sexta-feira, 25 de abril de 2025 – 09h36

Centro de Maceió, às voltas com a ausência

Prédios deteriorados, fachadas escondidas por fios desordenados, muros de comércios erguidos sem harmonia
Rua do Comércio, no Centro de Maceió - Foto: LulaCastelloBranco/NC

Caros amigos leitores,

Sinto-me à vontade para compartilhar com vocês o meu caminhar, que, como andarilha, busco nas fontes o desejo de apresentar, mostrando a nossa riqueza cultural e, em alguns momentos, resgatar a cultura que anda um tanto esquecida e muitas vezes maltratada, seja pelas intempéries do tempo ou pelas mãos do próprio homem.

É sobre isso que irei compartilhar na nossa coluna. Nas minhas caminhadas, aos quais prefiro olhar para o céu e sua beleza, em vez dos buracos das ruas, pois é essa a beleza que deve nos encantar e nos aproximar, guiando-nos com sua magnitude. No entanto, o que trago hoje é um alerta: a necessidade urgente de preservação do nosso patrimônio cultural, tanto material quanto imaterial, com um olhar especial para o centro de Maceió.

Cresci nos arredores do centro, minha trajetória era de aproximação e diálogo com a comunidade, do comércio vivo, da experiência tátil de sentir a cidade. Mas, ao revisitar esse espaço com um olhar de turista – ou melhor, de um passageiro desconhecido em sua própria nau –, deparei-me com um cenário que me entristeceu.

Embora tenha ficado momentaneamente cega com a claridade do piso de uma das praças centrais, o que realmente ofuscou meu olhar foi a constatação do abandono de um espaço que já foi referência em cultura, letras e artes. O berço da excelência intelectual de Alagoas parece um campo de guerra: o espaço deteriorado, sem grades, cores e vida, e pasmem sem nenhuma identificação do que foi ou representa.

Diante desse cenário, cabe aos gestores do local explicarem como permitiram que um patrimônio histórico tão significativo para nossa cidade chegasse a esse estado lamentável. A omissão e a negligência não podem ser justificadas – é urgente um esclarecimento e, mais do que isso, uma ação imediata para reverter essa degradação.

Seguindo, adiante observei os prédios deteriorados, fachadas escondidas por fios desordenados, muros de comércios erguidos sem harmonia, sufocando o que ainda resiste da história.

Caos histórico-cultural – Foto: LulaCastelloBranco/NC

A antiga farmácia de Jorge de Lima permanece ali, mas sem que sua importância seja contada às novas gerações. O Montepio dos Artistas, recentemente reformado, poderia ser um símbolo de resistência e preservação, mas pouco se fala sobre seu papel histórico para a cidade. Outros edifícios de valor inestimável são engolidos por fachadas comerciais desordenadas, enquanto reformas muitas vezes apagam memórias ao invés de resgatá-las.

Nosso centro histórico precisa ser redescoberto e valorizado. Onde estão as placas informativas que nos contam essas histórias? Onde estão os projetos educativos que aproximam a população desse legado? Cada rua, cada praça, cada construção tem algo a nos dizer, mas muitas dessas vozes estão sendo silenciadas.

É preciso transformar nosso olhar. O patrimônio do centro de Maceió não é apenas um cenário antigo; ele é um elo entre nosso passado e o futuro que queremos construir. Valorizá-lo é preservar nossa própria identidade, é garantir que as ruas por onde andamos hoje ainda contem histórias para aqueles que virão depois de nós.

Convido-os para que possamos, juntos, caminhar por essas ruas não apenas como meros passantes, mas como guardiões de uma memória que merece ser celebrada e perpetuada.

Sempre em alerta, até a próxima semana meus amigos.

Respostas de 2

  1. Ana Karla, passei parte da infância e adolescência morando no Centro e sei bem sobre o que você está alertando. Parabéns pelo conteúdo e já aguardando o próximo texto.

  2. EXCELENTE e NECESSÁRIA são as palavras que definem essa matéria!!! Parabéns pela maneira que vc abordou o assunto. O Centro realmente é um patrimônio histórico de todos nós e temos q fazer as autoridades entender isso!

  3. Muito importante e interessante essa reportagem, nós e a nossa cidade merecemos, temos tudo para ser uma cidade cheia re beleza, temos lindas histórias e monumentos, falta só uma visão de amor e iniciativa. Também todos nós temos que cobrar, temos que mostrar os problemas e cobrar também dos donos de loja que cuide da frente da sua loja. Não é somente das autoridades. Tem lojas no Centro, poucas, que revitalizaram a frente, ficou linda, merece o nosso respeito, a Bagaggio é uma delas.

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