segunda-feira, 17 de novembro de 2025 – 23h19

Acusado de criar sistema de fraude biométrica tem celular apreendido na CPMI do INSS

Depoente permaneceu calado, amparado por habeas corpus expedido pelo STF
Igor Delacrode, acusado de fraudar biometrias do INSS, ficou em silêncio, amparado por habeas corpus - Foto: WaldemirBarreto/AgênciaSenado

Mais um depoente compareceu à CPMI do INSS e não explicou a movimentação financeira de R$ 1,4 bilhão por empresas de tecnologia da informação. Em depoimento na segunda-feira (10), o empresário Igor Dias Delecrode é acusado de desenvolver um programa para fraudar biometria e assinaturas digitais no instituto. A ferramenta teria dado aparência de legalidade aos descontos feitos por meio de falsificações.

Com 28 anos de idade e sócio de empresas de TI, Delecrode não apontou as brechas legais do sistema previdenciário que favoreceram a prática de diversas fraudes contra aposentados e pensionistas. O programador também ficou em silêncio quando indagado sobre o recebimento de R$ 15 milhões em menos de um ano.

Delecrode depôs amparado por um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. O empresário teve assegurado o direito de não responder a perguntas que pudessem incriminá-lo e de não prestar compromisso de dizer a verdade. Ele disse apenas que mora em São Paulo e é formado em auditoria financeira, trabalha no ramo de prestação de serviços e pratica atividades de tecnologia como hobby.

O relator da CPMI do INSS, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), ressaltou que Delecrode “meteu a mão com força” em mais de R$ 1,4 bilhão em fraudes contra aposentados. “Ele virou multimilionário, transacionou mais de R$ 15 milhões em menos de um ano, com invenção de ferramentas para tirar dinheiro de aposentados e pensionistas. O que a gente está fazendo aqui? É dinheiro roubado do povo brasileiro e não acontece absolutamente nada”, disse Gaspar.

O relator destacou que Delecrode montou uma organização criminosa que atuou em pelo menos três núcleos criminosos. O trabalho contou com um sofisticado sistema de coleta de dados e verificação de autenticidade, que burlou o sistema de biometria facial a partir da cópia da identidade, em esquema descoberto pela Controladoria-Geral da União (CGU).  

“Ele conseguiu uma mágica maior, é o coração tecnológico da safadeza. Juntando tudo que ele participou, obteve mais de R$ 1,4 bilhão. Se o Brasil fosse sério, esse elemento estaria preso. Criou um conglomerado tecnológico, cada associação tinha um sistema de verificação de identidade independente”, acusou o deputado.

Gaspar apontou que, além do STF, alguns membros da própria CPMI estariam blindando a convocação de depoentes, o que impediria o aprofundamento das investigações. “O silêncio do depoente é um tapa na cara do povo brasileiro. O STF está transformando a justiça brasileira em dois degraus, o dos pobres e o dos endinheirados. E tem gente sendo blindada aqui, não é só no STF não. Isso é vergonhoso”, destacou o relator.

Celular

A comissão aprovou, por votação simbólica, a apreensão dos celulares de Delecrode, bem como o acesso a aplicativos de mensagens. O requerimento foi apresentado pelo relator. O depoente não resistiu e entregou o aparelho ao presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), que logo passou o celular à Polícia Legislativa.

No entanto, o advogado do depoente, Levy Magno, orientou o seu cliente a não fornecer a senha de acesso ao aparelho e registrou seu “inconformismo” com a decisão. Segundo Magno, deveria haver uma decisão judicial para a apreensão. Ele ainda pediu a devolução do aparelho, o que foi negado pelo presidente da CPMI. 

Durante a reunião, Viana afirmou que gostaria de poder colocar o depoente na cadeia, mas lembrou que precisava seguir a lei. Ele lamentou o fato de o Brasil ouvir mais uma vez “o silêncio da culpa”. Segundo o senador, os brasileiros viram na CPMI do INSS o espelho de um país ferido pela corrupção. Os órgãos públicos teriam feito silêncio cúmplice diante das fraudes. 

“Transformaram o benefício dos aposentados em objetos de luxo e ostentação. Enquanto o governo sorri diante das câmeras, os aposentados choram diante das contas. A verdade vai vencer o silêncio”, registrou o presidente, que ainda reclamou de habeas corpus, concedido pelo STF, que garante aos depoentes o direito ao silêncio.

*Com informações da Agência Senado

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