quinta-feira, 6 de novembro de 2025 – 11h11

Estética da Quaresma: “Das cinzas vieste, às cinzas retornarás”

A Quarta-Feira de Cinzas marca o início da preparação cristã para o período da Páscoa
Imagem: AquarelaDe_JulianFałat_sécXIX

Período de preparação para a Páscoa, a Quaresma abre com penitência, jejum, oração e caridade a renovação física e espiritual do cristão. As expressões estéticas dos 40 dias que antecedem a Quinta-Feira Santa são manifestações exteriores das transformações internas pelas quais passa o homem para morrer e renascer em Cristo. A Quarta-Feira de Cinzas inicia esta fase de transformação quando se encerra a festa da carne, o Carnaval, do latim carnelevarium, isto é, tirar ou remover a carne. 

Em 2024, o recolhimento da Quaresma – a quadragésima die Christus pro nobis tradétur, que, da língua latina, se traduz: “No quadragésimo dia Cristo será entregue por nós” – tem início na quarta-feira (14 de fevereiro) e segue até quinta-feira (28 de março) quando começa a Páscoa. Na missa da Quarta-Feira de Cinzas, o sacerdote católico empunha uma porção de cinzas sobre a cabeça do fiel, ou desenha, com as cinzas, uma cruz em sua testa, e pronuncia  “Das cinzas vieste, às cinzas retornarás”, ou ainda, a critério dele, “Convertei-vos e crede no Evangelho”.

As cinzas não são cinzas quaisquer. Elas resultam das folhas do Domingo de Ramos do ano anterior –  domingo precedente ao Domingo de Páscoa -,  queimadas e misturadas com água benta e incenso. Outra expressão estética do ciclo perpétuo que se repete a cada ano quando o caminho até a Páscoa pede transformação, abandono das coisas da carne para a entrada na promessa da vida eterna, apresentada na ressurreição de Cristo. 

“Porque buscai entre os mortos aquele que está vivo? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos de como ele vos disse quando ainda estavam na Galiléia. O Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores e crucificado, mas ressuscitará ao terceiro dia” , expressou o anjo, em Lucas 24.1-7, a Maria Madalena e a outras mulheres, que procuravam Jesus em seu túmulo.

A Quaresma é celebrada pelas Igrejas Católica e Ortodoxa, e pelas denominações protestantes Anglicana e Luterana. Em entrevista exclusiva ao portal Aventuras na História (AH), Lidice Meyer, professora-doutora em Antropologia Social e do mestrado em Ciência das Religiões, da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, explica a diferença de celebração entre as religiões cristãs.

“A Quaresma é uma celebração de origem Católica. Apenas os primeiros ramos do protestantismo (Luteranos e Anglicanos) seguem esta tradição com as cores litúrgicas e alguns rituais (cinzas e estímulo a oração, leitura bíblica e abstinência de alimentos). Algumas igrejas presbiterianas e metodistas também seguem estes poucos rituais, mas sobretudo nos EUA. No Brasil são raras as igrejas destas denominações que fazem referência à Quaresma”, disse a docente.

A quantidade de dias da Quaresma também guarda sentido religioso. Conforme explica Meyer, os 40 dias é o resultado da tradição bíblica expressa em fatos históricos do livro sagrado. “A relação estabelecida é entre os 40 dias de Moisés no monte Sinai, de Elias no monte Horeb e de Jesus no deserto. O texto de Deuteronômio cita que o período no Sinai foi um tempo de intercessão de Moisés pelo povo após o que recebeu os mandamentos. Tanto Elias como Jesus são alimentados milagrosamente após o jejum. Nas histórias estão presentes os três elementos básicos da Quaresma: oração, Palavra de Deus e jejum”, acrescentou.

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