O deputado francês, Vincent Trébuchet (UDR), comparou a carne brasileira a lixo durante sessão na Assembleia Nacional da França, na terça-feira (26). A fala ocorreu em meio à discussão sobre o acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE), rejeitado pelo Parlamento francês, em votação simbólica. Trébuchet afirmou que “os pratos dos agricultores franceses não são latas de lixo”. Demais parlamentares se juntaram à fala do colega e fizeram acusações aos produtos do Brasil e de outros países do Mercosul.
A declaração acontece no decorrer da polêmica envolvendo a França e a agropecuária brasileira. O CEO global do grupo francês de varejo Carrefour, Alexandre Bompard, pediu desculpas aos produtores de carne brasileiros, após afirmar, na semana passada, que os produtos do Brasil não atendiam às normas e exigências francesas. A rede deixaria de abastecer as lojas, que estivessem situadas na França, com proteína animal dos países do Mercosul.
Na terça-feira (26), Bompard se retratou, reconhecendo que “a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito às normas e sabor”. No documento, no entanto, enviado ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o CEO reafirmou que continuaria comprando carne dos produtores franceses para as lojas da França. “O Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo”, afirmou. A compra da carne brasileira ficaria restrita às lojas do Brasil. “Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades”, garantiu.
Repercussão e repúdio
Na quarta-feira (27), a Comissão de Agricultura do Senado (CRA) aprovou uma moção de repúdio acerca da fala do deputado francês. Durante a reunião do colegiado, o presidente da CRA, senador Alan Rick (União-AC), que apresentou a proposta, defendeu os produtores brasileiros. “O Código Florestal brasileiro é rigoroso e a agricultura respeita as regras ambientais”, disse. O senador Jaime Bagattoli (PL-RO) afirmou que a declaração do deputado reflete o receio dos franceses em relação à competitividade dos produtos agrícolas brasileiros. “É inadmissível que falem isso da nossa produção bovina”, destacou Bagattoli.
Já a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) asseverou que vai adotar medidas junto à União Europeia contra o Grupo Carrefour e demais empresas francesas que questionam a qualidade da carne brasileira. “Diante dessa acusação, nos vimos obrigados a buscar nosso escritório de advocacia em Bruxelas para entrar com as ações devidas para buscar esclarecimento da verdade”, disse, em vídeo, o presidente da CNA, João Martins.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, disse que a resposta do executivo do Carrefour foi “fraca”. Lira cobrou uma desculpa formal, reconhecendo a qualidade dos produtos brasileiros. “Não podemos minimizar o que aconteceu. É uma escalada de narrativas que não são verdadeiras sobre a produção brasileira”, criticou. O deputado se manifestou em evento promovido pela Frente Parlamentar da Agropecuária. Lira já havia protestado contra o protecionismo europeu e dito que a Câmara iria dar uma resposta à declaração do diretor-presidente da rede francesa.