É por muita gente empregada a interjeição Vixe!, que denota surpresa, espanto, repulsa ou aborrecimento. Muitas das pessoas que a empregam, independente da religião ou crença que tenham, sequer têm noção de sua origem e seu significado original, menos ainda como era na origem sua forma escrita.
Essa interjeição, nesta forma como a conhecemos, tem sua origem na língua galega, língua falada ainda hoje no norte de Portugal e no noroeste da Espanha, na região da Galícia.
Seu valor é primariamente religioso, pois que a forma Vixe corresponde ao modo como os galegos (povo da Galícia) exprimem o nosso som “g”, fazendo-o como um “x” de “xale”. De modo que Vixe é a invocão equivalente a Virgem [Maria]! É claro, dissemos, que seu valor era originalmente religioso, mas essa conotação ficou tão somente em sua origem mais remota.
Como essa palavra assumiu essa roupagem com que ora a vemos tão galante e, diversamente, tão ordinariamente trajada? É isso que tentaremos deslindar neste nosso texto.
O som g entre duas vogais tinha uma tendência a desaparecer como se pode ver na palavra latina magistru que evoluiu para maestro e depois para mestre. Noutras línguas latinas, há supressão deste g intervocálico em situações várias. Por exemplo, no francês, a palavra latina augusto, em português, agosto, virou Août, que se lê ut.
Desses poucos exemplos podemos ver que havia uma consistência muito volátil neste som. É por isso que, na língua galega, o g no meio de duas vogais passou a soar x, como ainda hoje podemos escutar nos falantes dessa língua.
É interessante notar que aqui ocorreu um fenômeno muito similar àquele que foi abordado no texto anterior (veja: voce ja fez seu resistro), em que se tratou de um fenômeno não considerado pelos estudos dos metaplasmos (processos de passagem dos sons de uma língua para outra), que naquele caso chamei de despalatalização. Aqui o processo também não se acha nos manuais de gramática histórica.
Se considerarmos as palavras Virgem e Vixe das interjeições que nos interessam, veremos que o som do g é uma consoante palatal sonora, quer dizer, as cordas vocais vibram para produzi-lo (faça o teste: coloque sua mão na garganta e fale a palavra virgem e você verá que há vibração das ditas cordas); ao passo que para produzir vixe não há qualquer vibração das cordas vocais (faça o mesmo teste antes indicado para sentir a não vibração). O som “x” é classificado como consoante palatal surda ou desvozeada.
Esse processo não figura entre os metaplasmos, e, no entanto, o fenômeno existe. Vamos chamá-lo de dessonorização, mas poderíamos também nomeá-lo de ensurdecimento da consoante (os sons são classificados em sonoros ou surdos, orais ou nasais etc.).
A que se deve isso? Talvez seja obra de uma lei fonética conhecida como lei do menor esforço, srgundo a qual a comunidade de falantes buscará sempre a forma mais fácil e simples de falar os sons da língua.
Notemos que há ainda variantes outras para essa interjeição: vige, ixe e ige, com a queda do som “v” inicial.
Respostas de 2
Como repórter fotográfico pude confirmar o que havia ouvido numa roda de amigos. Que há nas torcidas de alagoas uma característica não comuns de outros estados. Pois quando numa jogada finalizada, um chute a gol raspa a trave para fora, ouvimos um – Uuuuu ! – da torcida uníssona explodir em campo. Em Alagoas é diferente, ouvimos da torcida em um só suspiro – Viiiixxi !
Uma língua se faz pelo uso não pela imposição louca das ideologias de grupos e governos.