Queridos leitores,
Sabe aquela sensação que tínhamos na infância e adolescência de volta às aulas? Então, não estou sentindo nada disso, pois eu realmente odiava voltar às aulas rsrs.

Hoje, quinta-feira, estou voltando a estudar e a sensação é a mesma que senti quando comecei na faculdade de maquiagem… um friozinho na barriga, uma adrenalina por não saber o que vem por aí, porém a certeza do que vier vai ser bom e vai acrescentar muito na minha vida!



Pois é meus queridos leitores, consegui achar um curso que chama-se: Do desenho à pintura, e neste momento estou sentada no metrô a caminho da escola, com lanchinho e tudo, pois a aula é o dia inteiro! São apenas 4 semanas de curso, mas vejo como uma grande porta sendo aberta na minha frente para chegar em outro universo!

Então em homenagem a essa volta a estudar e estudar pintura vou hoje falar de um assunto que quem me conhece deve estar achando estranho eu não ter falado ainda. Acho que sempre menciono nos meus artigos sobre o meu lado maquiadora, mas nessa coluna aqui nunca tinha falado mais profundamente o que essa minha profissão e qualificação significam para mim.


Tudo começou com o ballet, e quando comecei a dançar no palco adorava a hora de ser maquiada, era uma alegria, ficava até sem falar pra que não saísse o batom, e fui crescendo e continuei dançando e nos espetáculos eu comecei a fazer a minha própria maquiagem, achava demais. Assistia às novelas e ficava observando as maquiagens das atrizes, comprava revistas com famosos e imitava as maquiagens, sem saber o que estava fazendo, mas fazia, e depois eu mesma fazia minhas maquiagens pra ir pra balada e festas. Nunca, no Brasil, eu imaginei que um dia iria estudar maquiagem na faculdade e trabalhar com isso. Quando em 1996 eu larguei meu emprego de sub gerente de um bar, pra seguir uma outra direção eu fiquei totalmente perdida, o que fazer agora? Não queria ser ‘dona de casa’ pois nunca quis ser dependente de marido e então comecei uma busca dentro de mim pra ver o que eu queria fazer agora, essa vida de bar não era mais pra mim. Pra ter dinheiro pro Natal eu resolvi fazer trabalho temporário numa loja de departamentos, mas me colocaram no departamento de meias finas que ficava colado à perfumaria. Eu já estava começando a pensar que queria estudar maquiagem e me tornar maquiadora profissional e trabalhar nessa loja e ver as marcas caras de maquiagem todos os dias foi a coisa que me fez decidir que era maquiagem mesmo que eu queria. Comecei a ler e pesquisar sobre faculdades de maquiagem. Na época não existia essa facilidade de hoje de colocar no google e achar tudo que quer. Um dia, estou lá no meu departamento e escuto: um passarinho me contou que você é brasileira! Eu tomei um susto, era um cara com o uniforme da Yves Saint Laurent, eu olhei pra ele e comecei a rir, então ele se apresentou, era o Lucca e pronto, ficamos amigos.

Ele trabalhava na YSL e tinha sido treinado pela empresa pra fazer maquiagem. A faculdade de maquiagem era uma coisa nova, uma profissão que não tinha muita gente realmente especializada, então era experiência em balcões de empresas de cosméticos caras que a pessoa conseguia ter experiência. O trabalho acabou e eu parei de ir naquela loja. Meses mais tarde eu fui lá, cheia de ‘prospectus’ (esses são livros das faculdades com os cursos, os dias e horas pra pessoa escolher) pra conversar com ele sobre isso. Então eu mudei de agência, pois agora eu queria que me colocassem em balcões de cosméticos pra eu começar a ter acesso a produtos e conhecer mais gente na indústria, e essa agência me colocou pra trabalhar em outra loja de departamento filial da outra que tinha trabalhado antes. Em julho eu tinha mandado uma passagem pra Nanda vir passar as férias de julho aqui, e como eu trabalhava pra agência eu fiquei esse tempo sem trabalhar (e sem receber também, pois era Agência de trabalho temporário).

