Em confusão generalizada na partida final da Copa do Brasil, na noite de domingo (10), entre os clubes Atlético Mineiro (CAM) e Regatas Flamengo, na Arena MRV, em Belo Horizonte, o fotógrafo autônomo, Nuremberg José Maria, conhecido como Berg, teve três dedos fraturados, rompimento de tendões e cortes em seu pé direito. O calçado do profissional ficou destruído com o estouro de uma bomba. Além dos conflitos no estádio, o campo foi palco de invasões, arremessos de copos e outros objetos, bombas, laser direcionado aos olhos do goleiro Ross, tudo por parte da torcida do CAM.
Berg é um dos profissionais mais conhecidos da capital mineira, tem 67 anos de idade e está sempre presente em eventos esportivos. Após o incidente, o fotógrafo foi atendido e passou a noite no corredor do Hospital João XXIII, à espera de uma vaga de internação no Sistema Único de Saúde (SUS). Já pela manhã, foi transferido para o Hospital Maria Amélia Lins, onde ficou internado, na segunda-feira (11), na capital mineira. “O pessoal soltou umas quatro bombas em mim. Eu estava muito próximo da torcida. Não vou mais ao estádio. Minha família não queria que eu fosse. Agora é que não vão deixar mesmo. Estou com o meu tênis. Vou fazer um Boletim de Ocorrência. Guardei meu tênis para fazer um BO”, afirmou Berg, em entrevista à rádio Itatiaia.
No tumulto, o repórter fotográfico perdeu também os óculos, que lhe custaram R$ 600. Nuremberg é dono de uma agência que leva seu nome. Ele trabalhou, por mais de 10 anos, na BBC de Londres, na capital inglesa. Foi às Olimpíadas de Paris e cobriu praticamente todos os jogos dos clubes mineiros de futebol em 2024. Ao Globo Esporte, ponderou sobre o retorno aos campos de futebol. “Falei com minha esposa que não voltaria, mas ela falou que não, que é o que amo fazer, que não vai deixar. O médico me deu uma previsão de dois a três meses, que ficarei parado. Mas ‘tô muito assustado”, lamentou o profissional, aturdido.
O Flamengo foi o campeão da Copa do Brasil 2024. O time venceu o jogo de casa, da etapa final, por 3 a 1, no Maracanã, no domingo (3). E confirmou a vantagem ao derrotar o Atlético Mineiro por 1 a 0 neste domingo (10), na Arena MRV, em Belo Horizonte. O Rubro-Negro também foi vencedor do título nos anos de 1990, 2006, 2013 e 2022, conquistando, em 2024, a sua quinta Copa.
Investigação
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) instaurou inquérito policial para apurar o crime. “As diligências seguem em andamento, a cargo da Delegacia de Eventos e Proteção ao Turista, visando apurar as circunstâncias e a autoria do crime”, disse em nota a PCMG. Além de investigar um possível caso de racismo, perpetrado pela torcida do time mandante.
O árbitro Raphael Claus relatou na Súmula que as bombas foram arremessadas em direção ao gramado “aos 9 minutos, 49 minutos, 50 minutos e 52 minutos, vindo da arquibancada onde estava localizada a torcida mandante”. Também informou que os copos foram atirados por parte da torcida e denunciou tentativas de invasões no gramado. O Atlético-MG poderá perder dez mandos de campo, e a Arena MRV também poderá ficar interditada.
Solidariedade e Repúdio
Em pronunciamento, o clube lamentou a agressão ao fotógrafo. “O Clube Atlético Mineiro está ciente e lamenta profundamente o incidente envolvendo o fotógrafo Nuremberg José Maria durante a final da Copa do Brasil. O clube entrará em contato com o profissional e oferecerá toda a assistência possível para sua recuperação e seguirá colaborando com as autoridades para identificação dos culpados”, afirmou o CAM. Já a Federação Mineira de Futebol (FMF) se solidarizou com o fotógrafo. “A FMF se solidariza com o fotógrafo NUREMBERGUE JOSE MARIA, ferido por uma bomba no jogo da final da Copa do Brasil na Arena MRV, e deseja sua pronta recuperação”, disse.
A Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de Minas Gerais (ARFOC-MG) emitiu uma nota de repúdio.
“A ARFOC-MG vem a público expressar seu veemente repúdio aos acontecimentos na Arena MRV durante a partida entre Atlético-MG e Flamengo, válida pela final da Copa do Brasil. Mais uma vez os fotógrafos e todos demais profissionais de imprensa que estavam trabalhando se viram vítimas de atos violentos e covardes de torcedores do Atlético-MG. Todos, sem exceção, tiveram a integridade física ameaçada. Inclusive os seguranças do estádio.
Os associados da ARFOC-MG, ARFOCs Rio, São Paulo e os demais profissionais de imprensa acabaram atingidos por bombas, copos de cerveja, refrigerante e água lançados por torcedores. Sendo que um dos associados teve o banco quebrado por causa da explosão da bomba e equipamentos molhados. Outros fotógrafos relataram a mesma situação.
O caso mais grave aconteceu com um fotógrafo que acabou atingido por uma bomba que explodiu debaixo do seu pé. Teve que ser socorrido e levado para o Hospital João XXIII, onde passa por cirurgia, pois teve três dedos quebrados, rompimento dos tendões e cortes no pé.
A ARFOC-MG já havia relatado problemas dessa natureza para administração da Arena MRV, onde acertaram que medidas de segurança seriam implementadas. Enfim, a ARFOC-MG presta solidariedade a todos os seus associados e demais profissionais de imprensa (…)”.
