sexta-feira, 17 de outubro de 2025 – 23h42

Senador suspeita que esquema de fraudes do INSS envolve lavagem de dinheiro de bets

Marcos Rogério questionou relação entre escritório de advocacia e site de apostas
Senador Marcos Rogério - Foto: Reprodução/PedroFrança/AgênciaSenado

O senador Marcos Rogério (PL-RO) afirmou, na segunda-feira (6), durante a CPMI do INSS, que o esquema de fraudes bilionárias contra aposentados e pensionistas pode ter se transformado em lavagem de dinheiro, para site de apostas online, as chamadas bets. “Me parece que estamos diante de uma organização que misturou dinheiro dos aposentados e dinheiro da jogatina, num grande esquema de lavagem de dinheiro”, disse Rogério.

A afirmação foi feita durante depoimento do empresário e economista Fernando Cavalcanti, investigado como “laranja” do esquema de descontos associativos não autorizados, de aposentadorias e pensões do INSS. Cavalcanti é ex-sócio do advogado Nelson Willians, que já foi ouvido pela comissão. Ambos são investigados e alvos de operação da Polícia Federal (PF).

Para exemplificar a suspeita, o senador tratou da cessão de uso e da compra de helicóptero importado, identificado como AirBus EC 130 T2. “Esse helicóptero é importado. Ele entra no Brasil na casa dos 22 milhões de reais. Ele é comercializado por 24 milhões. Mais um pouco adiante, é comercializado por 24,5 milhões. E, na quarta etapa, tem uma cessão de uso. E aqui começa a entrar a história. Ele tem uma cessão de uso não onerosa ao senhor Nelson Willians”.

Rogério chamou atenção pela diferença de preço, praticada entre a chegada da aeronave ao Brasil e a compra pelo investigado. “Essa cessão de uso demorou pouco tempo. Na sequência, há um distrato e uma venda, transferência de propriedade. Em 9 do 8 [agosto] de 2024 começou. Em 25 do 10 [outubro] de 2024, ele deixa de ser desse leasing e passa a pertencer definitivamente ao senhor Nelson Willians Advogados. Sabe por quanto? 6 milhões de reais”. 

O parlamentar alertou para o tipo de negociação. “Todas as transações anteriores na casa dos 22, 24 milhões [de reais]. Agora 6 milhões. Menos de 90 dias depois, esse mesmo helicóptero é vendido por 15 milhões. Compra por 6 [milhões de reais] e vende por 15 [milhões de reais]. Eu não sei qual nome se dá a essa transação, mas me parece estarmos diante de uma grande lavanderia”. 

Rogério questionou a relação entre os investigados e a bet. “Com base em indícios e documentos já reunidos, o modus operandi, atribuído ao Dr. Nelson Willians e ao seu entorno – uso de empresas de fachada, contratos de comodato, cessão de uso, arrendamento e ‘laranjas’ -, para internalizar e esquentar recursos de operadores de apostas sediados no exterior”.

Para o senador, a conduta é a mesma usada no esquema do INSS, que envove o escritório de advocacia. “Espelha a mesma engenharia que teria sido empregada por Maurício Camisotti [também investigado], no caso dos desvios do INSS. Há inclusive elementos de que a advocacia, mantida pelo grupo, teria servido, em parte, como fachada para essa engrenagem”.

PixBet

O senador ressaltou que a aeronave teria sido comercializada por Nelson Willians para o site de apostas online PixBet. “Tomo como exemplo o helicóptero PS-REH AirBus EC 130 T2, cujo uso foi cedido ao Nelson Willians e depois comercializado. Comercializado para quem? Atentai bem! PixBet. Conhecem? Olha lá, na asa do helicóptero [apontando para a imagem em telão], alguém conhece aquele símbolo que está na imagem? É o X, mas é o X da PixBet”. 

Rogério questionou Cavalcanti sobre a participação da bet. “Eu pergunto ao senhor Fernando Cavalcanti. O cliente que vossa senhoria levou ao escritório Nelson Willians é a PixBet? Vossa senhoria disse que teve uma grande fortuna, que não queria declinar quem foi o cliente levado. Eu pergunto: o lobista foi a PixBet? ou foi de outra empresa do ramo da jogatina? Porque mudou de nome, tem dois nomes”. 

O parlamentar reforçou o cruzamento de recursos. “Me parece que estamos diante de uma situação em que há o cruzamento de recursos derivados dessa operação criminosa de assalto aos aposentados e de recursos, que passaram por esse mesmo escritório, como instrumento de lavagem de dinheiro e remessa ao exterior. Porque as empresas [bets] têm ancoragem em Curaçau, fora do Brasil”. 

O senador alertou para a relação entre fraudes no INSS e sites de apostas online. “Daqui a pouco, nós vamos ter de fazer este cruzamento, porque me parece que está sendo juntada as duas coisas, as fraudes aos aposentados e o esquema da jogatina, que usou de estruturas e escritórios, para ocultar a lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio”.

Fernando Cavalcanti

Fernando Cavalcanti permaneceu em silêncio, ancorado por um habeas corpus, expedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ele só respondeu às perguntas do relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União Brasil – AL), no início da reunião. 

Cavalcanti é ex-sócio do advogado Nelson Willians, um dos investigados no esquema de desconto de mensalidades associativas não autorizadas, de aposentados e pensionistas do INSS. O empresário foi um dos alvos da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU).

Willians é dono de um dos escritórios de advocacia mais caros do país e se tornou conhecido por ostentar, em suas redes sociais, uma vida de luxo. Ele atuava com Maurício Camisotti e Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, apontados como os principais operadores do esquema de corrupção.

A PF apreendeu mais de 20 veículos de luxo pertencentes a Fernando Cavalcanti. Entre eles, uma Ferrari, avaliada em cerca de R$ 4,5 milhões, uma réplica de um carro de fórmula 1 e diversas motos. Só destes seriam mais de R$ 20 milhões de patrimônio. Diversos relógios de luxo e vinhos, avaliados em mais de R$ 7 milhões, também foram apreendidos na casa do empresário.

O relator da CPMI perguntou sobre a evolução patrimonial do depoente. Antes de integrar o escritório de Nelson Willians, Fernando Cavalcanti trabalhava, em 2017, na Assembleia Legislativa de São Paulo, como assessor de um parlamentar. Ele ganhava pouco mais de R$ 5 mil e declarava à Receita Federal um patrimônio de R$ 100 mil.

*Com informações da Agência Brasil

 

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