Assim que a Nanda voltou pro Brasil eu comecei a me mexer pra ir no ‘open day’ da faculdade pública que tinha um custo mais condizente com minha realidade, e continuei com o trabalho temporário que já estava me dando lucro, pois certas empresas quando precisavam de alguém me pediam pelo nome. No open day eu conversei com a coordenadora do curso de maquiagem e ela me deu um ‘trabalho’ pra fazer. Na época eu não tinha computador muito menos impressora, então fiz todo trabalho escrito à mão, com os esboços e um texto rico por causa de minhas idas a museus para pesquisar. No dia de entregar o trabalho eram 3 pessoas na banca e não só meu trabalho era o mais simples, porém até aquele ponto o mais completo. Ficaram impressionados com minha vontade e também com o fato de ter feito o trabalho em inglês, não sendo esta minha primeira língua. Fui aprovada! Provei que não só sabia fazer pesquisa como também que sabia inglês suficiente pra cursar o que eu queria. Acho que era a única que trabalhava durante o curso, umas pessoas eram donas de casa e outras ainda moravam na casa dos pais, e por isso eu demorei mais pra terminar, mas quando terminei, terminei com as melhores notas e com destaque. Foi aí que tive certeza que estava no caminho certo, pois como já mencionei, eu detestava estudar e até mesmo a faculdade de direito eu empurrei com a barriga. Ainda no final do ano de 97 eu fui fazer treinamento na loja que conheci o Lucca e quando estava indo embora me encontrei com ele na saída. Durante o dia inteiro fiquei na área de treinamento e não pude ir vê-lo, e quando ele me viu deu o maior grito: Aíííída! e a gente deu o maior abraço. Aí ele me contou que estava saindo dali, que era o último dia dele tanto na YSL e naquela loja e que ele estava indo trabalhar na Selfridges para Helena Rubinstein e mandou eu mudar de agência pra poder fazer o mesmo tipo de trabalho na Selfridges que na época era a maior loja de cosméticos da Europa. Então eu descobri uma agência que tinha credencial de mandar gente pra Selfridges e mudei de agência e a gente sempre se encontrava lá.

A Selfridges é um mundo à parte. Sempre que estava lá eu e ele almoçava juntos e aí as gerentes começaram a me conhecer e sabiam de nossa amizade, então além de ter empresas brigando por mim, suas gerentes ficavam me elogiando pra ele pra eu sempre escolher as empresas delas. Era uma comédia. Tinham umas que já sabiam meus dias de aulas então já programava pra precisar de mim nos dias que não tinha aula. Lucca sempre me perguntava porque eu não ficava permanente numa dessas empresas, com certeza conseguiria, então eu dizia que enquanto estiver estudando quero ter esse poder de escolher onde e quando trabalhar, então não queria ter compromisso com trabalho. Eu me divertia bastante com tudo. Já era treinada nos caixas da Selfridges e fazia dinheiro onde eu estava, nessa época toda Selfridges estava sendo reformada pra entrada do novo milênio ai um belo dia Lucca veio no balcão que eu estava e disse hoje vamos almoçar juntos pois eu tenho um papo sério pra ter com você. A primeira coisa que pensei: fiz merda… rsrs mas não entendia porque, pois não estava ali permanentemente e não fazia fofoca de ninguém (trabalhar com beleza a pessoa descobre que é uma indústria feia), mas não grilei, continuei fazendo meu trabalho e curiosa pra escutar o papo sério do Lucca. Deu a hora ele passou no meu balcão e fomos. A cantina da Selfridges era uma coisa de outro mundo, a comida deliciosa e barata, além de arejada. Sentamos, aí ele criou mais suspense e quando eu já não aguentava mais ele disse: eu falei com minha gerente sobre você, e quando a gente mudar pro balcão novo, ela vai precisar de duas pessoas pra serem permanentes somente no sábado e domingo, você quer que eu arranje uma entrevista pra você? Pois eu já lhe recomendei. Pode pensar, mas a gente se muda no final de semana e ela (a gerente) já quer ter pelo menos uma das pessoas do final de semana seguinte. Eu topei na hora. E na segunda-feira fui pra entrevista com a melhor gerente que trabalhei em toda minha vida e que ensinou a mim e ao Lucca tudo sobre essa indústria traiçoeira. No sábado eu já era funcionária da Helena Rubinstein dentro da Selfridges. Lucca logo foi promovido pra trabalhar em outra loja como sub gerente da Helena Rubinstein e pouco depois ele passou a gerente da Helena Rubinstein numa loja que é a loja dos ricos raiz e das celebridades, então já viu a importância né? Por outro lado, toda vez que tinha evento envolvendo maquiadores minha gerente me mandava, minha cotação era bem alta dentro da empresa, porém eu sabia que quando eles se livrassem do maquiador nacional eles iam colocar o Lucca, mas eu não me importava pois eu cheguei até a fazer maquiagem em alguns London Fashion Week e trabalhar com maquiadores sensacionais da época. Bons e divertidos tempos, com Lucca sempre comigo me fazendo rir!



