Sempre que o uso do tempo é favorecido pelas leituras, busco ampliar minhas pesquisas sobre os temas que me são atraentes.
Caríssimos urbaNAUTAS, leitores insofismáveis, com vocês também ocorre assim?
Recolhemos informações sobre a recuperação de rios urbanos, na Europa, na América do Norte e na Ásia, onde cidades inteiras preconizam atitudes na requalificação.
Um dos artigos, data 1988, como o ano em que o então presidente francês Jacques Chirac prometeu tornar o Rio Sena (que corta Paris) próprio para natação, e diga-se de passagem, nunca cumpriu.
A natação no Sena tinha sido decretada oficialmente proibida pelo governo francês no ano 1923, no século passado.
O Sena foi sendo negligenciado por muitas décadas, afogado com níveis altíssimos de bactérias e poluição resultantes da industrialização e urbanização. Agora, os XXXIII Jogos Olímpicos acontecerão em Paris, Anne Hidalgo, a prefeita da cidade, planejou com sua equipe de urbanistas o “Plano de Natação”, com a primazia de realmente promover o Rio Sena em um aquífero urbano apropriado para a natação. O recurso bilionário designa o curso d’água como receptor dos eventos olímpicos aquáticos deste próximo verão.
No transcorrer dos tempos, os rios protagonizaram na história o crucial papel de sediar e receber as cidades, essa invenção humana, e ao longo do crescimento e adensamento, favorecer a estruturação sociais das populações urbanas. Em suas bordas, comunidades inteiras se ajuntaram para socializar, refrescar, nadar, pescar, navegar, extrair madeiras para usos diversos (inclusive fazer o fogo) e areia para a construção .
Mergulhar nos rios sempre foi um atrativo popularizado, principalmente no verão, quando pessoas de todas as idades apreciam.
Seja o Tietê em São Paulo, Beberibe e Capibaribe no Recife, o Reginaldo em Maceió, o Sena em Paris, o Tejo em Lisboa ou o Tâmisa de Londres, os rios ficavam repletos de nadadores e banhistas, amalgamados aos estilos da vida urbana.
Segundo a Agência Europeia do Meio Ambiente, os rios urbanos europeus têm sido maximamente afetados de forma negativa pela urbanização. Como resultado, há significativas mudanças em muitos rios urbanos, envolvendo canalização, sepultamento, desmatamento, assoreamento, alteração de curso, retificação da foz ou confinamento. Não obstante, as vias navegáveis urbanas foram paulatinamente consignadas em receptáculo para esgotos, resíduos sólidos, lixo, diversos poluentes e algumas formas de águas residuais, oferecendo riscos nocivos para a saúde pública. Atualmente, os rios europeus estão saturados por produtos químicos orgânicos. Informa o The Guardian que “centenas de locais de rios ao redor do mundo, desde o Tâmisa até o Tigre, estão inundados com níveis perigosamente altos de antibióticos.”
Entretanto, mormente o atual quadro de degradação, podem os rios serem olhados como uma serpenteante linha vital para as cidades. Bilhões de pessoas no planeta bebem água de rio. Por sua importância histórica, via navegável, fornecimento de água e alimentos, valor ecológico e paisagístico, os rios desempenham e desempenharão um papel significativo e vital nas cidades. Devido a crise climática em nossos dias estar chegando a níveis sem precedentes, os rios ofertam o necessário produto e talvez único, para mitigar os riscos contemporâneos associados a estiagens prolongadas e inundações sem limites, mais especificamente em ambientes citadinos. A degradação e o afogamento dos rios urbanos por meio de poluentes, resíduos tóxicos, moléstias, estagnações, ares fétidos e proliferação de bactérias tem clamado pela urgência das necessárias retomadas nas medidas de controle e saneamento da poluição e também conservação ambiental para restaurar as linhas meandricas vitais à existência humana e animal e o efetivo resgate das antigas glórias destes corpos hídricos.
