O Brasil está em chamas. De São Paulo ao norte do Piauí, do Pantanal à Floresta Amazônica, são 107.133 focos de incêndio. Desde janeiro até 25 de agosto, o aumento foi 75% em comparação ao mesmo período do ano passado, conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). No último domingo (25), Brasília (DF), Goiânia (GO) e Belo Horizonte (MG) amanheceram com o céu coberto por fumaça e fuligem dos incêndios florestais espalhados pelo país.
Um alerta de sinal amarelo foi emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), para o potencial perigo da baixa umidade relativa do ar na região central do país. O aviso abrange os estados de Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, São Paulo e Tocantins.
O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, afirmou, na segunda-feira (26), em entrevista ao portal Metrópoles, que o Brasil está em um período de extremos climáticos e que esta situação não deve se normalizar até meados de outubro. Disse ainda que o fenômeno climático La Niña, responsável pelo resfriamento das águas do Oceano Pacifico, “já era para estar operando no sistema”, mas essa frente fria só deve durar até quarta-feira (28).
La Niña deveria chegar em meados de julho e agosto, porém “a gente está bastante assustado com isso, inclusive porque uma nova onda de calor está se formando com muita força e deve ser sentida no Brasil inteiro a partir de quarta-feira”, completa Agostinho. “É uma mistura de condições meteorológicas extremas – seca extrema, calor extremo, baixa umidade, ondas de calor muito intensas – com uma outra situação, que é a ideia da cultura do fogo, a cultura de as pessoas saírem colocando fogo em tudo”.
Agostinho persiste em que há uma seca histórica na Amazônia e no Pantanal, o que só agrava, e muito, a situação, potencializado pelo problema de que “as pessoas” não param de atear fogo. Informa que a sala de situação do Ibama discute estratégias para conter a quantidade de focos de calor. “A previsão meteorológica é de pelo menos mais dois meses [de incêndios]. Setembro, outubro”, afirma o presidente do Ibama.
“Tem gente que deve colocar fogo por sadismo. Tem gente que de fato coloca para poder ampliar a área desmatada. Você tem diferentes situações. Todo o fogo no Brasil, até agora, tem sido fogo de natureza humana, nós não tivemos fogo provocado por raios até aqui”, concluiu Rodrigo Agostinho. O governo federal acionou a Polícia Federal (PF) para investigar as origens desses focos de incêndio.
A PF já abriu investigações para apurar as origens do fogo. “É um movimento atípico, mas as conclusões só virão com a conclusão dos inquéritos”, afirmou o diretor-geral da instituição, Andrei Rodrigues.
Penalização
Enquanto isso, na Câmara dos Deputados, um projeto de lei (PL) foi apresentado nesta segunda-feira (26), prevendo um aumento de detenção para dez anos pelo crime de execução de incêndio em floresta ou demais formas de vegetação. Na legislação atual, a pena é de dois a quatro anos,. De autoria dos deputados Delegado Matheus Laiola (União-PR), Delegado Bruno Lima (PP-SP), Marcelo Queiroz (PP-RJ) e Fred Costa (PRD-MG), está em trâmite e encaminhamento para o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
“Enquanto parte da sociedade já compreendeu a necessidade dos cuidados ao meio ambiente, como condição para a nossa própria existência e continuidade como espécie, pessoas inescrupulosas usam do fogo em processos arcaicos, ilegais e que visam apenas diminuir os custos imediatos de sua produção”, diz trecho da proposta como justificativa.
Ainda na Câmara, os deputados federais Zé Trovão (PL-SC) e Rafael Prudente (MDB-DF) apresentaram, separadamente, requerimentos que convidam a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para explicar o aumento dos incêndios no país e o consequente da densidade de fumaça. Os requerimentos aguardam votação na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da casa legislativa.
Rafael Prudente justificou que as “queimadas registradas nos últimos dias fizeram com que densas nuvens de fumaça se espalhassem em diversas partes do país, derrubando vertiginosamente a qualidade do ar. O Distrito Federal, sede desta Câmara dos Deputados, amanheceu debaixo de uma imensa neblina de fuligem”. Zé Trovão destacou que, em São Paulo, nos últimos dias “a fumaça proveniente dessas queimadas está se espalhando por milhares de quilômetros, afetando a qualidade do ar e a saúde de milhões de brasileiros”.
Governo Federal
“É preciso parar de atear fogo. Mesmo colocando tudo que está à disposição dos governos estaduais e municipais, dos esforços privados e do governo federal, se não parar de colocar fogo em um período de temperatura alta, baixa umidade relativa do ar e ventos que vão até 70 km/h, não há como conter o fogo. Ações criminosas serão punidas com todo o rigor que a lei oferece”, disse a ministra.
Acompanhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a ministra do Meio Ambiente esteve no domingo (25) na sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a fim de se inteirar da situação dos incêndios florestais no Brasil.
*Com informações do portal Metrópoles
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