terça-feira, 23 de dezembro de 2025 – 15h18

PF deflagra operação que investiga Sesau AL por desvio de recursos e lavagem de dinheiro

Valores, que deveriam ser usados na rede pública de saúde, somam quase R$ 100 milhões; secretário foi afastado
Foto: Reprodução

A Polícia Federal deflagrou, na terça-feira (16), a operação Estágio IV, que cumpre 38 mandados de busca e apreensão e diversas medidas cautelares alternativas contra a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). A operação inclui a suspensão do exercício de função pública por 180 dias. A determinação foi expedida pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região. O governador Paulo Dantas acatou a decisão e afastou o secretário de Estado da Saúde, Gustavo Pontes de Miranda.

Os mandados foram cumpridos em Alagoas, Pernambuco e Distrito Federal. Foram detectados indícios de favorecimento em contratos emergenciais, firmados pela Sesau Alagoas, entre 2023 e 2025, com duas empresas – uma fornecedora de material hospitalar e uma construtora. Estas contratações teriam gerado pagamentos de vantagens indevidas aos investigados. 

Os contratos somam o montante de quase R$ 100 milhões. Boa parte do recurso se encontra em execução. A investigação apura ainda o desvio de verbas públicas do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio de ressarcimento superdimensionado de consultas e procedimentos médicos que não teriam ocorrido. Ambos somam mais de R$ 18 milhões. 

Os valores indevidos foram repassados pela Sesau Alagoas entre setembro de 2023 e agosto de 2025. Apenas em ressarcimento de procedimentos de fisioterapia, foram pagos quantias incompatíveis com a capacidade operacional da clínica privada. Parte desses recursos foi destinada a integrantes do grupo criminoso, por meio de transferências bancárias, saques em espécie e pagamentos indiretos.

O esquema configura corrupção, lavagem de dinheiro e ocultação patrimonial. Interpostas pessoas foram utilizadas para dissimular a origem ilícita dos valores, sobretudo a aquisição de bens imóveis. O dinheiro público, que seria investido na rede pública de saúde alagoana, foi transferido para contas bancárias dos investigados e de terceiros. 

A operação mobilizou 170 policiais federais e mais 26 auditores. Também foi determinado o sequestro de bens pertencentes aos investigados, dentre eles, veículos e imóveis de alto valor. O inquérito policial identificou ainda que imóveis adquiridos foram registrados em nome de interpostas pessoas, familiares e terceiros.

Entre os bens, uma pousada, localizada no município de Porto de Pedras (AL), adquirida pelo valor de R$ 5,7 milhões em 2023. O montante foi pago por empresários beneficiados pelo esquema criminoso. Os valores também eram usados para custear viagens internacionais e gastos pessoais dos investigados. 

Em vários locais de busca, foi apreendida expressiva quantidade de dinheiro em espécie, em moeda nacional e estrangeira, além de duas armas de fogo. A investigação contou com apoio da Receita Federal e do Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde.

Posição do Estado

O governador Paulo Dantas determinou a criação de comissão especial, composta pelo secretário-chefe do Gabinete Civil, pela Controladoria-Geral do Estado e Procuradoria-Geral do Estado, “para acompanhar, colaborar e prestar todas as informações necessárias aos órgãos de investigação”.

Paulo Dantas nomeou o gerente de licitação da Sesau, Emanuel Victor Duarte Barbosa, para assumir interinamente a pasta. De acordo com o governador, todas as atividades da Saúde no estado seguem funcionando normalmente. Os serviços, em unidades e programas, continuam mantidos e sendo acompanhados de forma rigorosa.

“O Governo de Alagoas reafirma que não compactua com qualquer tipo de irregularidade, especialmente quando envolve recursos públicos destinados à saúde, e que sua orientação é de colaboração total, transparente e irrestrita com a Polícia Federal, o Ministério Público e demais órgãos de controle e fiscalização”, diz um trecho da nota do Executivo estadual.

Já o secretário afastado, Gustavo Pontes de Miranda, divulgou nota pública, afirmando que a ação não apresentaria elementos que justificassem a atuação em âmbito federal. Afirmou, ainda, que houve extrapolação das competências institucionais da Polícia Federal.
 
Pontes de Miranda disse ter mais de 30 anos de atuação como médico e empresário, sem histórico de envolvimento em investigações criminais.  Segundo ele, sua trajetória profissional teria se dado tanto na iniciativa privada como na administração pública, com foco em prestação de serviços na área da saúde.
 
*Com informações da Polícia Federal em Alagoas

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