Por Renata Marinho
A única coisa que pude ver, além de névoa, foi a conveniência que estava tão acesa quanto um farol. Andei em direção à porta e a atravessei. Nada tinha de incomum naquele lugar. Vi a atendente em seu caixa, ela não me parecia familiar, também um homem com seu boné azul, sentado numa poltrona, enquanto mexia no celular. Não pude ver o seu rosto.
Caminhei até as prateleiras próximas ao rapaz, peguei algo e levei até o balcão. Por alguma razão, olhei para trás. Foi quando a vi. Ela estava lá me encarando e sorrindo, depois caminhou lentamente se perdendo entre os corredores daquele lugar. Pensei em correr ao seu encontro, mas eu não conseguia me movimentar.
Logo senti que meus pés estavam encharcados, e a água estava subindo rapidamente. Olhei em direção à poltrona e a água já tinha engolido o rapaz de boné. Então me voltei para a balconista que, em meio ao desespero, bateu a sua cabeça com tanta força numa prateleira, que vi seu sangue flutuar.
Neste momento, a conveniência já parecia um grande aquário, e eu estava distante do chão. Eu podia respirar lá dentro sem nenhuma dificuldade. Comecei a movimentar os braços e as pernas, como se voasse. Os movimentos eram leves.
Por um breve momento pude ver, aquela conveniência vista por fora, distante, era bela.
E ela?! Eu precisava encontrá-la!
Continuei nadando e foi quando a vi, no final do terceiro corredor, deitada no chão. Me aproximei e encarei novamente o seu rosto desacordado, aquele rosto, eu o conhecia tão bem.
Eu encarava a mim mesma.
Acordei.