O tempo transcorrido entre 1817 à 1822 de quase cinco anos, entre os dias dezesseis e sete de setembro, trazer podem uns singulares minutos de pensamentos imagéticos e imaginar cenas da história.
Há uma vez, uma fala determinada na frase:
“- Quem estiver comigo eu ajunto; quem estiver contra mim, espalho.”
Há uma voz imperativa na forma bradante de dizer: “- Independência ou morte!”
Podemos imaginar que ditas, se é que foram, essas falas tratam de momentos de rupturas na história do Brasil.
A primeira dita por um Príncipe Regente de uma ex colônia elevada a Reino Unido cujo território, para efeito de exploração e ocupação foi anteriormente traçado com rigor da régua, do oceano para dentro e limitado por um acerto em Tordesilhas (1494), adquirindo passo a passo um novo e orgânico desenho fundamentado na regionalidade. Corte rápido e o Pernambuco, a capitania que deu certo perde terras numa só penada. Trechos para formar a Paraíba; significativas porções ao longo do Rio São Francisco para a Bahia, o filet mignon do massapê para a cana de açúcar e das águas para confirmar em formato da grega letra delta; As Alagoas. Sem tiro, sem espada, sem mérito. Um desmembramento cognominado emancipação política. Sem a menor graça.
Assim agiu o pai ao se ver ameaçado. 16 de setembro de 1817.
A segunda dita por um outro Príncipe Regente cuja influência inteligente de esposa preparada e ciosa, nutre de modo antecipador e sublime o pensamento recorrente entre uma identidade nacional que se forma com a ânsia reprimida de liberdade.
Após a leitura de missivas, o ato retumbante de desembainhamento da espada real sobre o reflexo fluvial do Ypiranga. Laços fora!
Assim heroicamente retratado agiu o filho ao sentir-se provocado. Sete de setembro de 1822.
Alagoas fará 206 anos.
O Brasil inteirou 201 anos.
Setembro em comum.
Laços de sangue, da étnica miscigenação, das muitas histórias e muitíssimas mais estórias, das religiosidades, do território.
Nesse setembro chove em Maceió, o vento nordeste entrou cedo nos primeiros dias, logo o matury aparecerá no lugar das flores dos cajueiros e a florada das mangueiras fará coro e companhia.
Ao percorrer o Centro de Maceió é muito possível perceber as camadas da ocupação desta área tão significativa e vital para a capital. Talvez tenhamos levado alguma recomendada intenção pelo mês que transcorre. De alguma conversa ou mesmo de uma nova leitura, deste modo aguçamos os nobres leitores para os nomes que batizam os logradouros, as denominações pelas quais as ruas, avenidas, praças e becos ostentam a carga de orientação e reconhecimento.
Arriba urbaNAUTAS! Vamos circular prospectando para estender algumas noções.
Possibilidades ao esquadrinhar os quarteirões em busca da percepção cronológica transmitida hoje e agora, mesmo sabendo que muitas localidades tiveram nomes trocados, supressões e alterações.
Por que? Qual a intenção? Muitas ruas podem ser interpretadas no modelo; Rua Cincinato Pinto, antiga Rua do Macena.
Penso daqui, seletos urbaNAUTAS, que nosso passeio poderá ser pelas ruas, entretanto de forma singular: tal qual o mestre do léxico nosso conterrâneo Aurélio Buarque de Holanda, vamos buscar os significados, não das palavras, mas dos nomes, denominações das ruas que fazem circular pelo Centro de Maceió, as pessoas, os veículos, as mercadorias, os ventos e a luz do sol em se tratando dos dias e as estrelas e a lua em suas fases em se tratando das noites. Estrela Radiosa, há alguma? Mulheres homenageadas há?
Vejamos como o giro por letras que marcam o traçado urbano e desenham os quarteirões, quadras esconsas, largos e becos. Definidoras dos lotes e promotoras do uso do solo.
