Quantas vezes não nos deparamos com esse tipo de construção em nossa vida?! Quantas vezes nós mesmos não a produzimos?!
Aqui não nos compete julgar o certo ou o errado dos falares, mas tão só debruçarmo-nos sobre eles para estudá-los e entendê-los. E entendendo-os amá-los!
Aqui teremos duas abordagens diferentes na tentativa de explicar o fenômeno.
Na primeira, o professor Mário Marroquim (1896-1975), pai do homônimo alagoano, chama a esse fenômeno de vocalismo, dizendo que quando um a tônico «seguido de s ou z finais acrescenta um i, ditongando-se» (MARROQUIM, M. A língua do Nordeste: Alagoas e Penambuco. 4.ª ed., Maceió: Edufal, 2008, p. 37). Isso pode-se notar nas formas populares e na fala erudita mais despreocupada. Parece ser uma característica natural da fala.
A esse fenômeno, a linguística histórica chama de epêntese, um tipo de metaplasmo por aumento, quer dizer que há «acréscimo de fonema [som] no interior da palavra» (COUTINHO, I. de L. Pontos de gramática histórica. 6.ª ed., Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1974, p. 146). Um metaplasmo são as mudanças sonoras que sofrem as palavras em seu processo de evolução. Algumas dessas mudanças na fala passam mesmo para a escrita e vão dando a uma língua sua compleição.
Se notarmos bem, o acréscimo de um i entre a vogal tônica final e o s ou z que lhe segue é algo comuníssimo em nosso falar alagoano, nosso “dialeto” alagoanês.
Quer parecer que isso respeite a uma lei fonética, a chamada lei do menor esforço, segundo a qual sempre se procura tornar mais fácil aos órgãos fonadores a articulação das palavras. Seu objetivo é tanto a facilidade na fala quanto a uma eufonia, isto é, que as palavras tenham um som mais agradável ao ouvido. Essa lei é universal!
O mesmo Mário Marroquim afirma com precisão que «mas e mais têm uma só forma que é mais» (p. 37).
A segunda abordagem que nos compete fazer é considerar para além da ditongação, vista por Marroquim, outro aspecto. A perda do s final.
Dentre os metaplasmos, há um grupo chamado de metaplasmos por subtração, neste grupo, encontramos a apócope, que é a queda de uma vogal no fim do vocábulo.
Cada palavra pode passar e passa por diversos processos de alteração até chegar à forma como a conhecemos e usamos.
Com isso, devemos ter consciência que a língua é uma construção social, mais que uma mera cristalização gramatical. De modo que muda e sempre mudará, pois está viva.
Nosso alagoanês não enfeia a língua portuguesa, mas antes a torna diversa e bonita.
Uma resposta
Fantástico!!!