Ao mesmo tempo que eu caminhava em direção ao meu sonho, meu ex marido ficava cada dia mais ciumento. Ele me acusava de todo tipo de coisa e eu não entendia, todo homem ao meu redor não tinha o mínimo interesse em mim, mas hoje sei que o ciúme era de me ver fazer sucesso, de ter atenção das pessoas, pois não só fazia maquiagem, me divertia muito fazendo pintura de rosto nas escolas, parques e até na copa do mundo de 98. Como dizia Núbia: seus olhos brilham quando você fala de maquiagem. Sim eu sabia disso, e comecei a perceber que meu ex marido gostava da burra de carga, que trabalhava 3 noites por semana no bar, e mesmo sendo sub gerente ele se achava melhor que eu. Quando eu comecei a faculdade ele dizia que eu seria a aluna mais velha e que iria passar vergonha… com um marido desses eu não precisava de inimigos. Ele ficou muito surpreso quando eu só tirava nota boa e chegava em casa feliz da vida. Quando ele me viu fazendo pintura de rosto nas crianças pela primeira vez, eu vi a cara de surpresa dele de ver que eu não só sabia mas também era muito boa no que fazia. Isso foi piorando e em Janeiro de 2001, quando ele me mandou decidir entre ele ou minha família, eu mandei ele repensar o ultimato, mas ele persistiu na burrice, e no dia que um outro amigo foi me buscar em casa pra me levar na casa do Lucca, ele se ajoelhou ao meus pés chorando me pedindo pra ficar e me pedindo desculpa. Tive pena, e naquele momento que eu estava dizendo que era só um tempo, no fundo eu sabia que não tinha volta. Foi difícil a separação, mas eu tinha o Lucca que segurou minha onda, e depois disso ele virou meu irmão. Ele sempre, desde o começo cuidou de mim, e agora vocês entendem o grande amor que tenho por ele quando fiz uma homenagem a ele na matéria Adeus Ano 58, Feliz Ano 59!



Como vocês notaram, as coisas pra mim acontecem assim, tudo ao mesmo tempo e foi por isso que aprendi a lidar com as coisas ruins curtindo o que de bom acontece no dia-a-dia. E a vida continuou depois da separação, agora era minha vez de ir à luta, de crescer mais dentro de minha profissão. Lucca se tornou o maquiador nacional pra Helena Rubinstein, mas eu continuava sendo chamada pra eventos, mas agora que a faculdade tinha acabado eu queria poder ser free lancer, mas sem um apoio ia ser difícil, então arranjei outro emprego, dessa vez horário integral no aeroporto gerenciando uma empresa de cosméticos e com chance de fazer treinamento para a British Airways, ou seja, ensinar a maquiagem padrão para todas as mulheres que trabalhavam pra empresa, porém, pouco depois que aceitei o emprego, tudo mudou, aconteceu o 11 de setembro, e o setor de viagens foi muito atingido e esse projeto da BA e da minha empresa foi suspenso, e eu terminei ficando com um emprego que eu detestava, e mesmo antes de arranjar outro emprego pedi demissão. No próximo emprego me colocaram numa loja bem tradicional e eu tinha que esconder a mecha pink que tinha colocado no cabelo (ninguém merece) pedi pra ser transferida pra outra loja, então fui colocada na loja dos ricos e famosos, mas a minha gerente… a véia era muito, mas muito chata mas tinha outra menina lá, ucraniana, que a gente aprontava com ela e ao mesmo tempo eu fazia alguns trabalhos gratuitos de curta metragens e fui chamada por uma Agência pra fazer free lance pra eles, e também outra agencia pra fazer pintura de rosto. Sai da casa do Lucca, fui morar numa casa dividida com um baterista de uma banda (um arrogante sem noção), mas ele vivia viajando e eu ficava muito tempo só, o que eu gostava. Chegou um dia a véia disse pra mim que eu e a Ucraniana íamos ficar fazendo tratamentos nas clientes e ela fazendo as vendas. Ou seja, nós trabalhávamos e ela ganhava a comissão, mas como era no mês seguinte o evento, a ucraniana pediu as contas e eu já tinha um plano, mas tinha que ficar calada, eu ia colocá-la na me__a. Uma semana antes do evento eu disse pra ela que não poderia fazer os tratamentos porque não tinha sido treinada e a empresa ia ter que mandar uma pessoa pra fazer os tratamentos, e se você me obrigar eu digo pro gerente da loja que você quer que eu coloque as clientes em risco… rsrs. Lógico que eu sabia fazer mas fui treinada pela Helena Rubinstein, mas como essa empresa não me treinou então não podia. Fato. Ela ficou uma arara, mas o pessoal que trabalhava nos balcões perto eram tão gente boa e passávamos o tempo a atormentá-la, mas ai começou a surgir mais free lance ai eu enchi o saco e sai pra arriscar no free lance. Boa ideia? Foi e não foi, mas eu me diverti, viajei, passei necessidade, dei a volta por cima.

