Nascida e criada no bairro do Poço, tive uma vida cercada de festas e boa convivência com a vizinhança. Nosso bairro tem uma vocação festiva e sempre foi reduto de gente festeira e de manifestações culturais tradicionais. O Pastoril, as festas do Senhor do Bonfim, as Baianas, a Chegança, o Reisado…
Meu pai contava sobre as festas acontecidas no largo do Treze de Maio, um time de futebol que utilizava o campo onde hoje é o SESC Poço. Sempre cantava para me fazer dormir: “Ô. Zumira, onde você andava que eu te procurava e você não ouvia? Zé Piano, eu estava doente com uma dor de dente e você não sabia”. Acredito que era algum desafio cantado em versos no Reisado.
Nossa lembrança de hoje são os clubes, que existiam no Poço. O Atlético e o Veteranos, que agitavam a vida social dos moradores, junto com os Cinema Plaza e o Poeirinha, mesmo tendo um carnaval de rua animado e cheio de atrações.
A Escola de Samba Unidos do Poço, os blocos Velhice Transviada e Arrasta Veia, as brincadeiras de Laurso e Bois de Carnaval (uma manifestação, até então, exclusiva do Poço e da Ponta da Terra), passavam todo carnaval arrastando a criançada pelas calçadas na brincadeira, e outras correndo pra dentro de casa, com medo.
No Poço, os dois clubes faziam a animação dos moradores. O Atlético, que ficava na Av. Comendador Calaça, em frente à antiga Casa de Saúde Santa Lúcia, ao lado da subida para o Jacintinho. E o Veteranos, que ficava na Rua do Meio, hoje Rua Bezerra de Menezes, próximo ao Bar da Gil.
Tínhamos carnavais animados, realizados por moradores, que faziam parte das diretorias dos clubes. Havia uma disputa saudável de quem realizaria as melhores festas. Sim, pois os festejos não se resumiam apenas ao carnaval: São João, bailes em datas comemorativas, como a Emancipação Política de Alagoas, Dia das Crianças.

Os frequentadores se dividiam por áreas – nada discriminatório – apenas pela proximidade das residências. Os moradores próximos à Praça Senhor do Bonfim, Av. Comendador Calaça, Vila Bancária, Vila Encantada, em sua maioria, eram sócios do Atlético. Já os moradores do entorno da Praça Guimarães Passos, Avenida 26 de Abril, 13 de Maio, Rua dos Coqueiros eram associados do Veteranos.
Nos dias de carnaval, os clubes, abertos o dia inteiro, nos salões, uma radiola tocando LP’s e compactos, com as marchinhas do ano e as de carnavais passados. Apenas à noite eram contratadas bandas para animar a folia dos adultos. A criançada brincava durante o dia no lança-água e mela-mela.
O sábado de Zé Pereira era aguardado, com ansiedade, pelos sócios foliões. Animação, fantasias e fazer o passo nos três dias, determinação do reinado de momo. O Rei Momo, soberano da folia, fazia sua visita para verificar in loco se o decreto estava sendo cumprido.
Lembro que a minha avó materna faleceu próximo da folia carnavalesca. Estava acamada e, sabendo da paixão de meu pai pela festa anual, chamou-o e o fez prometer que não deixaria de brincar, caso ela partisse às vésperas do carnaval.
Não era apropriado brincar carnaval de luto. Como festejar depois de uma perda de alguém tão próximo? Não era de bom-tom, e ainda tinha a roupa obrigatória para o luto (preto/branco).
Ele resolveu o assunto solicitando que as pessoas fossem para as festas, com fantasias nas cores preta ou branca. A cor foi diferente nesse ano, mas a animação foi a de sempre, coisas de quem ama o carnaval e não fica sem brincar.
Tradicionalmente, os bailes de clubes, na quarta feira de cinzas, terminavam do lado de fora, arrastando os foliões. No Clube Fênix Alagoana, a folia se encerrava nas areias da praia da avenida; no Iate Clube Pajuçara, com um banho de mar; na Portuguesa, faziam a famosa volta ao redor da Praça Deodoro.
No Poço, os clubes também tinham as suas saídas tradicionais: o Atlético arrastava seus foliões até a Vila Bancária, para sua volta de encerramento. O Veteranos terminava sua folia passando pela Praça Guimarães Passos e pelas ruas 26 de Abril e parte da Inácio Calmon.
“Ô quarta feira ingrata chega tão depressa só pra contrariar”. Era o fervilhar da folia de Momo por ruas, clubes, cantos e recantos da cidade!
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Muito lindo seu relato sobre o Bairro do Poço querida amiga. Amei e parabéns! Continue relatando essas doces lembrança de uma parte de nossa querida e amada cidade de Maceió.