terça-feira, 8 de julho de 2025 – 06h04

Foto: Roberto C. Farias

Sendo a obra resultado físico da materialização da ideia representada na linguagem técnica de projeto, o desenho.

E sendo este, roteiro sequencial definido e representado sobretudo para a organização antecipada do evento da construção amparado na legislação, relações espaciais com o entorno, cronogramas físicos/financeiros, estudos de impactos ambientais e de vizinhança;
convidamos o leitor atento para vivenciar, descrever, identificar e classificar os estilos arquitetônicos que configuram o Centro materializados na feição estética, ou feições estéticas mais significativas da área central de Maceió, se é que existem para o observador como existem para o pesquisador e, como o convívio dessas possíveis correntes de épocas conferem ao local alguma tipologia capaz de figurar isoladamente ou em conjunto, favorecendo a percepção de uma identidade local fundamentada no modo único de ser Maceió.
Uma Capital tão propalada como destino turístico do nicho “sol & mar”. A esta conjugação de elementos combinados capazes de conferir destaques ou impressões empregaremos o neologismo “arquigrafia”, a escrita que poderá proporcionar uma leitura da espacialidade capaz de transmitir ou ainda, impregnar o observador, o estudioso, o transeunte, o usufrutuário de um diálogo ou mesmo conversa capaz de transmitir sensações (pertencimento, acolhida, reconhecimento ou estranhamento) que possibilitem referendar a sua passagem na missão gloriosa de resistir aos tempos. Arquigrafia para o modelo de arquitetura; Urbanografia para modelo amplificado no conjunto de entorno, logradouro e rua.

Foto: Roberto C. Farias

Tentaremos ampliar o conceito recorrendo ao termo em latim: damnatio memoriae cuja tradução signifique; “danação da memória” ou seja perda da fé nos modelos que nos antecederam versus uma necessidade ilógica de projetar a modernidade passageira como as modas (embora o termo moderno já não possa mais refletir o futuro, o novo, uma vez que já cristalizou uma era no passado século XX como corrente estilística). Até aí estamos buscando entender porque os novos modelos configurados para substituir os anteriores são ineficazes, desproporcionais, feios e pobres de espírito. Medíocres , até. Cuja opacidade leva a rápida obsolescência. Que palpite infeliz. Dada a irreversibilidade são verdadeiros marcos do como não se deve fazer. Mas, estes insistem em brotar aos montes para satisfazer as necessidades individuais instantâneas e efêmeras de vaidades seriamente comprometidas.

Foto: Roberto C. Farias

Os testemunhos edificados de ideias ancestrais proporcionam, sem margem de dúvidas, diálogos possíveis e acessíveis ao observador atento. Logo, observar torna-se absorver. Cargas de ondas emocionais sendo irradiadas em fruição estética e motivação intuitiva. O belo como necessidade intrínseca a nós todos.
A permanência no espaço e no tempo são, sim, necessidade humana. Ao constatarmos em outras cidades e em outros sítios (e aqui, atento leitor, não se quer parecer ou se mostrar viajado) a convivência salutar de estilos, tantas vezes lado a lado, em simbiótico convívio a auferir valores perenes para o passante em cenários consolidados e promotores das histórias promovidas e propulsionadoras, capazes de se tornarem verdadeiras alavancas ao lucro coletivamente distribuído: ganha o transporte, ganha o guia, ganha o espaço, ganha o vendedor de souvenirs, ganha a lanchonete, ganha o ator da experiência expressa, ganha a memória, ganha o lugar. Em divulgação e faz diferença a espacialidade configurada conferindo identidade e transmutando valores. O visitante costuma buscar nas cidades o que estas podem oferecer nesses termos e em todos os tempos. A cultura é também essencial alimento.

