A partir do desdobramento da Operação Estágio IV, da Polícia Federal (PF), novos personagens aparecem envolvidos no esquema. Além do secretário de Saúde de Alagoas, Gustavo Pontes de Miranda, já afastado, o assessor de gabinete, professor Luiz Dantes Vale, a esposa do secretário, Fátima Leite Pontes de Miranda, e Andréia Araújo Cavalcante são alvos da investigação.
A operação apura o esquema de desvio milionário de contratos emergenciais, firmados com a Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau), em cerca de R$ 118 milhões. A ação também aponta fraudes em recursos do Sistema Único de Saúde (SUS), usados para pagamento de procedimentos médicos, que não teriam sido realizados.
Envolvidos no esquema
O assessor do gabinete da Saúde de Alagoas, Luiz Dantas, apontado como braço operacional de esquema milionário, seria um dos principais operadores do dinheiro, que envolve desvio e lavagem de recursos públicos do SUS. Ainda conforme a PF, Dantas também seria responsável pelo transporte de valores e pela execução das ordens do grupo acusado.
O investigado é professor do Curso de Jornalismo, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Além disso, integra o Conselho Estadual de Comunicação Social (Consecom-AL), desde agosto de 2025, após o Governador Paulo Dantas (MDB) reativar o órgão.
De acordo com os documentos da investigação, a fisioterapeuta Luciana de Fátima Leite Pontes de Miranda, esposa do ex-secretário estadual de Saúde, Gustavo Pontes de Miranda, atuava na empresa Núcleo de Ortopedia e Traumatologia (NOT), que declarou, somente no mês de fevereiro de 2024, a realização de 22.752 consultas de fisioterapia. Para atingir esse número, ela teria de atender, em média, 95 pacientes por hora. A médica também está lotada, como assessora, no gabinete do deputado federal Isnaldo Bulhões (MDB).
Outro nome citado é o de Andréia Araújo Cavalcante, apontada como suposta amante do secretário afastado, indicado como líder do esquema. Segundo a PF, ela seria uma das responsáveis pelo transporte do dinheiro. Cavalcante, conforme esclarece a PF, é dona de uma pequena loja de roupas e acessórios femininos em Brasília (DF) e ocupa cargo em comissão, na Assembleia Legislativa de Alagoas (ALE-AL). De acordo com as investigações, ela apresentaria um padrão de vida incompatível com a renda.
Afastamentos
O Tribunal Regional Federal da 5ª Região determinou o afastamento do secretário da Saúde, Gustavo Pontes de Miranda, por medidas cautelares, pelo prazo de seis meses. A Sesau afastou, nesta sexta-feira (19), preventivamente, dez funcionários da pasta. A decisão foi formalizada com base no decreto que suspendeu o titular e deve ocorrer pelo período de 180 dias.
Os servidores suspensos são:
Luiz Dantas – Assessor do gabinete da Saúde de Alagoas;
Lucas Mateus Barros Monteiro – Assessor Técnico de Serviços de Engenharia e Arquitetura;
Luciano André Costa de Almeida – Assessor especial;
Yuri Amaral Almeida – Cargo não divulgado;
Reinaldo Fernandes Júnior – Cargo não divulgado;
Henrique Pereira de Lima – Cargo não divulgado;
Aline Félix Santiago Pereira – Cargo não divulgado;
Neurivan Calado Barbosa – Cargo não divulgado;
Franklin Pedrosa de Carvalho – Cargo não divulgado;
Raul Pereira de Lima – Cargo não divulgado.
A Sesau esclareceu que o afastamento tem o objetivo de garantir que a apuração ocorra de forma independente e sem interferências. Uma comissão especial, composta pelo secretário-chefe do Gabinete Civil, pela Controladoria-Geral do Estado (CGE) e pela Procuradoria-Geral do Estado (PGE), deve prestar informações aos órgãos investigativos, “garantindo o pleno respeito ao devido processo legal, ao contraditório e à presunção de inocência, princípios fundamentais do Estado Democrático de Direito”.
O esquema
Segundo a PF, o esquema envolveu favorecimento em contratos emergenciais firmados pela Sesau, entre 2023 e 2025, com duas empresas: uma fornecedora de material hospitalar e uma construtora, que somam quase R$ 100 milhões, parte deste montante ainda em execução. A investigação aponta ainda o desvio de recursos do SUS, por meio de ressarcimentos superfaturados de consultas e procedimentos médicos que não teriam ocorrido, totalizando mais de R$ 18 milhões.
A operação cumpriu mandados de busca e apreensão em Alagoas, Brasília e Pernambuco. Foram apreendidos cerca de R$ 900 mil em dinheiro em espécie, além de dólares, euros, joias e armas. Entre os bens adquiridos pelo grupo está uma pousada no município de Porto de Pedras (AL), adquirida em 2023, por R$ 5,7 milhões, paga por empresários beneficiados pelo esquema. Os valores também custearam viagens internacionais e gastos pessoais dos investigados.
Enquanto a Polícia Federal aprofunda as investigações para identificar responsabilidades, recuperar valores e esclarecer a extensão do esquema, o caso expõe as fragilidades estruturais na gestão da saúde pública em Alagoas. Além disso, reforça a necessidade de transparência, fiscalização efetiva e responsabilização dos envolvidos.




























