Caros amigos leitores, a semana que passou teve algo de especial, talvez, para muitos, nada a contar. Mas, para aqueles que ainda guardam na memória os tempos em que o rádio era o centro das atenções, o dia 13 de fevereiro resgata um motivo de celebração: o Dia Mundial do Rádio.
Cresci com um rádio ao lado. As “manhãs brasileiras” já indicavam que o dia iniciava e, com uma pequena magia, nos faziam acordar e seguir em frente. Sem imagens, sem efeitos visuais, apenas com som e emoção, o rádio conseguia criar cenários na nossa imaginação. O locutor narrava e, aqui, do outro lado da sintonia, era possível sentir cada palavra, e parecia que vivíamos o momento como um presente, em um dado instante, em um lugar secreto.
O efeito da instantaneidade da informação chegava, sim, a qualquer lugar, do sertão ao mar; não havia distinção de classe social, renda ou qualquer outro fator. Todos ouviam e interagiam e, o mais importante, a credibilidade era a fonte do seu sucesso. Fake News é coisa do presente e não combina com as narrativas do nosso rádio. Acredito, caros amigos, que seja por isso que, naquela época, as pessoas paravam para ouvir. Era uma conexão direta, sem distrações, sem pressa. O rádio falava, e a cidade ouvia.
A rádio AM tinha essa magia. O locutor narrava e o público via, sentia, vivia cada palavra. Longe de saudosismo, o rádio não era apenas uma fonte de notícias; ao ouvi-lo, tínhamos, em volta da mesa de nossas casas, a cultura em forma de entretenimento. Era pela rádio AM que ficávamos sabendo das novidades e, devagarinho, íamos construindo laços com as pessoas, até formarmos a nossa rede particular, mais forte do que a interação midiática digital nos dias atuais.
E ninguém fazia isso melhor do que Edécio Lopes. Ele era a alegria em forma de voz. Quando o ano mal começava, ele já anunciava as marchinhas de carnaval, transportando-nos para um clima de festa, antes mesmo de fevereiro chegar. Seu programa era um verdadeiro mosaico da cultura popular alagoana.
A felicidade em forma de alegria percorria o ano inteiro. Em maio, a “Caravana da Felicidade” levava alegria por meio das cartinhas escritas pelos ouvintes aos mais distantes locais da cidade. Até hoje lembro-me de quantas tardes e noites passei escrevendo as cartinhas, no sonho de ver o presente chegar. Eram momentos ímpares de construção coletiva aqui em casa. No São João, a cidade se transformava, os bairros se vestiam de cor e festa para compor a melhor festa junina, isso tudo graças à penetração do rádio nos lares da nossa cidade.
Hoje, vivemos em um mundo dominado pela internet e pelas redes sociais, onde tudo é compartilhado em segundos. Mas, se pararmos para refletir, perceberemos que o rádio já realizava muito do que se fala sobre engajamento e participação coletiva. As redes sociais vendem a ideia de conexão instantânea e interação em tempo real, mas o rádio já fazia isso há décadas. O ouvinte enviava cartas, participava de sorteios, dedicava músicas e interagia diretamente com os locutores, criando uma rede social analógica, porém muito mais humana e afetiva.
O termo minimalista de “rede social”, na prática, já existia. O rádio promovia debates, criava tendências e fazia com que a cultura se espalhasse de maneira orgânica. Era um meio acessível, democrático e, acima de tudo, um agente de construção coletiva. O Dia Mundial do Rádio não é apenas uma data para lembrar sua importância, mas para reafirmar seu papel na história e na cultura. E, principalmente, para agradecer àqueles que, como Edécio Lopes, trouxeram felicidade em nome da alegria e fizeram do rádio um verdadeiro patrimônio da nossa memória afetiva.