segunda-feira, 17 de novembro de 2025 – 23h18

Unidos do Poço, a primeira: não existe carnaval sem samba!

Folhetim
Sonia Calazans e sua amada Escola de Samba Unidos do Poço - Foto: Arquivo Pessoal

Lembranças de uma animação geral quando começava o rufar dos tambores da querida Unidos do Poço, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Poço. Eu fugia para assistir aos ensaios, no meio da rua Marquês de Tamandaré, na Praça Unidos do Poço. Pequena, mas arteira, fugia. 

E, para não levar bronca dos maiores, dizia: “não estava na rua, estava na casa da comadre Chocha e do compadre Joatan”. Eram compadres de meus pais e nós tratávamos da mesma maneira. Moravam bem em frente à sede da escola. Apesar de ser apreciador e colaborador da escola, papai não queria que participássemos dos ensaios. Tinha lá suas razões.

Hoje, nossas lembranças serão de homenagem aos 70 anos de existência da mais antiga escola de samba de Maceió, quem sabe de Alagoas. Nascida em 15 de novembro de 1955, com seus membros e frequentadores, na sua maioria, moradores do bairro do Poço. Vinte e nove vezes campeã do carnaval de Maceió, tem personagens e personalidades inesquecíveis ao longo de sua história, marcada pela dedicação, amor e paixão por samba, carnaval e escola. 

Uma figura, que sempre me encantou, pois via a sua batalha no dia a dia, no pequeno “quiosque” à beira do riacho, na ponte próxima à Praça 13 de Maio (minha avó Benvinda morava em frente). Pequena já entendia a sua luta para sobreviver. Jandira, mulher lutadora e batalhadora, merece um samba enredo. Durante todo ano lavava roupa de ganho, servia bebidas e tira-gostos no pequeno espaço do quiosque, um bar improvisado (um pega bebo).

Mas, nos ensaios, dava show de samba no pé. E, nos desfiles, se transformava numa estrela de primeira grandeza, muitas vezes sendo abre alas da escola. Beleza pouca, mas carisma e encantamento próprios e únicos,  enquanto teve energia desfilou e encantou. 

Outros membros que merecem destaque: D. Jaete, porta-bandeira por 37 anos; seu Manoel, mestre-sala durante 25 anos; Célia Xuxu, de passista a presidente da escola; Erivan Fernandes, compositor e intérprete de sambas-enredo; Sebastião Canuto, além de compositor de sambas-enredo, foi também presidente; Carlito Lima (o grande Capita) fez parte da diretoria e sempre um grande colaborador; meu pai, Calazans, foi presidente e um apaixonado pela escola e pelo carnaval.

E tantos outros que fizeram parte da história da escola. Peças importantes, cada uma com seu conhecimento e, acima de tudo, com paixão, colaborando e enfrentando os obstáculos para colocar a Unidos do Poço na avenida.

De minha parte, o encantamento infantil pelo samba e pela escola se tornou realidade quando, no início dos anos de 1980 (81 / 82), tive a emoção de desfilar pela escola do meu coração, atravessar a Avenida da Paz, fazendo parte do enredo. Fantasia “Filha do Sol e da Lua”, emoção única, o coração acompanhando o ritmo de surdo, tamborim, caixa e cuíca, entoando o samba enredo. Foi mágico!

Apesar de tanta dedicação e paixão, a escola teve um período de muitas dificuldades. Entre os anos de 2007 e 2011, ficou de fora dos desfiles. Uma grande tristeza para a comunidade do Poço não ouvir o rufar de seus tambores e a animação de seus participantes.  

Voltamos com entusiasmo e vontade de sempre, mas ainda esbarramos na falta de incentivo, que faz com que as escolas tenham de fazer verdadeiros milagres para realizar o desfile anualmente. Que o diga o atual presidente, Deywison Costa. Samba e Carnaval, por aqui, é feito por poucos abnegados e sonhadores, que insistem em colocar a escola ou o bloco na rua.

Da minha parte, lembrar de dias felizes da escola, fazendo seus ensaios pelas ruas do bairro, vê-la desfilar na avenida e, por 29 vezes, comemorar o título de campeã do carnaval, com enredos históricos, como Zumbi e Paripueira Festa de Santo Amaro, e a grande alegria e o não desistir, é o que nos move a voltar todos os anos para avenida. Torcer e vibrar com a minha querida Unidos do Poço, uma tradição de 70 anos no Carnaval de Maceió.

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