Várias cidades no mundo inteiro buscam liderar o percurso que conduz ao rumo de rios de água pura e limpa e projetos de requalificação e restauração fluvial. Por exemplo, em toda a Europa e na América do Norte, existem inúmeros pontos habilitados de natação em rios limpos, balneáveis, seguros e acessíveis. Durante décadas de exaustivos trabalhos, campanhas de conscientização e políticas públicas de qualidade, cidades como Basel, Berna, Genebra e Zurique têm conseguido com sucesso recuperar e manter seus rios, em ações de resgate e modificando-os em cursos d’água próprios para a vida animal, banhos e com a certeza de serem seguros.
É curioso observar que, os esforços iniciados pelos anos 1980, incluíram a pertinente criação de instalações de tratamento de esgoto, coleta efetiva e destinação adequada de lixo e o desvio dos efluentes domésticos e industriais.
Fazem parte das ações, inclusive, medidas corretas e concretas para disponibilizar reservação e o acesso à água e roteiros, diretrizes e mapas para banhistas e nadadores.
Em alguns estudos de caso onde a recuperação fluvial mantém-se bem sucedida, residentes locais e visitantes podem usufruir do mergulho em águas limpas no cerne da paisagem urbana. Criando a promoção de encontros culturais e atividades de lazer variadas, e acessível a todos, funcionando diuturnamente.
Nesse viés, os rios recuperados e vigilantemente mantidos a salvo de agressões, são belos e harmoniosos testemunhos dos esforços coletivos bem-sucedidos de restauração e requalificação fluvial. Restaurações deflagradas devem incluir a purificação e o monitoramento constante das águas do rio, o aumento substancial das planícies de inundação, a relação possível entre o calado e a navegabilidade e a consolidação via vegetação de suas margens. Os projetos de restauração e requalificação devem ter como premissa transformar os rios em espaços naturais integrados e públicos onde os moradores locais e turistas desfrutem de relaxantes miradas, arejados espaços e refrescantes mergulhos em águas límpidas, incolores, inodoras e insípidas.
Projetos assim, e podemos citar os exemplos do Rio Tejo, do Rio Reno e do Rio Cheonggyecheon, têm como objetivo revitalizar e transformar quilômetros que atualmente não são utilizados e estão negligenciados, por vezes ocultados dentro da malha urbana. O principal objetivo é limpar o rio, devolvendo e criando acesso público direto. O planejamento deve incorporar as áreas públicas do entorno estabelecido, modificando-o também.
A missão para reconectar a cidade ao Rio. Passa pela ampliação do sistema de esgoto, do correto tratamento evitando o despejamento de derramamentos de esgoto bruto a cada ano. Como foi usual nas últimas oito décadas. O objetivo de construir e canalizar esgotos sob o curso d’água separando enfim a drenagem urbana das incomodas águas servidas devem limpar o rio. Além disso, os arquitetos e urbanistas devem trabalhar para aumentar o uso recreativo dos Rios de maneira criativa e local, ressaltando as identidades , memórias e valores de cada curso d’água em particular, além de guardar água limpa e reintroduzir a natação. Os rios possuem trechos específicos cujas ações devem favoravelmente exaltar.
Em suma, a saúde de todos os rios do planeta é primordial para a saúde geral da Terra. Os rios são celebrados na literatura e nas memórias afetivas de cada um, são referenciadores culturais, ativadores das atividades coletivas, formadores das vinculações sociais e festejados pontos de encontro. Mais ainda, e de total importância, eles suportam vibrantes ecossistemas, sustentam cadeias alimentares, disponibilizam habitats essenciais para espécies aquáticas, terrestres e aéreas e ajudam na promoção e preservação da biodiversidade. Um rio saudável poderá ser usado como incontestável defesa e barreira contra os iminentes impactos climáticos, oferecendo necessária proteção contra inundações de forma planejada e econômica, meio de transporte e o fundamental acesso a suprimentos de água limpa e potável.
Embora, com a rápida urbanização, adensamento populacional e industrialização, muitos rios metropolitanos estão padecendo agora e carreando águas cheias de poluição, lixo, esgoto e outras formas de desatenções residuais. Mesmo com esses obstáculos, várias cidades estão reestruturando os padrões para a restauração e requalificação de seus rios, recuperando seus leitos e margens, promovendo-os como vias navegáveis salubres e higiênicas, seguras e acessíveis. O verdadeiro potencial da revitalização dos rios urbanos tem sido demonstrado em esforços onerosos no mundo afora.
