Um estudo do Programa Nacional de Toxologia (NTP), realizado pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos, dos Estados Unidos, identificou uma relação entre a alta exposição ao flúor e a queda do quociente de inteligência (QI) em crianças. A pesquisa estabeleceu uma revisão sistemática da literatura a respeito dos efeitos cognitivos e neurocomportamentais do flúor no organismo humano.
Presente no ambiente, principalmente em água potável, alimentos, bebidas e produtos odontológicos, o flúor é amplamente promovido por seus benefícios dentários e de saúde bucal geral. Além de adicionado, o mineral pode ser encontrado no solo e nas folhas de chá: uma xícara de chá preto, por exemplo, pode apresentar uma concentração de 2,5 mg/L de flúor. Já um litro de água do oceano contém cerca de 1,2 mg/L.
O estudo, denominado Monografia NTP sobre o estado da ciência sobre exposição ao flúor e neurodesenvolvimento e cognição: uma revisão sistemática, foi realizado em agosto de 2024. O artigo revisou 72 pesquisas que avaliavam a relação entre o flúor e o QI de crianças. A monografia não abordou os benefícios do mineral na saúde da boca. Estudos anteriores, realizados em 2006 e 2016, sobre o flúor natural na água potável e seus efeitos neurológicos, foram citados no ensaio.
Das 72 pesquisas revisadas, dezenove foram considerados de alta qualidade; dezoito delas, realizadas em cinco países diferentes, relataram uma associação inversa entre a exposição estimada ao flúor e o QI em crianças. Quarenta e seis, dos 53 estudos de baixa qualidade, também encontraram evidências de uma associação inversa entre a exposição estimada ao flúor e o QI em crianças.
A revisão sistemática observou que, em adultos, “apenas dois estudos transversais de alta qualidade examinando os efeitos cognitivos estavam disponíveis”. “O corpo de evidências de estudos em adultos também é limitado e fornece baixa confiança de que a exposição ao flúor está associada a efeitos adversos na cognição adulta”.
Já em relação às crianças “um grande corpo de evidências sobre associações entre exposição ao flúor e QI em crianças. Há também algumas evidências de que a exposição ao flúor está associada a outros efeitos neurodesenvolvimento e cognitivos em crianças; embora, devido à heterogeneidade dos resultados, haja baixa confiança na literatura para esses outros efeitos”.
A pesquisa concluiu “com confiança moderada, que exposições estimadas mais altas ao flúor (por exemplo, como em aproximações de exposição, como concentrações de flúor de água potável que excedem as Diretrizes da Organização Mundial da Saúde para a Qualidade da Água Potável de 1,5 mg/L de flúor) estão consistentemente associadas a um QI mais baixo em crianças”.
No Brasil, segundo o estudo Qualidade da água para consumo humano e concentração de fluoreto, da Faculdade de Saúde Pública, da Universidade de São Paulo (USP), “os teores ótimos de fluoreto na água tratada (com máximo de benefício anticárie e mínimo de risco de fluorose dentária funcionalmente significativa), considerando as capitais e o Distrito Federal, variam entre 0,6 e 0,8 mg F/L. Para algumas cidades do Sul do País, até 0,9 mg F/L é admitido”.
A pesquisa norte-americana ponderou, no entanto, que “mais estudos são necessários para entender completamente o potencial de menor exposição ao flúor para afetar o QI das crianças”. O NTP é um programa interagências dentro dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), investiga substâncias que podem ser prejudiciais à saúde pública.
*Com informações da rede de notícias SCNR