quarta-feira, 24 de dezembro de 2025 – 22h07

Cinemas testemunham a história de Maceió desde a década de 1910

Prédio na rua do Comércio abrigou Cine São Luiz e outros cinemas da cidade
Foto: Arquivo Público
Rua do Comércio, com o Cine São Luiz à direita, na década de 1969 Foto: Arquivo Público

De 1959 a 1996, gerações de alagoanos sentaram-se nas poltronas acolchoadas do Cine São Luiz para assistir a grandes filmes artísticos e comerciais. O mais moderno cinema de Alagoas testemunhou a história de Maceió desde a década de 1910, quando seu prédio abrigou outros cinemas da cidade.

Essa trajetória de diversão e arte passou por momentos de tristeza, com fechamentos de portas e reabertura da casa, oferecendo conforto e modernização. O Cine São Luiz surge em 27 de fevereiro de 1959, na rua do Comércio, via nevrálgica do bairro do Centro da capital alagoana, palco de confrarias e negócios.

O local embalou o público com sua enorme sala térrea e seu mezanino especial. Entre outras experiências vivenciadas pelos alagoanos, uma cena comovente se passou durante a exibição do filme “Bambi”, na década de 1960.

Quando o protagonista, perdido na floresta, gritou “Mamãe! Mamãe!”, em real agonia, uma criança de seis anos de idade começou a chorar com tal força e desespero, que foi impossível continuar a projeção. A sessão precisou ser interrompida, e o pequeno, acudido, com água e palavras de conforto.

Antes do Cine São Luiz, o prédio já havia sido local de outras telas de projeção e recebido, em seus letreiros, vários títulos desde 1912, quando foi construído pelo italiano Stefano Conte para ser o Cine Floriano.

Em 1917, o Floriano foi vendido ao violonista Hypolito Paurílio, pai do músico Antônio Paurílio e do escritor Carlos Paurílio. Como Cine Floriano, ostentou a orquestra Attraction Jazz Band, que animava as sessões de cinema, com Antônio Paurílio ao piano.

Foi no Cine Floriano que a festa regional-modernista “Canjica Literária” apresentou uma banda de pífano e dois repentistas como parte de sua programação vespertina, em 23 de junho de 1929. Foi nele também que a população alagoana pôde acompanhar, pela primeira vez, o cinema falado, com a fita em preto e branco “Fox Movietone Follies”, em 04 de abril de 1930. 

Em 1933, o lugar passou a ser o Cinema Capitólio, que funcionava, anteriormente, na esquina do beco da Moeda com a rua do Comércio. Na década de 1940, já como Cinearte, tornou-se o principal ponto de encontro do Centro de Maceió.

Ali, foi protagonizada a peculiar iniciativa de jovens acadêmicos às vésperas do fechamento de suas portas. Em 1957, estudantes de Direito fizeram o movimento “Fila Boba”, em que se revezavam numa fila enorme, na frente da bilheteria, em todas as sessões, durante uma semana.

Eles não compravam o ingresso, perguntavam o preço e retornavam à fila, impedindo que outras pessoas entrassem no cinema. O movimento teve repercussão na imprensa local, recebeu adesão de estudantes de outros cursos e chegou à Assembleia Legislativa. Eles queriam chamar atenção para o descaso na estrutura do cinema. 

O Cinearte entrou em reforma em 1957 e reabriu em 1959, como Cine São Luiz, com a película “Tarde de Mais Para Esquecer”. Moderno, com ar-condicionado, poltronas acolchoadas e tela cinemascope, virou ponto de referência dos cinemas alagoanos e protagonizou, por dez anos, filmes de arte em suas matinês e, posteriormente, na sessão das sextas-feiras, às 22h.

O Cine São Luiz fechou definitivamente suas portas em 1996, com o filme “O preço de um resgate”, última película a ser exibida no cinema. Hoje, o prédio está ocupado por lojas comerciais.

Fontes: 

www.historiadealagoas.com.br/o-cinema-de-arte-de-maceio.html

www.historiadealagoas.com.br/cine-sao-luiz.

m.facebook.com/MaceioAntiga/photos/a.410205875692271/418595551519970

“Graciliano Ramos e a Novidade: o astrônomo do inferno e os meninos impossíveis”, de Ieda Lebensztayn

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