Mês de junho. O São João pipocando por aí, e eu aqui lembrando velhos carnavais. Gostamos de todas as festas, aliás, por aqui ou por lá?! Não era preciso motivo para virar festa, se não tivesse motivo, a gente, ou melhor, ele inventava. Dançávamos quadrilha, pastoril, desfilamos nos 7 e 16 de setembro, comemorávamos copa do mundo, campeonato estadual, mas quando chegava o carnaval… Ah! No carnaval, a coisa era diferente.
O dia não bem começava, nem havíamos terminado nosso “angu com tapioca”, desjejum preferido quando criança, e já ouvíamos: _ “Maria, o que tem de tira-gosto para o pessoal”. Era sábado de Zé Pereira, o carnaval começava na Praça Guimarães Passos, 17. Papai arrumando as bebidas que seriam servidas para o pessoal dos blocos, que passariam naquele dia. Mamãe em toda sua tranquilidade e no seu tempo, tentava organizar os comes para acompanhar os bebes, que seriam servidos aos músicos e porta-estandartes das agremiações, em sua maioria, conhecidos do trabalho, do bairro, do bar.

Tinham acesso ao interior da casa. Os demais que estavam acompanhando, fazendo o passo, ficavam na porta, aguardando que o bloco seguisse. Lá, na cozinha, mamãe se virava para oferecer um tira-gosto para todos, que desse “sustança” para a caminhada longa do dia. Enquanto preparava, ouvíamos: “Ô Júlia, ô Júlia, ô Júlia! O que é que a Júlia tem? A Júlia quando chora tem saudade do seu bem”. Como boa pernambucana, chegando a Alagoas bem pequena, não esquecia as origens e, com toda sua calma e falta de pressa, atendia a todos.
Passávamos o dia esperando. Lá vem o Arrasta Veia, o Amigo da Onça, o Bloco dos Estivadores. Papai trabalhava na Administração do Porto (Fiel de Armazém), conhecia todos. Os “blocos de sujo”, rapazes da vizinhança, que tomavam “por empréstimo” os vestidos de mães, irmãs, primas, madrinhas e namoradas e saiam, de porta em porta, tomando umas e outras.
Nesse entra e sai de gente animada, não faltava uma boa dose de “mela-mela”, com talco cashemere bouque. Ninguém escapava. A casa ficava com esse perfume pelo ar, e o chão com punhados de confete e serpentina até a quarta-feira de cinzas, serviço perdido tentar limpar. As horas passavam, e os blocos enchiam as ruas do bairro do Poço de alegria e animação.