Foto: Roberto C. Farias

Contudo, o espaço das “Arquigrafias” e “Urbanografias” necessitam estar cuidados, acessíveis, preservados, mantidos, limpos, asseados, cheirosos, impecáveis, seguros e convidativos. Está em nosso DNA saber receber bem com atenções e hospitalidade. Maceió, porto e porta (no dizer do poeta Carlos Moliterno) é uma cidade turística amplamente consolidada há algumas décadas e o bairro do Centro possui uma variedade de edificações históricas capazes de oferecer ao consumidor desses bens, experiências ótimas de cunho estético, fruição sensorial e na ampla aquisição de conhecimentos. Ainda somos bem jovens pois acabamos de completar duzentos e poucos anos, e conforme o tempo avança iremos aos poucos amadurecendo. Há inúmeras arquigrafias registradas e gravadas em arrojados volumes: templos, teatros, museus, tribunais, fórum, biblioteca, palácios, estação, academia, edificações de variados usos estilos e feitios.
Não se pode deixar de lado ou separar as Urbanografias também peculiares: becos, ladeiras, escadarias, passeios, logradouros, praças, quebradas, largos, ruas ensolaradas e assombreadas, peatonais (também aqui denominado calçadões: ruas abertas ao pedestre e fechada ao automóvel).

Foto: Roberto C. Farias

Aproveito a escrita que nos ajuda a externar algumas ideias e ouso cunhar mais um terceiro e necessário neologismo: “monumentografias” presente no Centro de Maceió com hermas, bustos, puttis, memoriais, estátuas, inscrições em destacados posicionamentos, capazes de oferecer para todos as possibilidades que cabem na mente, no coração, no espírito, no olhar, no sentir, no comunicar, no entender e no absorver.

É imprescindível ao ser humano conhecer para amar e amando proteger.

O Centro é base. O Centro é básico. O Centro é basilar. O Centro é para todos. Um tesouro para ser explorado, preservado, mantido, conservado, direcionado para o futuro. Exibido e mostrado com orgulho. Orgulho de ser de Maceió.

22 de agosto de 2023
RCF
Texto e fotos
urbaNAUTA

Respostas de 8

  1. Pois Roberto, como sempre seu texto é muito importante por significar um sinal de alerta, para que olhemos para o Centro de Maceió com mais cuidado e comprometimento. É no Centro que está o coração das cidades. É através dele que conhecemos seu povo, sua cultura e, o mais importante, as suas condições e estilos de vida. A alegria e as mazelas andam lado a lado, entrelaçadas e anônimas, nas suas ruas e calçadões. Estive recentemente no Centro e fiquei triste tanto pela descuido em termos de limpeza e preservação das vias, como pelo nítido desgaste e estresse das pessoas que por lá circulavam. ” Matar um leão por dia” é numa tarefa hercúlea. Sinal de tristes tempos que espero não dure para sempre.☹️ Sua contribuição à reflexão contribuem para a mudança.

    1. Obrigado pela atenciosa análise, Angela, vossas pertinente observações junto aos justos comentários: humanizar! Esse deverá ser o lema. Realmente estamos todos atarefados a procurar a rapidez como solução imediata. Que as reflexões oriundas possam encontrar bons abrigos e frutificar.

  2. Bem dissestes, caríssima e dileta Escritora Aída! Tudo juntinho e batido no liquidificador do tempo! São tantas boas memórias com seus doze anos a flanar, a deambular por entre atrativos e se sentir pertencimento! Lindas lembranças. Vosso Papai e irmãos tem significativas participações e protagonismo nestes segmentos do comércio e do empreender. Agradeço e quando possível relate essas lembranças. A memória é sempre feita de elos.

  3. O centro é tudo junto e misturado. Lembro antes mesmo do calçadão do comércio e da rua Boa Vista….. primeiro foi Magazine Renner e depois Miss Bell magazine! Bons momentos, boas memórias… em pensar que andava só por ali com uns 12 anos…
    Muito massa de novo! Grata por me transportar pro centro…

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