Se pensarmos que a Maceió que hoje se apresenta como urbanidade, já foi rural! Como a ocupação partiu de algumas centralidade convergentes e como foram se ligando entre si. Em dado momento os filhos da terra com seus títulos de bacharéis voltaram de estudos em outras cidades, em outras terras. Logo passaram a influir no modo como a vila se encontra. Têm necessidade intrínseca das novidades que estavam acostumados; banhos quentes, iluminação noturna, casas de diversão, jornais, deslocamentos, conversas, aperitivos….
Paulatinamente costumes cosmopolitas começam por cair no gosto, as camadas e os vernizes culturais se enraízam como tradução na própria tradição e se perpetuam mais demoradamente.
Retificações de arruados e encampamento de arrabaldes se dão de progressiva maneira, o mote do progresso reconfigura a espacialidade, se introduz no cenário que se desenvolve o transporte coletivo dos bondes à muares sobre linhas de ferro e que foram alterados para motores elétricos, posteriormente os “sopa” (ônibus) que suplantaram esses bondes tão poéticos e literários, fundidos aos memorialista. Onde estão esses testemunhos? Ocultos? Sepultos? Os trilhos sob os paralelepípedos drenantes e sob o aquecedor asfalto tão dados ao aumento perigoso das velocidades.
Qual a leitura dos acontecimentos e fatos que atravessaram décadas e marcaram épocas, tão díspares dos tempos vividos agora onde o impermanente vigora. Onde o novo já é rapidamente substituído pelo mais novo que velozmente caduca num círculo de fabricação das substituição das substâncias. Tudo bem volátil. Onde nada pode durar em existir.
Onde estamos? Na época das denominações primevas? Rua do Açougue, Rua do Carmo, Beco do Marabá, Rua do Macena…
Ou andaremos pela Praça da Independência, pela Travessa Sete de Setembro, pela Rua José Bonifácio, nomes que remetem ao Primeiro Império…
Num segundo e estaremos juntos circulando pelos Barões; Rua Barão de Penedo, Rua Barão de Atalaia, Rua Barão de Anadia, Rua Barão de Alagoas, Rua Barão de Maceió ou Praça Visconde de Sinimbú e Rua do Imperador, indo para Praça Pedro II em tempos do Segundo Império….
Aconteceu república e pisamos nas Praças Marechal Deodoro e Marechal Floriano ( terra dos marechais), e a iminente política local distribuiu aos quatro ventos denominações cujas derivações nos trarão sucessivos nomes que se alternam como os fatos geradores em si…
Maceió permite perguntar ao visitante mais interessado e ao morador mais atento o que as histórias latentes tem a dizer aos ouvidos mais variados e distintos.
As efemérides registradas por Moacir Santana nos revelam uma visita do presidente Getúlio Vargas, cuja herma situada no Palácio do Trabalhador homenageia o portador da carteira trabalhista n° 01, em setembro já longínquo com salvas de tiros e fogos na colina da Jacutinga face a comício vultoso. No setembro se observa homenagem ao filósofo Auguste Comte cuja ideias positivistas marcaram o lema “Ordem e Progresso” do pavilhão nacional.
Outros fatos são relacionados a imprensa e a política de modo geral. Alagoas terra de políticos que reverberam nacionalmente e continuamos a esperar uma atitude mais ativa em prol deste torrão.
E tem o Centro Sportivo Alagoano, agremiação no futebol que defende o azul de minha preferência, fundado em sete de setembro (originalmente Centro Sportivo Sete de Setembro).
Que meu avô Pedro de Moraes Farias, morador da Rua Barão de Alagoas chamava de “Centro” ao se referir ao CSA.
Por falar em setembro, acertada ação tomou a municipalidade com o programa “Sextou” nas primeiras sextas feiras de cada mês. Fui ao de primeiro de setembro e reencontrei muitos conhecidos, amigos novos e antigos ao som de uma bem conduzida roda de samba que lotou o espaço em derredor. Além da brilhante e complementar exposição das fotografias antigas organizadas por Edberto Ticianelli, que revelam aos nossos olhares que as perdas do conjunto urbano (diga-se muito mais belo e fortalecido pela unidade arquitetural), foram muito grandes. Aos observadores surpresos e outros testemunhos saudosos, um desfile do obituário arquitetônico que fica para a posteridade.
