporariamente a iniciativa da Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE (IBGE+), proposta apoiada pelo MPO, para o desenvolvimento institucional e a ampliação das fontes de recursos para o IBGE”.
As decisões passariam a ser definidas a partir de debates com o Congresso Nacional. “Frente a esse desafio, estão sendo mapeados modelos alternativos que podem ensejar alterações legislativas, o que requererá um diálogo franco e aberto com o Congresso Nacional. Desta forma, o MPO e o IBGE esclarecem que qualquer decisão que oportunamente for tomada seguirá o debate no IBGE e com o Executivo e o Legislativo”, complementou o documento.
O instituto é vinculado ao MPO, mas mantém autonomia administrativa. O texto da nota explica ainda que será dado apoio ao IBGE para a formulação do Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola. “O MPO dará apoio ao IBGE, por meio da Lei Orçamentária Anual (LOA), para a formulação do Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola, uma das pesquisas mais relevantes do Instituto, em recursos para 2025”.
Crise no IBGE
Recentemente, mais de 600 funcionários assinaram uma carta aberta, denunciando o que eles chamaram de “viés autoritário” do presidente Marcio Pochmann. Dentre os signatários, 289 servidores ocupam cargos de chefia. “Condução do IBGE com viés autoritário, político e midiático pela gestão Pochmann é a verdadeira causa da crise em que se encontra a instituição”, afirmou trecho da carta.
Em setembro de 2024, a insatisfação geral dos servidores vinha tomando conta do órgão. A carta publicada na época pedia a exoneração do gestor, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em agosto de 2023. Márcio Pochmann é economista e filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), sigla do chefe do Executivo federal.
Em texto, os servidores afirmaram já não consideravam Pochmann “Presidente desta renomada instituição”. “Assim, os servidores do IBGE manifestam publicamente seu desejo pelo fim do mandato do atual presidente, Márcio Pochmann e informam que já não o consideram como Presidente desta renomada instituição”, disseram.
A crise ultrapassou o Sindicato Nacional dos Trabalhadores em Fundações Públicas Federais de Geografia e Estatística (Assibge) que, no mesmo período, convocou os servidores para um ato em frente à sede do IBGE, no centro do Rio de Janeiro
A manifestação foi convocada, entre outras demandas, para exigir “que o presidente do IBGE, Márcio Pochmann, altere o comportamento autoritário que tem marcado suas ações recentes e estabeleça um real processo de diálogo com os servidores em relação às diversas alterações em curso no Instituto”, afirmaram.