Conhecendo Newcastle

Queridos Leitores,

Como o tempo passa rápido, a semana santa começa amanhã e já estamos na metade do mês quatro.

Para mim o mês de Abril significa primavera, vidas desabrochando, as cores surgindo, o sol esquentando, e apesar de que a aventura de hoje foi no outono de 2009, foi por causa do aniversário de 100 anos (100 primaveras ou outonos?) da tia de David que fizemos essa pequena aventura.

Eu fiquei encantada em saber que a tia de David estava completando 100 anos. Nunca tinha conhecido ninguém que chegou aos 100! Ela morava em Newcastle Upon Tyne, ou simplesmente Newcastle, e pelo fato de que David vendia antiguidades no mercado de Portobello aos sábados, não pudemos ir na festa que foi no sábado, mas fomos no domingo e voltamos na terça de manhã.

Espantou-me a feiura  da cidade, casas feias, sem flores, tudo muito sem graça. Aí vocês podem dizer ‘mas era outono’, mesmo assim… até David admitiu que é realmente uma cidade feia e ele me explicou que Newcastle foi uma cidade que nasceu da exploração do carvão e que a cidade foi construída para os trabalhadores, por isso essa cidade feia. Ele ria com minhas observações da feiura da cidade, até que fomos ao centro e tudo se transformou. Uma área modernizada, bem cuidada e vibrante.

Ele estacionou o carro e dali fomos andando até o Rio Tyne e esse foi o maior choque que tive. A velha ponte sobre o rio Tyne, do outro lado um prédio que na época era chamado de ‘The Sage’ (O Sábio), porém hoje é chamado de ‘Glasshouse International Centre for Music’, um projeto do todo-poderoso Norman Foster. Um pouco mais perto do centro a Ponte do Milênio de Gateshead, projeto do arquiteto Wilkinson Eyre, e um pouco mais adiante a Baltic Gallery of Modern Art, num prédio antigo, originalmente era um moinho, e  por sinal muito bonito! Essa galeria tem até um elevador panorâmico! E de repente Newcastle ficou bonita!

Na segunda bem cedo fomos visitar a tia centenária de David.  Eu me diverti bastante com ela, pois  falava com David como se ele ainda fosse um menino, e pelo que ela disse, muito traquina. Ela falava do tempo da guerra e que aquele asilo onde ela estava era um hospital, e ela tinha certeza que  ainda era enfermeira no hospital. Era tradição com a rainha, não  sei se o rei continua, que quem completasse 100 anos recebia um cartão dela, e foi com muito orgulho que ela nos mostrou seu cartão! Podíamos ver a felicidade dela de ter o sobrinho ali e saia dizendo para todos. Então a enfermeira veio avisar que daqui a pouco era hora do almoço, para nós um aviso para irmos embora, pois com a visita ela ficava agitada, então eles tinham que ter tempo para ela acalmar para comer… assim que a moça saiu ela se virou para nós dois e disse: ‘quando vocês forem embora vou dar uma bronca nela, eu que sou a chefe dela e sei bem a hora do meu almoço!’ Eu e David concordamos com ela… rsrs Realmente, até hoje fico emocionada em lembrar desse fato! Ela não ficou triste quando fomos, no mundo dela, ela só  guardava as alegrias!

Depois fomos para o centro, onde almoçamos e fomos olhar o The Sage por dentro, depois fomos na galeria, nesse meio tempo vimos a ponte do milênio, que é só para pedestres, levanta para passar um iate, e como os dias são curtos, vimos o por do sol e depois as luzes da ponte do milênio, que era um show a parte!

Depois de jantarmos voltamos para o hotel em que ficamos e vou dizer, nunca vi tanta gente esquisita em toda minha vida, parecia a extensão do hospício… eu e David demos boas risadas com aquele povo doido, mas notei que ele fechou a porta bem fechada… rsrs

Na terça de manhã saímos cedo pois eu ainda queria conhecer o Anjo do Norte, uma escultura gigante que tem em Newcastle. Mas nessas idas e vindas eu descobri que tudo que tem de bonito em Newcastle, não está em Newcastle, mas sim em Gateshead que é a cidade do outro lado do rio Tyne. Então, Newcastle ganhou o titulo de cidade feia de novo!

No nordeste da Inglaterra, em outubro é muito difícil de se ter um céu azul, mas mesmo assim, o Anjo do Norte não decepcionou. Uma escultura de metal de 20 metros de altura e 54 metros de asa. As costelas verticais no corpo e nas asas, são como um esqueleto externo que direciona o vento para a base da escultura fazendo com que ela resista a ventos de até 160km/h. Seu criador foi Antony Gormley e está ali naquele local desde 1998!

Foi uma viagem bem divertida. Eu gosto muito de arte e David também, eu tenho interesse por arquitetura, David é arquiteto, e para completar eu despertei o interesse dele em fotografia. No Natal daquele ano ele imprimiu uma de minhas fotos da velha ponte do rio Tyne e deu de presente para sua mãe que ficou muito emocionada pois ela nasceu ali, naquela cidade!

Nessa cidade insossa eu conheci uma mulher de 100 anos,  cheguei mais perto de David e me encantei com um rio e a luz mais bonita, que é a luz do outono. No frigir dos ovos não importa se a cidade é feia ou bonita, o importante são as lembranças que fazemos nessas cidades que as tornam mais bonitas.

Fiquem com as fotos e a poesia!

Tenham uma semana santa de paz!

Até a Próxima!

Aída

‘Anjo do Norte’
Que sorte,
De frente me abraça,
E minha vida desembaça!

O nordeste está nas minhas veias,
E é o que me faz forte,
No original tenho sereia ,
E no daqui tenho o Anjo do Norte!

Que também me encanta!

Aída
06/10/2020