quarta-feira, 24 de dezembro de 2025 – 13h54

‘Pior ano para as escolas de samba e blocos de frevo em Maceió’, disse carnavalesco, sobre falta de apoio do poder público

Presidente da Gaviões da Pajuçara lamentou tratamento dado aos produtores de cultura local
O presidente da Gaviões da Pajuçara, José Hilton, nos corredores da agremiação - Foto: LulaCastelloBranco/NC

Oito vezes campeã do carnaval de Maceió, a Escola de Samba Gaviões da Pajuçara amarga a falta de apoio do poder público. A nove dias do início do carnaval de 2025, as agremiações não receberam nenhum tipo de aporte financeiro do município, e nem mesmo do estado. “Não há previsão. Pior ano para as escolas de samba e blocos de frevo em Maceió”, disse o presidente do grêmio recreativo, José Hilton. Devido à situação, as escolas só conseguirão sair na avenida depois do calendário oficial do evento, nos dias 7 e 8 de março.

Segundo Hilton, conhecido como mestre Prego, o financiamento era feito um mês antes do evento. Nos últimos cinco anos, o prazo tem sido 10 dias antes das festividades. O valor do aporte financeiro do estado é de R$ 25 mil, por escola. Já a prefeitura, apoia com R$ 35 mil. “O estado não tem obrigação de ajudar a gente não. O estado é estado. A prefeitura é capital. As pessoas têm de saber isso, e muita gente não sabe. O apoio sempre veio dos dois, mas eles não têm obrigação”, enfatizou.

A escola emprega, no mínimo, 40 pessoas, nos mais variados tipos de funções, antes do carnaval: costureiras, mecânicos, escultores, borracheiros, faxineiros, parte estrutural do barracão. Neste ano, durante o período da festa, das dez costureiras que trabalham para a agremiação, apenas duas estarão atuando. “Muita gente deixou de ganhar um dinheirinho no carnaval, por causa dessa situação financeira, porque não veio logo esse dinheiro para gente. Eu espero que, no próximo ano, ele [o prefeito] veja que escola de samba não é bloco de frevo, é outra estrutura”, destacou.

A Gaviões da Pajuçara não iria mais desfilar no carnaval de 2025, porque o homenageado do ano, que  seria o ex-prefeito Barra de São Miguel (AL), Benedito de Lira, faleceu no mês de janeiro. Devido à perda de patrocínio, o grêmio recreativo precisou se reinventar e mudar de tema. A situação, agravada com a falta de financiamento público, levou a escola – que iria sair com 14 alas, quatro carros alegóricos e cerca de 700 pessoas – a se resumir a 250 pessoas, distribuídas em cinco alas e um carro alegórico. 

“Estou com a maior vergonha de levar a Gaviões da Pajuçara para dentro da avenida. A gente sempre levou a escola grande para a avenida. As pessoas estão esperando a escola com luxo, com muita gente. Eu estou triste hoje. Estou me sentindo um dos piores mestres de Maceió. Estou com vergonha de trabalhar na cultura, de fazer cultura em Maceió. Pela falta de apoio, de respeito, de sensibilidade. É humilhante”, lamentou.

Em 2024, a Prefeitura de Maceió financiou a Escola de Samba Beija-Flor, do Rio de Janeiro, com o montante de R$ 8 mihões. A agremiação desfilou na Marquês de Sapucaí, com o enredo em homenagem a Maceió. A escola ficou em 8º lugar no grupo especial. “O que a prefeitura fez com a Beija-Flor? [Deu] oito milhões! Todas as vezes que a Beija-Flor vinha para Maceió era mais dinheiro, que a prefeitura pagava, com a estadia dela aqui. Porque eu tive contato com o pessoal da Beija-Flor. São todos meus amigos. A gente entra em contato, a gente sabe das coisas”, esclareceu. 

Integrante da Liga das Escolas de Samba Independentes de Maceió (Lessim), que agrupa as quatro maiores escolas de samba da capital de Alagoas – Gaviões da Pajuçara, Girassol, 13 de Maio e Unidos do Poço -, a Gaviões completa 25 anos em 2025, e acumula oito títulos e três e vice-campeonatos. A agremiação nasceu do Bloco Bonecos da Cidade. A diretoria conta com seis pessoas, mais um corpo de apoiadores. Ao todo, 20 pessoas comandam a escola. Além da Pajuçara, o grêmio recreativo atua em diferentes bairros, como Benedito Bentes, Village Campestre, Jacintinho e Vergel do Lago.

Blocão do Domingão

Mestre Prego, que também é presidente do Bloco Bonecos da Cidade, juntou-se ao escritor e produtor cultural, Carlito Lima, que comanda o Bloco Nega Fulô, e idealizaram o retorno do carnaval de rua de Maceió, nos dias oficiais do evento. Em 2025, conseguiram reunir nove blocos, para desfilar na orla de Ponta Verde, no domingo de carnaval, dia 2 de março. O Blocão do Domingão promete levar marchinhas e frevo alagoano para a avenida. 

“Era um aperreio porque não tinha dinheiro. Fomos só nós dois, o Nega Fulô e o Bonecos da Cidade. Hoje são nove blocos. A gente via os blocos de frevo se acabando, não tinha mais. Só trio elétrico. As empresas bancando trio elétrico. Hoje o blocão é uma realidade. Só frevo no pé, só marchinha. A gente não bota marcha de frevo de Recife, a gente só bota marcha de frevo de Alagoas. É frevo alagoano”, lembrou.

Sobre a parceria, expressou o seu carinho por Carlito Lima. “Falar no Carlito… Eu até fico emocionado. O Carlito é um pai, um avô, um tio e um irmão. Quando ele fala em carnaval, ele me procura. É uma pessoa… não tem palavras para descrever, tudo o que ele me pedir, eu faço”, exaltou o carnavalesco, em reconhecimento à amizade. 

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