A preservação do natural custa bem menos.
É significativamente crescente a disseminação do entendimento do grande valor agregado de vias fluviais navegáveis limpas e adequadas, tanto por razões ambientais quanto recreativas.
Na verdade, a restauração, requalificação e conservação de rios são estreitamente cruciais à medida que enfrentamos face a face a questão do desequilíbrio climático. Fornecer aos urbanitas e visitantes acesso gratuito e seguro à contemplação, navegabilidade, natação, piscosidade e potabilidade nos rios, passa a ser missão obrigatória e sequenciada de gestores públicos e governantes.
Maceió das Alagoas,
terça feira, 27 de fevereiro de 2024
Fotos: RCF e domínio público
Texto: RCF
Respostas de 7
Via whatsapp, reproduzo aqui os comentários recebidos, do Dr Paulo Cabral:
“[18/6 10:00] Paulo Cabral: Caro Roberto, o crescimento populacional de forma exponencial, principalmente nas capitais nordestinas, sem um tratamento de seus efluentes, continuam crescendo e seu descarte nos rios, lagoas etc. Aqui em Maceió, na parte alta os sumidouros absorvem os ditos esgotos. A parte baixa se vê desde o ano passado prédios substituindo onde no local ocupavam residências. Observa-se tapumes de tais obras em andamento ou reservadas para o futuro. Isto aumentará o volume de esgotos gerados pelos seus ocupantes, que era apenas gerados por uma família. A concessionária hoje responsável pelo fornecimento de água e tratamento, inclusive transferindo para sua rede aqueles efluentes descartados via sumidouros, não será capaz de eliminar, contendo a poluição hoje transferida pelo Salgadinho, na praia, levando ao fechamento de hotéis. A Lagoa de Mundaú, antes utilizada para esportes náuticos (Clube de Regatas Brasil e Clube Sportivo Alagoano, além do futebol ), hoje recebem esgotos da parte baixa em grande volume. O emissário não foi dimensionado para descarte do grande volume da Pajuçara, Ponta Verde e Jatiuca.
[18/6 10:05] Paulo Cabral: Já li algo sobre o tratamento de esgotos e seu descarte em condições de potabilidade nos rios Sena e Tamisa, onde a água tratada não se consegue eliminar anti concepcionais e reduz a fertilidade naqueles países. Nada portanto comprovado. Caro Roberto o felicito por abordar tal tema. Abraço”
Obrigado pela grande contribuição ao nosso ensaio, é motivo de honrosa alegria. Abraço fraterno e forte!
Acho que com um bilhão da braskem daria pra transformar o salgadinho no mar do caribe.
E colocar Maceió nos trilhos do século XXI. A Praia da Avenida com altíssima piscosidade e cristalinas águas. Para o cidadão e para o turista.
Fiquei encantada com essa linha de pensamento e me deu esperanças de um dia voltar à Maceió e ver o salgadinho limpo! Vamos fazer nossa pequena parte que assim fazemos a diferença! 😘
Realizei um Projeto Urbanístico bem completo para esse fim. Tenho convicção na ampla possibilidade.
Eduardo Rocha, com tanta tecnologia disponível e a realização possível de exemplos espalhados pelo mundo. Água, a dádiva da vida sendo maculada…O tempo de buscar reverter esses descuidos desnecessários está ficando escasso. Que o despertar aconteça com brevidade. Que a natureza possa imperar como a Divina Criação. Deus abençoe.
Num tema de suma importância, nosso amigo Roberto Farias, demonstra sua solidariedade e apreço para com as fontes de água criadas por Deus, descaracterizadas, bem como extremamente poluídas pelo homem. Quem dera um dia tornassem a ser límpidas e cheias de vida. O que vemos na realidade, excetuando-se alguns casos, é a continuidade da destruição desses nichos ecológicos, onde vemos hoje em dia, a imprensa destacar a seca do Eufrates… mais uma profecia que se cumpre. DEUS tenha misericórdia 🙌🙌