A principal opositora do regime de Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chávez, na Venezuela, María Corina Machado, é a grande vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2025. O anúncio foi feito, pelo comitê norueguês, nesta sexta-feira (10). Impedida de concorrer às eleições presidenciais da Venezuela, em 2024, desde então, a líder democrata vive na clandestinidade em seu próprio país, devido às graves ameaças contra a sua vida.
O presidente do Comitê Nobel da Paz, Jorgen Watne Frydnes, que anunciou a vencedora, descreve-a como “uma mulher que mantém acesa a chama da democracia no meio de uma escuridão crescente”. Nascida em 1967, em Caracas, capital da Venezuela, ela é conhecida por sua postura firme e influente. Sempre em oposição ao regime de Nicolás Maduro, contra o Chavismo, ela denunciou a corrupção, a repressão e as violações de direitos humanos em seu país.
Em comunicado, a entidade justificou a decisão “pelo trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela e pela sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”. Além disso, Machado “uniu a oposição do seu país. Nunca vacilou na resistência à militarização da sociedade venezuelana. Tem sido firme no seu apoio a uma transição pacífica para a democracia”.
A venezuelana cumpre os três critérios estabelecidos no testamento de Alfred Nobel, idealizador do prêmio, para a seleção do Prêmio da Paz. “A Sra. Machado tem sido uma figura fundamental e unificadora numa oposição política que antes estava profundamente dividida – uma oposição que encontrou um terreno comum na exigência de eleições livres e um governo representativo”, descreve o comitê norueguês.
María Corina reagiu ao anúncio, afirmando que o prêmio é um passo a mais para a liberdade da Venezuela. Ela dedicou o prêmio ao povo venezuelano e ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Este imenso reconhecimento da luta de todos os venezuelanos é um impulso para completar nossa tarefa: alcançar a liberdade”, escreveu, na rede social X.
“Estamos no limiar da vitória, e hoje, mais do que nunca, contamos com o presidente Trump, o povo dos EUA, os povos da América Latina e as nações democráticas do mundo como nossos principais aliados para alcançar a liberdade e a democracia. Dedico este prêmio ao povo sofredor da Venezuela e ao presidente Trump por seu apoio decisivo à nossa causa!”, ressaltou a líder venezuelana.
Na clandestinidade desde 2024
Após ser questionado sobre a segurança de María Corina Machado, Frydnes disse que essa é uma discussão que o comitê tudo tem todos os anos, “especialmente quando a pessoa que recebe o prêmio está escondida devido a sérias ameaças à sua vida”. Para ele, o prêmio irá “apoiar a sua causa e não limitá-la”, com o reconhecimento da gravidade da situação da líder.
Logo após as eleições de 2024, María Corina desapareceu da vida pública e anunciou a decisão em carta publicada, pelo Wall Street Journal, com o título “Posso provar que Maduro foi derrotado”. Na carta, a líder oposicionista disse que teme pela própria vida. “Estou escrevendo isso escondida, temendo pela minha vida, minha liberdade e a dos meus compatriotas da ditadura liderada por Nicolás Maduro”.
No texto, Machado afirmou ter provas de que Edmundo González venceu as eleições e disse ser “inconcebível” que Maduro não aceite a derrota. Ela detalhou as medidas tomadas pelo governo, como a de impedi-la de concorrer, além de desqualificar seu substituto. Afirmou, ainda, que Maduro não esperava que as pessoas reagissem “como uma onda gigantesca”. “Minutos depois que os resultados começaram a chegar, confirmamos que nossa vitória era esmagadora”, ressaltou Corina.

Quem é María Corina Machado?
Nascida em Caracas, no dia 7 de outubro de 1967, Corina é uma engenheira industrial, professora e política venezuelana. Serviu como deputada da Assembleia Nacional da Venezuela, entre 2011 e 2014, quando teve seu mandato cassado pela mesa diretora, comandada, na época, por Diosdado Cabello. Foi também fundadora, vice-presidente e presidente da Súmate, organização civil de oposição ao governo venezuelano.
Ela apoiou o golpe de estado de 2002, que depôs, por 48 horas, o então presidente Hugo Chávez. Na ocasião, Pedro Carmona Estanga, diretor da principal entidade empresarial do país, proclamou-se presidente da Venezuela. Estanga assinou o decreto que fechava o Congresso Nacional, anulava a Constituição, dissolvia a Suprema Corte e suspendia garantias legais. Juntamente com outros integrantes da oposição venezuelana, Machado foi acusada de conspiração.
Durante os protestos na Venezuela em 2014, foi uma das principais organizadoras das manifestações contra o presidente Nicolás Maduro. Em junho de 2023, após começar a liderar as primárias da oposição, para a eleição presidencial, foi proibida de ocupar cargos públicos por 15 anos, pela Controladoria-Geral do país. Ao ficar de fora do pleito, deu seu apoio à campanha oposicionista de Edmundo González Urrutia.