Agosto está no meio e como nos ensina o dito popular: “mês meiou, mês findou”.
Colecionamos significativas datas neste mês dedicado também aos pais. A criação do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), depois, IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) por um combativo grupo de pensadores brasileiros (muitos, modernistas) capitaneados por Rodrigo de Melo Franco, cujo aniversário 17 de agosto marca o dia do Patrimônio Histórico Nacional. Há premiação com o nome do jornalista, para ações de salvaguarda do Patrimônio Histórico material e imaterial. Agosto trás também o dia do Folclore, de importância magna para a Capital de um estado onde muito deles se originaram fruto de toda a amálgama de etnias possíveis: Guerreiro, Chegança, Pastoril, Fandango, Marujada, Taieira, Maracatu, Coco de Roda, Ciranda, Frevo. Todas as manifestações com músicas, coreografias, indumentárias e vestimentas próprias.
E o que faz essa representação de si mesmo que o ser humano elabora operosamente em sua trajetória no tempo limitado aos anos de sua existência? Seria a vontade de mitigar a curiosidade? Será a necessidade de registrar a passagem pela vida ? É o modo coletivo de perpetuar a ideia gerando reflexões e rebatimentos? Ou ainda a imperiosa força do inconsciente coletivo manifestado nas antenas humanas mais sensíveis e portando capazes de serem os veículos ou meios para essa materialização? Ouso pensar que é o somatório de essas e outras maneiras do fazer. Fazer! Fiat lux (faça -se luz, no dizer Divino)!
Mais ainda, onde se convencionou que outras gerações deveriam levar adiante as herdades promovendo que a história se prolongue como discurso através dessas manifestações culturais? Como uma edificação pode ser um lugar que fala? O que está materialidade em pedra, tijolo, ferro, madeira, cerâmica, vidro e tinta pode comunicar? Como pode? E como pode! Por que linhas paralelas se encontram no infinito?
A esse pensar essencial pode ser trazido a cadência, a malemolência, o gestual, o sotaque, o pregão, o dito popular, a dança e todos os saberes e fazeres que não se materializam senão na expressão corporal, posto que são imateriais, contudo continuam a percorrer o tempo se repetindo, sendo copiados, executados, apropriados até ter a remota origem se apagado dos que praticam. A cidade gira sobre rodas. O tempo anda em círculos.
Sim! Nós replicamos modelos de modo exaustivo e já não nos apercebemos como as ideias iniciais surgiram e foram sendo melhoradas. Talvez tenhamos levado a sério demais que repetir e copiar seja mais fácil, barato ou alternativa mais viável. Olhemos a constante apropriação do que é público pelo que é privado em termos de espaço, não há vazio, nem tampouco vácuo, está disponível. Logo, pode. E a repetição deste modelo faz como que um costume. Ao ser acostumado pode-se adotar como padrão. Então os tênues limites se invertem e se fundem. Se convertem. Pergunto: estamos a viver uma ditadura do feio? Que Urbanografia é essa e quais são os seus autores? Autorizas?
Por hora, somos todos os construtores do amanhã, mesmo com a nossa necessidade premente de sobreviver, de levar adiante, de conquistar. Mas, há o prisma e o espelho: aquele nos defrata estilhaçando, lembrando que somos partícula. O outro nos reflete no que queremos ver, imagem de produto, e por assim dizer, uma impostação. Convoquemo-nos para o particular e para o impostor. Convertamo-nos em solidariedade!
Como afirmado anteriormente, não existe espaço vazio. Existem espaços? Poderemos promover ocupação. Talvez o olhar purista de profissional da cidade conclua apressadamente que a cidade carece de reordenamento, e afirmo que sim, também deve-se olhar com a natureza do que se resolve ou se possibilita com essa ou aquela permanência, com este modelo de instalação ou aquele outro que mormente se efetiva. De certo, tudo é arte e criação, posto que é fruto do invento e do intelecto com o cabedal disponível. Com os recursos materiais que se tem à mão. Com o que se quer e pretende: convencer ou vencer com.
Entre pessoas, ruas, becos, carros, fiação enlinhada, gabaritos de alturas próximas que modelam o conjunto ao sol, sob a abobada celeste adornada de nuvens poderemos refletir sobre o que nos apregoa o Eclesiastes: “o que foi é o que sempre será e não há nada de novo sob a luz do sol.” Sejamos solidários e tolerantes, mas altivos praticantes das ações dinâmicas que promovem a existência. O nosso maior e histórico patrimônio é a nossa luta de cada dia. É a nossa força coletiva enquanto povo. É o olhar absoluto pleno de serena cordialidade. Acertadamente nós temos o hábito de existir.
15/agosto/2023
RCF. Texto e fotos.
Respostas de 6
Obrigado, Angela sempre importante contar com sua opinião e vosso olhar.
Minha querida e grande incentivadora! Seu olhar aguçado mira bem no alvo; a construção da nossa identidade e permanência como unidade perpassa as questões que você bem coloca. Você como residente na infância e adolescência sabe muito. Alcançou mais beleza no conjunto Arquitetônico e sabe de memória, também reconhece o valor que dado as nossas raízes pode nos impulsionar feito asas. Meu afeto e admiração sempre.
Mais uma vez arrasou com seu artigo, e confesso que tenho esperança de um dia nossa cidade seja valorizada assim por seu patrimônio histórico e cultural, o centro é Maceió na sua mais pura forma … o que fazem hoje em dia, com toda essa decoração plástica pro Instagram é o emburrecimento da nova geração que estão sendo ‘programadas’ pra aceitar tanta ignorância… e a história, a cultura e as tradições são esquecidas!
Comentado de modo pertinente, Marcio! A estruturação dos espaços públicos passa por ações da municipalidade e de políticas públicas. Cabe também aos cidadãos ações neste sentido. Obrigado!
Importante reflexão para todos, principalmente para aqueles que andam distraídos. Parabéns Roberto!👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
Temos que criar parques nesta cidade que é tão carente de espaços coletivos para lazer . Acorda JHC,uma cidade não é só composta de três bairros( Jatiúca, ponta verde, pajuçara)e nem só de praia.