segunda-feira, 27 de outubro de 2025 – 20h42

Motociclistas: estudo revela mortes e invalidez em níveis alarmantes no Brasil

Dados foram levantados pela Fundación MAPFRE, em parceria com o Instituto de Segurança no Trânsito (IST)
Foto: Reprodução/AutoEscolaOnline

O Brasil vive uma verdadeira epidemia silenciosa no trânsito: a vulnerabilidade e falta de segurança dos motociclistas. Um estudo realizado pela Fundación MAPFRE, em parceria com o Instituto de Segurança no Trânsito (IST), mostra que, apesar de a motocicleta ter se tornado uma solução de mobilidade e uma ferramenta de trabalho para milhões de brasileiros, ela também está no centro de uma crise de saúde pública. 

Explosão da frota e seus impactos na segurança de motociclistas 

Entre 2000 e 2023, a frota de motocicletas saltou de 4 milhões para 35 milhões de unidades. O fenômeno foi impulsionado por fatores como: 

*Acessibilidade econômica, já que a moto tem custo de aquisição e manutenção menores que o carro. 

*Deficiência do transporte público, insuficiente em cidades de pequeno e médio porte. 

*Ferramenta de trabalho, especialmente com o crescimento das entregas por aplicativos e o uso do mototáxi. 

*Agilidade no trânsito urbano, reduzindo tempo de deslocamento e oferecendo sensação de liberdade. 

Em diversos estados brasileiros, as motocicletas já superam os automóveis em número de registros. Mas a expansão da frota não veio acompanhada de políticas públicas de segurança eficazes. 

Mortalidade e invalidez em números críticos 

Os motociclistas são, hoje, o grupo mais vulnerável nas vias brasileiras. O estudo aponta que eles representam 52% das mortes no trânsito e 85% das vítimas de invalidez permanente. 

*Entre 2000 e 2004, cerca de 18 mil motociclistas morreram em sinistros. Entre 2015 e 2019, esse número saltou para quase 60 mil mortes. 

*Só em 2022, aproximadamente 12 mil motociclistas perderam a vida, o que equivale a 44% de todas as vítimas fatais do trânsito. 

*O impacto é ainda maior nas regiões Norte e Nordeste, onde quase metade das mortes no trânsito envolve motociclistas. 

*Jovens entre 20 e 24 anos concentram as maiores taxas de mortalidade. 

*De cada 10 indenizações por invalidez permanente pagas pelo DPVAT, mais de 8 foram destinadas a motociclistas. 

O peso social e econômico é enorme: jovens, muitas vezes provedores de famílias, ficam incapacitados para o trabalho, sobrecarregando os sistemas de saúde e previdência.

Quem é o motociclista brasileiro 

A pesquisa entrevistou mais de 1.200 motociclistas de veículos até 300 cilindradas e traçou um perfil detalhado: 

*Idade média de 38 anos, com maior concentração entre 25 e 44 anos. 

*A motocicleta é usada diariamente por 68% dos entrevistados. 

*Para 72,5%, é o principal meio de transporte. 

*Mais de um terço utiliza a moto como ferramenta de trabalho. 

Metade dos entrevistados já se envolveu em algum sinistro de trânsito. Homens se envolvem mais em acidentes que mulheres, e os afastamentos do trabalho após lesões variam de poucos dias a mais de um mês. 

Comportamentos de risco em destaque 

O excesso de velocidade aparece como a infração mais recorrente. 44% das multas aplicadas a motociclistas estão relacionadas a esse comportamento. Além disso:

*Quase 25% admitem já ter pilotado sob efeito de álcool em alguma ocasião. 

*Apenas 31% afirmam nunca desobedecer às leis de trânsito. 

*O uso de drogas é minoritário, mas não inexistente. 

*O capacete tem alta adesão (quase 90% sempre utilizam), mas há negligência da maioria no uso de outros equipamentos de proteção, como jaquetas, botas e luvas.

Formação e habilitação: um ponto crítico 

Um dos achados mais preocupantes do estudo é a falha estrutural na formação dos motociclistas. 

*Apenas 30% aprenderam a pilotar em autoescola.

*Mais de 60% aprenderam de forma informal, com familiares, amigos ou por conta própria.

*22% começaram a pilotar antes da idade legal. 

*12% não possuem CNH-A — número ainda maior nas regiões Norte e Nordeste.

As principais barreiras para a habilitação são custo elevado, burocracia e exames teóricos que, em muitos casos, tornam-se obstáculos para quem tem baixa escolaridade.

Instrutores de autoescola entrevistados também criticaram o modelo atual de ensino, afirmando que ele prepara apenas para o exame em circuito fechado, e não para a realidade das ruas. 

Estrutura precária e fiscalização insuficiente 

Além do comportamento dos condutores, fatores externos agravam a insegurança. Buracos, má pavimentação e sinalização deficiente foram apontados como grandes causadores de quedas e acidentes. 

A fiscalização, embora vista como necessária, é considerada insuficiente em boa parte do país, especialmente em áreas do interior e nas regiões Norte e Nordeste, onde a condução sem capacete e sem CNH ainda é frequente. 

Segmentos específicos: desafios distintos 

*Mulheres motociclistas: relatam pilotagem mais defensiva e veem na moto uma forma de liberdade e independência. 

*Entregadores por aplicativo: convivem com a pressão do tempo e sofrem estigma social, o que os expõe a maiores riscos. 

*Motociclistas do interior: enfrentam problemas como animais na pista e fiscalização quase inexistente. 

*Condutores sem CNH: principalmente no Norte e Nordeste, circulam sem habilitação devido a barreiras econômicas e à baixa percepção de risco. 

Recomendações do estudo 

A Fundación MAPFRE e o IST defendem um conjunto de medidas integradas para enfrentar a crise: 

1.Educação e conscientização permanentes, com foco em pilotagem defensiva. 

2.Facilitação do acesso à CNH-A, por meio de programas sociais e menos burocracia.

3.Reforma na formação de condutores, aproximando a prática da realidade do trânsito.

4.Investimentos em infraestrutura, com pavimentação de qualidade e sinalização adequada.

5.Fiscalização efetiva e educativa, para coibir comportamentos de risco e reduzir a informalidade. 

Um chamado à ação 

O estudo é categórico: a situação dos motociclistas no Brasil é uma crise de saúde pública que exige respostas imediatas. Sem mudanças estruturais na formação, fiscalização, infraestrutura e cultura de segurança, o país continuará pagando um preço altíssimo em vidas e em custos sociais.

*Fonte: Portal do Trânsito e Mobilidade

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