terça-feira, 17 de junho de 2025 – 23h32

Aprendi a Ser uma Ilha

Um Passeio na Ilha de Wight!

Queridos Leitores,

Como ontem dia 30 de Maio, meu pai completou 91 anos de vida, apesar de ter partido 6 anos atrás, eu continuo comemorando essa data e para tal resolvi falar de uma aventura que fiz em 2017, em busca de minha paz e equilíbrio!

À esquerda: nas calçadas cerâmicas apontavam os caminhos para o mar ou para a terra… a maioria dos lugares ficam bem acima do nível do mar. E à direita: as lâmpadas do muro do hotel onde fiquei.
Da janela da balsa, deixando Portsmouth
Esse é um dos 4 Fortes no canal de Solent, que é o canal entre os sul da Inglaterra e a Ilha de Wight. Esse forte é o Spitbank Fort, que depois que serviu como defesa, virou museu e em 2012 virou um hotel spa muito exclusivo!

Por 11 anos eu morei com David em St. Albans, mesmo depois que nosso relacionamento acabou, ele mudou de quarto e aos poucos fomos esquecendo nosso romance e convivendo como amigos. Em 2017 tivemos que nos mudar, David rumou pro norte e eu resolvi voltar para Londres, pois já trabalhava em Londres.  Eu consegui uma casa legal, com a pessoa responsável pela casa, uma brasileira e que costumava alugar os quartos para modelos. Confesso que foi assustador sair da paz de St. Albans e ir morar numa casa onde tinha sempre uma modelo com idade de ser minha filha, e às vezes mais de uma… e antes mesmo de completar um mês que estava na casa eu tive que dar uma fugida daquela balbúrdia, eu estava exausta e resolvi ir para a Ilha de Wight. Um lugar bem legal no verão, e ir no final de abril foi fácil de conseguir um hotel bom e bem barato.

Caminhando pelos arredores do hotel, indo ver o só se pôr na praia, me deparo com o navio chegando… e porque não colocá-lo em cima do telhado?
À esquerda o relógio da praia de Shanklin onde fiquei e à direita eu encantada com a cor de uma das paredes do meu quarto no hotel!

Quando cheguei em Southampton para pegar a balsa eu pensei que teria desconto por ter um reserva de hotel na ilha… rsrs, doce ilusão Aída, e uma viagem baratinha ficou menos baratinha, mas não quebrou o banco!

A Casa Appuldurcombe, uma mansão abandonada do século XVIII, foi a casa maior e mais luxuosa da ilha. Seu dono, Sir Richard Worsley ganhou notoriedade em 1742, por causa de um processo na justiça em que sua mulher admitiu ter tido 27 amantes!
Como fui de manhã, tive a sorte de ter tido um luz perfeita. Essa seria a sala da frente

O hotel era bem legal, e tudo na ilha era perto do mar…rsrs, óbvio! Antes de ir já tinha ideia do que queria ver, e ao explorar a ilha dava para ver e ouvir o burburinho do verão em minha imaginação!

O salão vizinho do salão anterior e o sol me dando um espetáculo só meu. Eu era a única visitante desse lugar nesse dia e algumas pessoas trabalhando na recuperação dela….
Esse é um dos lados da casa… o ‘véio’ da mansão tinha dinheiro…. rsrs
O lugar, mesmo abandonado é lindíssimo… O English Heritage toma conta desse lugar desde 1984… só mantém ela em pé. A visitação é gratuita

Vocês sabem que gosto de viajar sozinha, gosto de fazer o que me der na telha, na hora que quero, e essa viagem não  foi diferente além de que eu precisava encontrar dentro de mim a paz que eu tinha perdido quando voltei a morar em Londres, uma vez recuperada a minha paz, nada nem ninguém me atrapalharia mais. Para me readaptar a morar numa casa cheia de gente eu fui para uma ilha quase vazia para desopilar, para achar meu centro de gravidade e lacrar a paz dentro de mim, sem me importar com as outras pessoas da casa!

O que mais me encantou na casa foi a fonte, me fez sentir que apesar de tudo, ali ainda tinha vida!
Outra parte da casa…

Toda minha vida é uma sucessão de solitude. Fui mãe solteira e achava normal conversar com minha barriga e não ter respostas. Meu casamento também não foi lá essas coisas. Sempre que queria fazer algo, fazia sozinha, pois o ex não gostava de nada, no final saí do relacionamento pois sozinha já estava. Separação num país estranho, foi difícil, mas eu enfrentei tudo e não quis voltar para o Brasil pois já estava acostumada a ser assim sozinha e ser sozinha aqui é muito mais fácil.

Subi o morro para conhecer o oratório de Santa Catherine e me deparo com essa linda baia de Chale.
Esse é o Oratório de Santa Catherine. Foi construído por um cara que roubou o vinho de um navio que afundou na baia de Chale, para não ser excomungado. Tinha um padre que rezava missa nesse oratório pelas almas dos marinheiros que morriam na baia. Ele também era usado como farol e o padre era o responsável para acender o candeeiro. Ao redor nota-se muitas covas pelo desnível da grama…

O pior momento de todos foi quando veio o diagnóstico de câncer de mama no meio da pandemia. No hospital a enfermeira me disse: ‘você vai ter que aprender a pedir a ajuda’, eu aprendi, mas aprendi também que nem todo mundo quer ajudar! A princípio fiquei triste, mas depois voltei para o  meu ‘modo’ sozinha!

Em todo lugar que chegava, antes de descer para o nível do mar, tinha sempre uma foto perfeita ao meu alcance!
Ventnor, uma das praias mais popular da ilha.
Aqui a praia… o dia ensolarado mas a temperatura ainda fria para pegar praia!

O fato de ter me sentido em casa numa ilha, é porque sempre tive na cabeça que sim, eu também sou uma ilha, sozinha. E foi lá que eu pensei  em como lidar com uma casa cheia de gente que não agregava nada em minha vida. Era só uma moradia, e ela seria passageira.

Como disse, sempre uma foto esperando por mim!
Os penhascos brancos… típicos do sul da Inglaterra!

Todos os dias agradeço a Deus o milagre da vida, e de ter me colocado aqui no meu lugarzinho, para eu poder ter tido força e paz para enfrentar tudo que tive que enfrentar. Sou sim uma ilha, e a ilha de Wight foi minha mestra!

Cowes, uma cidade da ilha…
A torre de uma igreja perto do hotel… me encantei com o céu sem nuvens!

Talvez meu pai nunca tenha me entendido. Uma vez numa carta que ele escreveu aos filhos ele me descreveu como a filha calada que só observava, e ele pensou que eu ia ser freira…rsrs até o dia que comecei a falar e não parei mais!

Da balsa voltando para a ilha maior avistando Portsmaouth!

“Sabe pai, não importa se o senhor não me entendia, importa sim que me amou e é por isso que vou sempre comemorar seu aniversário, fazendo minhas aventuras, escrevendo sobre elas, fazendo minha poesia visual que sei que o senhor se amarava nelas! Que nesse dia o céu se encha de sua alegria, pois lembrar do senhor enche meu coração de alegria e muita saudade! Um dia, a gente se encontra no céu!”

Fiquem com as fotos e a poesia!

Até a Próxima!

Aída

Onde há água,
Há vida!

Onde há vida,
Há esperança!

Onde há esperança,
Há amor!

E com amor,
A vida é feliz,
Não importa se tem dor,
Tudo deixa cicatriz!

Aída
30/05/25

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