Anos mais tarde, já morando com David (ele foi meu último relacionamento, depois dele só uns flertes) minha vida de maquiadora free lancer cresceu, e uma conhecida dele arranjava pra eu fazer uns bicos em escritório, ou até mesmo panfletando. Porém esse capítulo David vai ser escrito em outra matéria, mas foi quando nosso relacionamento começou a esfriar que eu resolvi abrir um blog chamado A Arte na Maquiagem. Eu escrevia sobre maquiagem, fazia tutoriais, escrevia sobre o tema, pois ninguém vê o quanto de arte tem numa maquiagem. Escrevia sobre minha vida e também de fotos. Eu adorava, mas de novo, com o fim do relacionamento eu tinha que tocar minha vida e em 2012 eu só escrevi 12 matérias. Mas o blog ainda está no ar, e vou deixar o link aqui pra quem tiver curiosidade. Vou tentar colocar na publicação chamada ‘Linda Rapidinho’. Acredito que o instagram tornou a maquiagem popular, porém o lado ruim é que por causa disso estão tirando a arte e enchendo de produtos pra vender!
Sou encantada por cores, e gosto muito de um momento de produção. Lembro que nas bodas de ouro de meus pais a minha festa aconteceu antes, quando fiz umas 8 maquiagens, incluindo a minha e de mamãe e isso pra mim foi o meu Oscar de maquiagem, ser parte de uma grande comemoração deixando minha mãe mais linda! No frigir dos ovos, maquiagem pra mim é trazer pra superfície a beleza interior daquela pessoa que eu maquio!

Espero que vocês gostem do blog e do video demo, tudo feito por mim e em uma outra oportunidade conto mais um pouco de minha vida de maquiadora.
Até a próxima!
Aída
Respostas de 20
Que história linda, amando ler seus textos🥰🥰Parabéns 👏🏻👏🏻
Grata 🙏🏼 Lucy! Continue lendo, compartilhando e comentando! O jornal é eu agradecemos! 😘
Linda história! Sempre muito batalhadora e correndo atrás do que queria. Orgulho de você, tia!! Está arrasando no jornal! ❤️ beijos e saudades
Grata Mari! Fico feliz que vc está curtindo esse coluna… continue lendo e comentando e compartilhando! Saudades também 😘
Aída, mais uma vez você mostrou sua luta pra conseguir o que sonhava. Meu Deus quanta bravura, persistência, insistência e o melhor de tudo, nunca desistiu de lutar pelo que queria. Parabéns guerreira.
Querido amigo Albino, todo seu comentário me deixa lisonjeada… Como mencionei em um de meus artigos meus passeios também são minhas caminhadas de fé, e minha jornada de vida também…. Quando comecei escrever esse artigo, não sabia onde parar, e enxugá-lo foi quase impossível, aí veio a hora das fotos e tudo se complicou 😂 tantos trabalhos ficaram de fora… mas assim pude dar uma ideia do que foi me tornar maquiadora quando poderia ter seguido como advogada.. no regrets! 😘