Gentes de todas as gerações e tribos estavam no comércio, ali onde o relógio central dava as horas. E estas se passaram chegando a noite com musicalidade e lojas abertas para possibilitar um grande abraço, reforço de compras e iluminação. Experiência por demais recomendada e que deverá se repetir em outubro vindouro. É impressionante como o cair da tarde entre silhuetas de construções conhecidas e refrescada pela brisa torna agradável o ambiente central de nossa cidade.
Voltei a sentir falta de banheiros públicos cuja operação promoverá maior conforto e asseio aos usufrutuários.
Vimos pessoas dançando, bebericando, em cadeiras de rodas, em animadas conversas e casuais encontros. A felicidade estampada em rostos relaxados a se divertir, a se solidarizar, a comungar o momento tão salutar.
Passamos a missa do final de tarde na Igreja do Livramento, o que nos leva a refletir sobre o óbolo, a esmola. Auxílio tão luxuoso em caridade e tão necessário. Estimados leitores vocês deram esmola hoje? Dêem!
Do livramento passamos ao largo onde as meninas vendem os mais apetitosos doces e broas, além das castanhas e amendoim. Mel e mais sabores, com um pouco de sorte tem até siri de coral…
Era sexta feira e a semana passada na labuta costumaz, na arquitetura nossa de cada dia culminou com uma alegria e tanto. Daqui enviamos os parabéns aos organizadores e as pessoas que estiveram trabalhando enquanto todos puderam aproveitar como bem entenderam.
Talvez e pela necessidade de encerrar nossos escritos, aproveito para enaltecer o trabalho de todos os profissionais engajados que fazem o NOTÍCIAS DO CENTRO, parabéns e vida longa pelo belíssimo caminho que vem sendo traçado.
E parodiando minha querida amiga colunista, articulista, ensaísta Aída Barros de Britto, autora do espaço “Poesia Visual” que sai quente todos os sábados, ouso dizer, de modo a pensarmos sobre:
“INDEPENDÊNCIA OU MARTE”!
E vivas as cadeiras onde todos nós estamos sentados.
Maceió das Alagoas,
terça feira,
12 de setembro de 2023
RCF. Texto e fotos
Respostas de 6
Muito honrado, obrigado Aída!
“God save the Alagoas” and ” God bless you” !
Nossa, já estamos no domingo e eu com tantas coisas não parei pra comentar … mais uma vez uma viagem no tempo e sim o mundo anda tão chato que é bem isso: independência ou ‘Marte’ mesmo!
Parabéns 🎊🎉🎈🍾 Alagoas por sua emancipação e por ter nos dado esse alagoano da melhor qualidade! 😘
É sempre bom ler as suas ilustrações sobre o nossa história. Obrigada meu querido
Querida Flávia, muito obrigado pela forma carinhosa de incentivar!
Sempre coerente em suas colocações habituais, o colunista nos leva a um passeio agradável ao centro de Maceió. E coincidentemente hoje dia 12/09 andando pelo território abordado me deparo com o descaso de nossos políticos e autoridades em relação à manutenção de lugar tão aconchegante. Roberto Farias vê. Sente juntamente com a obra de arte que vislumbramos… lugar mais que agradável e acolhedor… o Centro… ali
voltamos no tempo em que íamos ao cinema São Luiz… ponto de encontro de gerações passadas, que hoje já não existe mais… pastelaria Danúbio e seus flutuantes resistem… são as atualizações do tempo…parabéns caro colunista.
Obrigado caríssimo Eduardo Rocha, olhar apurado e dono de aguçado senso estético. Importante colher aqui vossos vislumbre certeiro e real, seu compartilhamento enriquece o “sentir o Centro”; experienciar o espaço e demonstra mais ainda quando recorda o já passado tempo dos cinemas, que lamento, pois a garantia da diversão empolgava a todos que circulavam na área em tela. Daqui meu reconhecimento e abraço fraterno.